Capítulo VII - E esse sou eu

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Ele caminhou mais pausadamente até onde eu estava, trazendo duas xícaras com a bebida e, provavelmente, imaginando quais palavras ia pronunciar. Assim que estendeu uma das xícaras para mim, puxou um dos "puffs" de modo a ficar sentado na minha frente.

"'cê sempre teve essa intuição "afiada" e esse comportamento que -na maioria das vezes- é confundido pelos outros como "permissibilidade"? - olhando-me diretamente e me fazendo parar um pouco a respiração, antes de questionar:

"Não imaginava que essa conversa seria sobre mim... Mas vamos lá: na minha crença espiritual isso é chamado de empatia e, bem, desde que me entendo por gente eu a tive sim... E meu comportamento já me trouxe -como você pôde presenciar- muitos problemas, mas nunca um tão "cabeludo" assim..." - tomei um gole do cappuccino e tive que demonstrar o quanto aquilo estava bom, com um sonoro "hum" e uma cheirada mais profunda dentro da xícara.

"Na verdade, não é só sobre você, saca?... Esse tipo de "habilidade" que parece normal, ou sem importância mas que compõe nossa vida é aquilo que nós chamamos de "super humano"" - ele também tomou um gole da sua bebida.

""nós" quem?..." - eu questionei, levantando uma sobrancelha e não acreditando naquela ladainha...

"A organização que eu trabalho, Li. A mesma que foi usada pra alavancar o termo "mutante", manja? Eu também tenho algo de "super humano" e fiquei muito surpreso ao, no primeiro momento que nos encontramos, 'cê ter aludido a algo que fazia sentido total e, algumas horas depois, ter me chamado de "super herói", não que eu me veja assim, mas é desse modo que nos pintaram nos "comics", né?" - dando um último gole maior e apoiando a xícara no chão, esperando alguma reação minha.

"Está me dizendo que você é um mutante, o mesmo que tem esqueleto de adamantium e que se chama Wolverine? Está tirando um sarro da minha cara porque eu disse que gostava dele, é isso?!" - apoiando a xícara no chão também, mas levantando o corpo e me virando pra porta. "Eu não sei qual a graça doentia de "brincar" com algo assim, sr. James, mas eu estou indo embora, não vou ficar aqui pra ver, ok?"

Ele também se levanta, sem fazer menção de me impedir, mas andando atrás de mim e dizendo "Adamantium não existe, guria! Foi um metal inventado pra HQ e tu sabe disso... Pensa no mais básico, pensa nas possibilidades, vai?... Me dá uma chance!" - e parando de me seguir ele completa: "Por que eu teria todo o trabalho de te apoiar e defender pra depois sacanear assim contigo? Não é lógico, né?"

Aquelas últimas palavras chamaram minha atenção. "pensa no básico"

"O básico que eu consigo pensar são sentidos super aguçados, capacidade de se curar mais rápido ou até mesmo garras de osso, você tem algum desses fatores, sr. James? E se tiver, por que o fato de eu saber seria "crucial""? - parei de ir para a porta, voltando meu corpo na direção dele, sem contudo me mover e cruzando os braços.

"Bom, os dois primeiros itens são meio difíceis de provar, né? Eu poderia dizer que ainda tem um pouco de cheiro de lavanda em você; que você balbuciou palavras de agradecimento enquanto dormia no seu quarto, mas percebe que te deixariam na mesma incredulidade, né? Pois são coisas que eu poderia ter conseguido por outros meios, ou mesmo inventado; agora... As garras de osso são algo que eu posso mostrar pra você, se estiver pronta pra ver. O que me diz?" - apontando novamente pro sofá e virando-se na direção do "puff".

A parte da lavanda me surpreendeu, mas como ele disse, o uso do banheiro é coletivo e os sais de banho estão lá, pra todo mundo ver. Se eu falo dormindo, jamais poderei saber, a não ser acreditar na palavra dele. Agora, a curiosidade que me preencheu a alma quando ele comentou das garras, foi quase como um imã potentíssimo que me fez descruzar os braços caminhar na direção do sofá, sem esperar um segundo convite.

Meu Encontro com o WolverineOnde histórias criam vida. Descubra agora