Capítulo III - A Era do Gelo

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O filho do sr. Crow não era tão assustador quanto o pai, mas também tinha olheiras meio roxas e era pouca coisa mais alto que eu. Tinha um porte atlético e cabelos castanho-claros, com olhos também da mesma cor.

"Vamos todos fazer uma roda mais perto aqui pra eu falar um pouco sobre o passeio e comentar algumas regras, ok? Podem ir chegando, não sejam tímidos! Passaremos mais de 10h juntos, é bom nos conhecermos e, porque não, confiarmos um pouco uns nos outros, hein?"

Os outros chegaram e eu notei que James permaneceu atrás de todos, sem fazer questão de se enturmar, como aparentemente tinha tentado na mesa, alguns minutos antes. Não pude deixar de pensar que parte era culpa minha... Eu e minha boca gigante, que sempre fala antes de pensar... Mas se havia algo que aprendi com esse meu jeito é que nada se pode fazer das palavras que já saíram, só seguir em frente e não ficar remoendo.

O guia se apresentou, seu nome era John e ele alegava ter nascido ali, conhecendo desde jovem todas as partes da montanha e seus segredos. Como eles eram uma das pousadas mais distantes, deveríamos sempre ter cuidado ao caminhar para não ficar sozinhos na floresta, pois ela era rica em fauna selvagem e nós poderíamos ficar numa situação não muito favorável.

"Não que eu esteja dizendo que vamos encontrar um urso ou coisa assim, mas podemos nos deparar com algum carcaju ou alce e eles podem se assustar e reagir de modo mais territorialista, ok?"

"Existem muitos animais noturnos por aqui, John?" - perguntou a outra mulher do grupo.

"Temos desde aves, roedores e inclusive lobos, senhora... Por que a pergunta?"

"Pelo som que ouvimos ontem à noite! Parece que algum lobo caçou alguma presa ontem..." - e alguns rapazes comentaram baixinho que também haviam se assustado.

"Eu só ouvi sobre esse som até agora, senhora... Ele não foi suficiente pra me acordar. Eu acho que não há porque se preocuparem. Com certeza, essas matas são bem movimentadas à noite..." - e sorriu de lado, voltando a explicar nosso trajeto e, ao que parece, colocando uma pedra sobre o assunto.

A trupe aventureira era então composta por: Ana, Noel e Jacob, amigos da faculdade de administração e canadenses que resolveram conhecer as Rochosas antes de partir para a vida empresarial; Niki, um austríaco, muito introvertido que desejava encontrar algum animal selvagem e viver pra contar a história na sua cidade; eu e James, que não falou muito sobre si, apenas que era canadense e que já conhecia as Rochosas e estava com "saudades" -e ao usar essa palavra olhou exatamente para mim, com um sorriso enigmático.

John pediu para entrarmos na van que ele viria em seguida. Com a ajuda do pai, levaram um galão de água fresca para a parte de trás e duas espingardas, explicando que elas eram necessárias para afastar algum animal mais arredio. Como no Brasil não temos essa vivência com as armas, isso me chocou um pouco, mas eu jurei para mim que nada ia atrapalhar essas férias e, portanto, soltei um "seja o que Deus quiser!" e esqueci.

Como a van devia ter uns 15 lugares, todos puderam se sentar perto das janelas, com Niki buscando o lugar mais distante das pessoas, os três amigos bem próximos e eu na parte do centro da van, com James na ponta oposta.

Foi explicado que iríamos uns 15 minutos de van e de lá, a pé até uma das encostas, numa escalada à qual não sabia se conseguiria realizar, pelo meu sedentarismo crônico... Mas eu tentaria e explicaria depois se não fosse possível continuar com o grupo. Apesar do guia ter dito para nunca ficar sozinho na floresta, nada impedia que eu pudesse esperar em algum ponto de retorno deles, o que eu não queria era atrasá-los ou, pior ainda, antecipar nosso retorno! De quando em quando John avisava sobre alguma curiosidade do caminho e, quando avisou que os últimos 6 minutos seriam de uma incrível floresta de pinheiros e a paisagem começou a ficar sempre igual, resolvi abrir minha mochila e beber uma água, recostar um pouco a cabeça no banco e me preparar psicologicamente pra caminhar.

Meu Encontro com o WolverineOnde histórias criam vida. Descubra agora