The Beginning

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O som da máquina de batimentos cardíacos, o incômodo no nariz, as dores no rosto. Droga!.

Eu tentava abrir os olhos, mas tudo era escuridão. Eu sentia o cheiro do mar e a garganta seca. Os socos, os pontapés, as vozes e os rostos daqueles homens, tudo daquele dia, era a única coisa que se passava na imensidão escura da minha mente.

Era dia?Era noite?Eu não podia saber. Não sabia se hoje era três, quatro, vinte e três, trinta e um do mês de Abril, Setembro, Janeiro, eu não sabia.

Ouvi o som de uma porta ao meu lado direito, meu coração começou a bater rápido sendo contado na máquina.

-Lauren?. -Ouvi aquele tom de voz, fazendo meus olhos encherem de lágrimas.

-Mestre. -Pronunciei fraca e sôfrega.

Ouvi o som dos seus passos, sabia que ele usava suas botas de serviço e com certeza estava de uniforme. Meu choro fazia com que meu lábio inferior fosse sugado para entre meus dentes.

-Oh minha filha. -Senti sua mão em meus cabelos e foi como chegar em casa depois de um longe dia de trabalho. -Você vai ficar bem, eu sei disso. -Sua voz estava mais doce que o normal e ao sentir seus lábios tocar minha testa, senti que algo estava errado.

-General, não consigo abrir meus olhos. -Falei baixo e senti sua mão, fria, na minha.

-Um enfermeiro está trazendo algo para você comer, sabe como é a comida do hospital. -Ele riu, desconversando.

-Certo, mas ainda não consigo abrir os olhos. -Silêncio.

Eu não sabia o que aquele silêncio, queria dizer. Mas sentia no fundo da alma, que alguma coisa de errado tinha acontecido comigo.

-Você foi uma peça excelente na missão, Lauren. -Ele disse, ainda calmo.

-Não me venha falar de trabalho agora. -Falei um pouco irritada e ouvi seu suspiro fundo. -Posso saber por quê não consigo abrir meus olhos?. -Insisti tentando manter a calma, afinal, havia acabado de acordar.

-Foi um... -A porta foi aberta interrompendo sua fala e eu respirei fundo.

-Boa tarde Comandante Jauregui, General Hamilton. -A voz de um homem foi o som que ouvi. -Vim trazer a sua comida senhorita. -Uns sons como talheres e plástico foi o que ouvi.

-Você é o enfermeiro?. -Perguntei rude e o general apertou minha mão. -Tenho perguntas que precisam de respostas.

-Eu não posso te dar nenhuma informação no momento Comandante, só o médico responsável pelo seu caso, pode te transferir informações, eu sou somente o carinha da lanchonete. -Ele deu uma leve risada e então a porta fechou me fazendo rosnar.

-Mestre. -Rosnei implorando por respostas. -Eu preciso. -Ele suspirou me fazendo sentir calafrios. -Está me deixando aflita, caralho.

-Ei. -Ele me repreendeu me fazendo suspirar. -Repita novamente e você tomará uns bons tapas mocinha. -Dei risada lembrando que era dessa maneira que ele falava comigo na infância.

-Olha, você como mais ninguém, sabe que sou extremamente ansiosa General. -Ele tocou meus cabelos, me fazendo sorrir levemente.

-Filha, o médico vai logo te atender, você terá todas as suas respostas, sendo elas positivas, ou não. -Meu coração bateu rápido.

-O que quis dizer com isso?Está me deixando aflita. -Ele riu me fazendo jogar a cabeça para trás.

-Fique em paz Lauren, que droga. -Ele rosnou e caminhou para algum lugar à minha direita.

Era estranho como os meus sentidos estavam aguçados, eu conseguia distinguir de onde o som vinha e conseguia sentir o cheiro das coisas com facilidade.

-Eu quero. -Falei baixo e ouvi o som das borrachas do coturno do General.

-Desculpe?.

-Café, eu quero. -Ouvi sua risada rouca e entortei a boca.

-Incrível a maneira como você sabe que estou pegando café. -Dei uma leve risada e respirei fundo.

-O cheiro, é inconfundível. -Ele confirmou anasalado e então o som de borracha foi ouvido por mim novamente, junto com o som da porta se abrindo.

-Comandante Lauren Jauregui, General Theodore Hamilton. -Uma voz esganiçada e grossa foi ouvida por mim. -Sou Terry Hickson, médico responsável pela cirurgia da Srta. Jauregui. -Ouvi sua voz se aproximando de acordo com sua fala.

-Muito pra...

-Cirurgia?. -Questionei sentindo-me desesperada.

-Você não sabe do seu quadro comandante?. -Ele questionou e eu ri irônica.

-Se eu soubesse, não estava perguntando. -Fui rude e recebi um beliscão do General.

-Perdoe-a, ela odeia ficar sem saber das coisas e quanto mais ela sabe que tem alguma coisa, ela não descansa. -O general disse baixinho e eu fingi não ouvir.

-Poderia nos dar licença um minuto?. -Ele pediu baixo e eu ouvi o som da respiração pesada do general.

-Certo, eu volto em cinco minutos. -Ele deu um tapinha em minha perna e com os sons da borracha de seus coturnos e o bater da porta, sabia que ele havia me deixado sozinha com o Dr. Hickson.

-Ok, comandante Jauregui, eu tenho quarenta e oito anos e desde o início da minha carreira, eu odeio dar esse tipo de notícia. -Minhas mãos soavam e ele parecia ser do tipo de pessoa super direta.

-Notícias ruins?. -Questionei temendo a resposta que estava por vir.

-Notícia ruim e notícia boa. -Ele disse mexendo em algumas coisas à minha esquerda. -A notícia boa, é que você terá alta, amanhã pela manhã.

-Isso é ótimo, muito, muito bom. -Falei animada. -Mas o que aconteceu comigo, exatamente?Você falou sobre cirurgia, eu perdi algum órgão?. -Ele riu do meu desespero e tocou minha mão, a dele estava quente, ou a minha que estava fria.

-Você tomou uma surra das feias. -Assenti. -Quebrou algumas costelas, perdeu muito sangue, uma das costelas quebradas perfurou o seu pulmão.

-Puta que pariu, eu tenho uma cicatriz abaixo do peito agora?. -Sua mão começou a suar e eu afastei minha mão levemente da sua. -E o que?E o que mais?. -Silêncio.

Mais uma vez, aquele silêncio me incomodava de uma forma enorme, como eu poderia ter esperança de que era coisa boa, se o silêncio nunca era bom.

-Você perdeu a visão. -Aquela frase me pegou em cheio.

Não foi uma simples frase, não foi uma simples notícia de que você havia perdido um rim, ou parte de um membro. Eu tinha perdido a minha visão, o meu poder de ver o mundo, eu tinha perdido as cores.

-O q-que?. -Questionei confusa, não podia me convencer que aquilo era verdade.

-Os pontapés foram certeiros e poderiam ter te matado, felizmente só atingiu o nervo óptico, fazendo assim, você perder a visão.

-Felizmente?Felizmente pra quem?. -Gritei rudemente. -Felizmente pra você?Que vai ver a porra da sua esposa quando chegar em casa?Ou felizmente pra mim?Que não vou poder socar essa sua cara de idiota?. -Senti mãos fortes segurar meus pulsos e eu sentia o choro se formar em minha garganta.

-Ei, se acalma Lauren, se acalma por favor. -O general tentava me acalmar, segurando-me com força e eu me debatia em seus braços.

Um flashback da minha infância veio rapidamente naquela escuridão. O dia em que eu perdi meu pai e fui amparada pelas mesmas mãos que me seguravam naquele momento.

-O que aconteceu comigo?. -Balbuciei choramingando, sentindo o calor dos braços do general, meu pai de criação.

-Lauren...Eu sinto muito. -Ele beijou minha cabeça e eu me permiti chorar.

Eu havia perdido a minha visão, para mim, eu havia perdido tudo.

ℬℯ𝓈𝓉 𝒲𝒶𝓎 𝒯ℴ ℒℴ𝓋ℯOnde histórias criam vida. Descubra agora