8º: FANTASMAS DO PASSADO

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Mais uma vez as rodas pararam, me deixando frente a casa que quase não reconheço como lar após uma única noite fora. Teseu toma o controle após eu pilotá-la até aqui, uma vez que pensei que não estava emocionalmente bem para tal. Depois do momento de fúria e medo frente ao hospital.

Desci e coloquei em suas mãos os capacetes.

— Tem certeza que está tudo bem? — indaguei o entregando. Acenou em positivo.

— Foi só um pequeno desgosto. Desculpe se te assustei. — O som do pequeno portão de madeira de sua casa atentou meu ouvido quanto se abriu e revelou o mesmo garoto da noite anterior. Acenou para nós e eu de volta, Teseu permaneceu apenas o olhando. — Quando vou te ver de novo, Eva? — Sua voz sempre branda e sensual, agora estava coberta em uma camada densa de tremor e temor.

— Pode vir me ver quando bem entender. Não que eu ache que não virá. Só me dê uma hora ou duas para terminar minha conversa com o Abner, se ainda tivermos algo a dizer — falei acariciando seus cabelos sedosos, os desfiando entre os dedos. Olhei de volta para o lado e vi o vulto escuro de uma garota surgindo do mesmo portão por onde seu amigo saiu, o da casa de Teseu. Uma garota de cabelos descoloridos, mas com as pontas lilás. Unhas longas e pintadas em preto, não poderia parecer mais gótica com lábios em um batom roxo, escuto e intenso e suas roupas pesadas e escuras, mas de maquiagem leve. Voltei os olhos para Teseu que a fitava com um olhar imerso em sua face, perdido, surpreso talvez.

— Moira? — indagou baixinho enquanto a via. A garota colocou um sorriso confiante no canto dos lábios e se aproximou a passos lentos, mas largos, chegando em um breve momento como se flutuasse pouco acima do chão. — O que faz aqui? — A voz de Teseu tempestuou trovejante quando ela chegou, chateado, amedrontado, confuso.

— E aí, boy — disse ela depositando seus braços sobre o guidão da motocicleta, se curvando. — Tentando fugir de mim?

— Como em achou? — indagou Teseu recuando.

— A Reg me contou — disse sem tirar o sorriso convencido da face.

— Está tudo bem? — Me aproximei, deixando minha mão sobre o ombro quase trêmulo de Teseu que se acalmou um pouco a meu toque.

A garota mordeu a unha do polegar e se levantou de sobre a moto. Deslizou os olhos por mim inteira antes de soltar outra palavra.

— Gostosa, admito — disse por fim em um tom debochado. — Mas a puta da Reg era mais. Eu sou ainda mais.

— Como?! — Minha voz saltitou a um tom mais estridente com suas palavras desafiadoras e seu olhar que se banha a desprezo.

O garoto de cabelos loiros e olhos verdes se aproximou em seguida e recebeu um olhar furioso de Teseu.

— Por que a recebeu, Richard?

— Quando eu cheguei ela já estava, eu juro.

— O bonitinho aqui não tem nada a ver com isso. Seus pais me deixaram entrar — disse dando de ombros. — A Reg morreu, você ficou sabendo, boy?

— Soube. — Suas palavras trêmulas me fizeram ter certeza que era sobre o telefonema que recebeu quando saímos do hospital, mas nada me diz o que tudo isso significa.

— Estão dizendo que ela se matou por sua causa — acrescentou a jovem. Uma corrente elétrica percorreu meus pés e alcançou meu estômago. Olhei para Teseu que me encarou de volta. — Não que ela seria a primeira garota que você ferra da cabeça, boy? — indagou fazendo um símbolo de arma com os dedos, apontando a própria cabeça.

— Moira! — Teseu trovejou sua voz uma vez mais, a garota recuou com um sorriso desdenhoso.

— Calma, calma. Eu não vim para guerrear, boy. Só quero te convencer a ir no enterro dela, aquela mulher foi parte importante de nossas vidas. Mesmo sendo uma vadia que mais merece estar naquele túmulo, ela merece meu respeito. Afinal, ela te teve antes de mim.

Eva O Fruto do Pecado (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora