10°: REJEITANDO O FRUTO

50 10 14
                                    


— Há! Há! Há!

Uma risada quase descontrolada enquanto me afasto. Devo admitir, foi divertido, mas a verdade é que isso deve acabar aqui.

— O que foi, Eva? — indagou o amigo te Teseu com olhos absortos em confusão.

— Me desculpa, é que você parecia estar realmente pensando que me enganava e foi tão divertido — falei me recuperando a falta de ar da risada.

— Do que está falando? Não houve uma palavra que disse que não foi verdade.

— Isso eu não posso afirmar, Richard — disse, me controlando. — Mas o que posso dizer é que sua tentativa de... Não sei, ficar comigo? Realmente não sei como você diria, mas foi bem engraçado.

— Eu novamente tenho que dizer...

— Para, sério. Você e o Teseu não são amigos, isso já ficou claro pra mim. Não sei o que há entre vocês, se é um tipo de rivalidade ou uma proximidade peculiar que seja, mas amigos eu posso dizer que não são. E você, Richard é fácil de se ler como a página de um livro recém impresso. — Voltei a me sentar no sofá e apontei na direção do corredor. — Por favor, saia, acho que já ouvi o suficiente.

— Acha que eu vim aqui apenas para mentir?

— Não estou interessada em saber.

— Eva, escuta...

— Ok, Richard, eu não queria dizer, mas está me obrigando. Mesmo se o Teseu não existisse, você não teria chance alguma comigo, quer dizer, você é bonito, admito, mas não tem nada que me interesse. — Cruzei as pernas e sobrepus as mãos sobre os joelhos. — Eu já escrevi sobre personagens como você e sinceramente, você é pequeno, mal serve para coadjuvante se colocado ao lado do Teseu. Suas palavras, sua simples existência não me abala em nada.

— Devia tomar cuidado com as palavras, Eva. Depois de tudo eu ainda sou bem mais forte que você... — Seus dedos estremeceram e cerraram em um punho, em sua testa algumas veias se formaram e sua pele se tornava mais avermelhada, erubescendo.

— Uma ameaça? — Dei de ombros. — Não sei o que é mais patético, sua ameaça ou você achar que vou ficar com medo de alguém como você — disse soltando o cabelo e os desfiando com os dedos. — Saia. — Me levantei. — Estou cansada, preciso de algum descanso antes de Teseu chegar, sei que entende. — Aproximei e o vi afastar alguns passos. — Admito que não sou tão adulta quanto poderia ou deveria, na maioria do tempo. Mas você, Richard, você não passa de uma criança magoada. Por quê? O que o Teseu te fez? Roubou sua namoradinha, ou algo assim? Aí você está vindo aqui para tentar devolver na mesma moeda?

— Meu interesse aqui não tira a validade das minhas palavras — falou com um olhar trêmulo e uma voz oscilante. Enfraquecendo sua postura de machão.

— Tudo bem, agora saia. — O garoto bufou pelas narinas como um touro raivoso e se virou, caminhando pesado para a porta. Passando por ela e acertando a madeira com força ao fechá-la.

Respirei fundo após trancar a porta, antes de caminhar na direção das escadas, rumo ao quarto.

Não sei o quanto daquela história deve ser verdade, o fato é que tem algo oculto. Mas isso, essa situação que acabei de experimentar seria bem diferente com uma versão minha de dias atrás. A verdade é que apenas de saber que em algum lugar lá fora, Teseu está esperando voltar e me encontrar, todas as minhas forças são renovadas a cada segundo.

A forma que me beijou antes de ir é a mais profunda marca disso.

Eu não o conheço, não o suficiente para dizer que tudo que Richard disse é mentira, mas se vou querer saber mais, preciso apenas me manter focada e não me abalar. Novamente, uma outra versão minha não seria tão calma.

Eva O Fruto do Pecado (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora