Capítulo XII - "And the winner is..."

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O local era dividido em bar e pista de dança, no primeiro tinham várias mesas e um balcão "infinito", com muitas pessoas sentadas e muitos copos de cerveja. Ao transpassar o umbral várias pessoas notaram e trocaram olhares. Os que estavam em companhia comentaram coisas que não consegui discernir. Numa hora dessas era muito bom ter audição apurada, ou não... Os sentimentos que me assaltaram eram de animosidade, de ciúmes, de paixão, de pena, mesclados ao cheiro forte da cerveja. Finalmente consegui vislumbrar uma cadeira livre no balcão e rumei para ela, sendo abordada por um "barman" assim que sentei: "O que vai querer?", "Uma cerveja, por favor" - respondi para não destoar da maioria e, mesmo que não a bebesse, ia aproveitar pra segurar o copo friozinho nas mãos.

De onde estava via a parte das mesas, a pista de dança e a banda que tocava animadamente. Minhas pernas já estavam no ritmo sem que eu percebesse e só notei isso quando vi James entrar e acenar com a cabeça e a boca do tipo "não acredito, olha pra você!" e ao me analisar parei de balançar o pé. Ele entrou e começou a caminhar entre as mesas, sentindo sutilmente os cheiros e checando o rosto das pessoas. De vez em quando olhava para a pista de dança e batia uma das mãos na coxa, no ritmo da música. Eu ria baixinho e aí ele olhava pra mim, com ar de riso e reprovação, numa das vezes ele tentou fazer sinal com a outra mão para que eu parasse de olhar pra ele, ao que eu arregalei os olhos, dando a entender que a "ficha tinha caído" e me virei no balcão, dando um levíssimo gole na cerveja. Fiz uma careta velada e pensei em como aquilo era ruim!!

Depois de percorrer todo o salão, cerca de uma hora e meia, indo até mesmo na toalete, James pediu para Rosie me informar que eu já podia encontrá-lo lá fora. Nenhum dos cheiros estava perto de lembrar nosso alvo.

Saí em seguida ao anúncio, ele estava do outro lado da rua me esperando:

"A gente pensa que conhece as pessoas, né, dona Liura. 'cê nasceu pra esse mundo country. 'cê tem ritmo e presença." - comentava entre uma risada e outra, até curvando o dorso.

"Eu sou uma pessoa eclética mesmo... Confesso que não seria tão difícil de me encaixar, mas acontece que não tem isso no Brasil, graças a Alá!"

"Vem, vamos pro próximo. 'cê vai sentir saudades disso tudo no teu país... Tenta não dar tanto na cara que estamos juntos no próximo bar, ok? Dessa vez eu entro primeiro."

"Mas você não acha que numa cidade tão pequena dessas as pessoas não conectem o fato de dois estrangeiros entrarem, mesmo que com alguma distância de tempo, num bar?"

"É que eu não sou estrangeiro. Conheço todos os funcionários do próximo bar que vamos entrar. Eu trouxe muito turista aqui quando era guia... Além do mais, muitos 'tão bêbados demais pra fazerem conexões!"

"Sempre contava a mesma história pra elas?" - deixando transparecer uma ponta de ciúmes.

"Ei! Que ciumenta... Eu não ando por aí mostrando as garras pra qualquer uma não, senhorita... Aliás, fazia tempo que não expunha pra alguém fora da escola." - rindo da situação e depois ficando introspectivo.

Beijou minha mão direita e saiu em disparada para o próximo bar. Quando entrei ele ainda cumprimentava os "barmans" e algumas garçonetes, tenho quase certeza de que deixou essas pro final só pra se mostrar... Elas estavam bem animadas com a presença dele. O que será que ele tinha, hein? Era aquele odor de almíscar? Ou o sorriso aberto e genuíno? Podia ser também o físico de alguém que curte malhar, mas sem os exageros dos gibis... Vai saber!

Sentei-me novamente no balcão, pedi por outra cerva e fiz o mesmo panorâmico que no outro bar, dessa vez evitando olhar muito para James e focando na dança, o ritmo da música era o mesmo e a disposição dos móveis também. Quando me dei por mim estava, novamente, batendo a mão na coxa no ritmo da música! "Maldição", soltei em português e o homem que estava do meu lado esticou o pescoço para olhar no meu rosto, em inglês ele perguntou se eu não era canadense; começamos a conversar e eu fui elogiada pelo meu inglês, pela minha roupa e, por fim, pelos meus olhos -que, sinceramente, não têm nada de especial... São castanho claro, com poucos cílios e eu os considero pequenos para meu rosto- comentando que tinha notado minha chegada e seu eu poderia ceder a próxima dança a ele, procurei por James desesperadamente e não encontrei; agradeci, mas tinha que recusar por não saber dançar, já que não havia esse tipo de entretenimento no meu país. Ele aceitou a recusa, saindo em seguida do meu lado e, em poucos minutos, o aviso de Rosie voltou a soar em minha mente. Já podia sair pois nesse também James não havia encontrado nenhuma pista.

Meu Encontro com o WolverineOnde histórias criam vida. Descubra agora