capítulo 9 ep:5

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(Ryan):"Os pais de meu pai."

(Millie):"Oh..."

Ele sorri de um jeito estranho.

(Ryan):"Eu não considero essas pessoas como minha família."

Eu contraio a testa para mostrar minha incompreensão. O que houve para que ele fale deles dessa forma tão rude? Ele balança a cabeça e fala baixo.

(Ryan):"Podemos dizer, senhorita Olsen, que você sabe me fazer falar!"

Eu levanto os ombros com um ar de inocente. Eu não quero pressioná-lo. Eu gosto de ouvi-lo, só isso. E se eu puder aliviar um pouco a sua dor, estarei contente. Ele respira bem fundo e joga um galho no mar.

(Ryan):"Eu precisei de muitos anos para entender... Eu precisei de tempo para viver com isso."

Sua voz é fraca, quase inaudível. Meu coração fica bem apertado.

(Ryan):"Se minha mãe pudesse ter pagado os tratamentos, as coisas poderiam ter sido diferentes."

(Millie):"Como assim? Ela não teve cuidados?"

(Ryan):"Ela já tinha dificuldades de conseguir recursos para criar eu e a Jenny. Agora, pagar um tratamento super caro para se cuidar, não era sua prioridade. Os pais do meu pai, que tinham muito dinheiro, não a viam como nada mais que alguém que teve relação com seu filho só para diverti-lo. Não levantaram nem o dedo mindinho para ajudá-la."

Que horror...! Eu tento não me afetar pelo nó em minha garganta. O Ryan fica em silêncio por um instante, olhando os reflexos do sol sobre a água calma do mar. Eu não poderia imaginar que ele tenha tido um passado tão duro. Eu não sei mais se quero continuar com essa conversa.

(Ryan):"Minha mãe sempre nos escondeu tudo, é claro... Ela queria que pensássemos que estava tudo bem. Sua prioridade sempre foi nos proteger. A mãe do meu pai acabou se sentindo culpada e convenceu seu marido acolher eu e a Jenny. A decisão dessa mulher fez com que ela fosse muito repreendida pelo seu marido. Assim como pelas pessoas de seu círculo social... Ele cedeu, afinal, tínhamos o seu sangue... E a crueldade deles não chegou a separar eu e a Jenny."

Eu tenho a impressão de ouvir uma daquelas histórias terríveis que nossos pais nos contam enquanto estamos quentinhos em seus braços.

(Ryan):"O carinho para eles era uma coisa de outro mundo. E a Jenny ainda sofreu bem mais do que eu." 

Eu abaixo meu olhar. Isso é uma coisa que pode explicar bem essa garota... Ela só confia em uma pessoa: seu irmão.
Entre seu pai que a abandonou e avós adotivos nada carinhosos... Será que eu posso mesmo pensar mal sobre ela...?

(Ryan):"Nós recebemos uma educação bem restrita, do jeito antigo. A vantagem é que frequentei as melhores escolas do país e que amadureci bem mais rápido que os garotos de minha idade."

(Para tudo há um tempo de qualquer forma...)

(Millie):"Seus avós... É... Eles nunca se desculparam?"

Ele dá uma risada, como se fosse algo totalmente improvável. Essa reação me surpreende. Eu não acho que o ser humano seja naturalmente maldoso. E eu acho que as mesmas pessoas, mesmo as piores, podem se arrepender um dia ou outro.

(Ryan):"Na morte deles, eu fui o herdeiro. Meu avô deixou uma carta deixando generosamente, toda sua fortuna para mim..."

Seus olhos se fixam nos meus e a dor que vejo em seu olhar me doem no coração.

(Ryan):"Como se seu dinheiro pudesse comprar tudo!"

Ele se vira de novo na direção das ondas, e sua expressão ainda é muito séria.

(Ryan):"Eu nunca vou perdoá-lo!"

Que triste que esse homem tenha dado esse pequeno passo na direção dele tão tarde... Sem dúvida ele estava bem confiante no Ryan para deixar todos os seus bens.

(Ryan):"Enfim... A morte deles pelo menos, serviu para alguma coisa. Com a herança, eu consegui juntar dinheiro suficiente para montar minha sociedade. Eu jurei montar um império e ajudar os necessitados."

(Millie):"Para que outras crianças não passem pelo que você passou?"

Ele fica em silêncio. Me sinto mal. Muito mal por ele.

(Millie):"Eu tenho certeza que... Que sua mãe estaria muito orgulhosa do homem que você se tornou..."

(Ryan):"Oh? Está falando do canalha multi-bilionário que trata as mulheres como mercadoria?"

Seu olhar com brilho malicioso acaba de voltar. Nunca está muito longe! E assim eu entendo que acabaram-se as confidências. 

(Millie):"Eu não vou voltar atrás com minha palavra. Você as mereceu."

(Ryan):"Você tem razão. Eu preciso mesmo ter mais sensibilidade."

𝐈𝐒 𝐈𝐓 𝐋𝐎𝐕𝐄, Ryan CarterOnde histórias criam vida. Descubra agora