ㅡ 27 de junho de 1993.

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Hoje é domingo, deve ser por volta das 11 da manhã e eu ainda estou deitado na cama, de ressaca e escrevendo nesse diário estúpido.

A festa foi louca. Eu nunca pensei que uma festa do interior poderia ser tão boa, mas foi. Bom, pelo menos no início foi chata, ela estava acontecendo na praça do centro da vila, vários conhecidos estavam por lá, filhos dos filhos dos amigos de Nona, todos se conheciam, eu era como o único novato por lá. Richard deve vir para cá todo ano pois todos já sabem o seu nome, como se ele fosse um evento que acontece uma vez por ano, como se ele fosse o próprio verão em forma de pessoa.

Mandy também estava lá, talvez a única jovem a não ingerir nada alcoólico. E não sei em qual momento exato eu comecei a beber, mas eu bebi mais do que já havia bebido em toda a minha vida, talvez pelo fato de meu pai não se importar caso eu volte bêbado para casa.

Pensei que não conseguiria, mas eu me lembro de boa parte das coisas. Me lembro de ver Richard dançando com as pessoas, ele também parecia estar bêbado, mas ainda assim consciente. Ele veio até mim, pegou nas minhas mãos e me puxou para dançar, ele não parecia ser o mesmo garoto que passou tardes lendo livros comigo, era engraçado. Até o momento que ele me beijou. Claro que ele não me beijou em frente à todos. 

Primeiro, nós estávamos sentados num dos bancos, tínhamos garrafas de cerveja conosco, ele me perguntou se eu queria beijar alguma menina naquela noite, ele disse que me arranjaria qualquer uma que eu quisesse, e eu sei que ele era capaz. Eu respondi que não, ele perguntou o porquê, eu disse que era gay. Sem mais e sem menos, essas palavras nunca deslizaram de minha boca tão facilmente, talvez fosse o álcool no meu sangue, ou talvez fosse a segurança que Richie me passava. 

Segundo, ele olhou para mim e riu, eu pensei que tinha estragado tudo e que minha amizade com ele tivesse ido por água abaixo. Pensei que ele espalharia para todos e que minha viagem tivesse acabado ali mesmo. Mas ele colocou sua mão sobre a minha que estava repousada no banco, discretamente. Se esticou e perguntou no meu ouvido: “Então você não se importaria caso eu te beijasse?”.

Terceiro, eu não tive tempo de pensar numa resposta elaborada, mas talvez minha cara denunciasse o quão eu queria aquele beijo. Ele me fez largar minha garrafa de cerveja e me puxou pela mão para longe dali. Não me lembro em quais dos becos nós fomos parar, mas eu me lembro da sensação quando ele me colocou contra a parede para me beijar. Me lembro de enfiar meus dedos em seus cabelos, me lembro da forma que sua mão apertou minha cintura e desceu para outros lugares. Nunca senti meu corpo esquentar daquela forma com outra pessoa.

Quarto, depois da minha boca estar quase que dormente de tanto beijá-lo, andamos lado a lado para casa. Seu braço ao redor do meu pescoço, o meu ao redor da sua cintura. Ele se despediu de mim com um beijo na têmpora e entrou cambaleando dentro de sua casa. Eu também entrei assim na minha, com certeza alguém deve ter me ouvido chegar, mas ninguém quis checar se era realmente eu ou algum invasor. Nada acontece nessa cidade, então apenas me joguei na minha cama e apaguei, como se tudo tivesse sido um sonho. A boca dele era um sonho.

Esses foram os quatro passos que me fizeram perceber que estava apaixonado por Richard. Nunca me apaixonei tão rápido e tão demasiadamente por alguém.

Acabei de decidir que vou passar o resto do dia trancado em casa.

1993, I miss you - ReddieOnde histórias criam vida. Descubra agora