Capítulo V - Propostas e aceites

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Ao chegar na van o choro tinha se transformado em ódio e eu queria quebrar aquele ciclo, queria dizer pra mim mesma que o ódio só faz mal pra quem odeia, só que outra parte minha retrucava que quem dizia isso não tinha passado por nada parecido... Só podia.

James havia ficado quieto o caminho inteiro, eu não sabia, mas na mente dele só vinha a preocupação das palavras de John de que aquilo não ia ficar assim, ia ter troco...

"Olha... Não sei se é o momento certo pra falar disso, mas tô preocupado com o que ele possa fazer pra não deixar isso barato... é Liura, né?" - ele questionava, colocando uma das mãos na nuca e franzindo a boca, enquanto remoía algo mais.

"Isso, o nome é Liura, mas eu sei que em inglês é difícil de pronunciar, então pode ser só Li... Eu estou com problemas pra administrar meu ódio no momento, James... Não consigo pensar claramente e elaborar uma resposta pra ti, desculpe..." - e passei a sacudir meu corpo para frente e para trás enquanto dizia isso.

"Eu sei que parece loucura, mas eu posso ajudar. Entendo alguma coisa sobre raiva e sei que é melhor sair dessa, Li... Também posso ajudar de outras maneiras. Vai parecer estranho, eu sei, mas posso oferecer a minha cama pra você passar a noite e eu durmo num sofá que tem no meu quarto, assim você não estaria onde ele poderia querer ir pra se vingar, sei lá... O que me diz?" - com os cotovelos apoiados nos joelhos e esperando genuinamente uma resposta.

"A ajuda pode vir antes, James?" - foi a única coisa que consegui responder, fechando os olhos em seguida.

"Opa! Claro! Nunca passei por uma situação como a sua, até me questiono se não causei situações como a sua durante minha longa vida..." - parando para relembrar algumas ações...

"Ô! Falou o Matusalém... Se você consegue se questionar sobre isso e ainda tem dúvidas, acho muito provável que não tenha sido o causador de uma situação de estupro, cara. Além do mais, quem vive de passado é museu! "Go forward"!" - finalmente abrindo o olho e faiscando de raiva.

"'cê pode viver nessa raiva pra sempre, pensando que fazer algo pessoalmente contra ele vai trazer alguma paz. Mas acredite em mim, não traz... A justiça boa, aquela que deixa a gente dormir em paz, não é a que fazemos com as próprias mãos, Li. Tem mais a ver com a que deixamos os outros fazerem, saca? No caso, as autoridades. Volto a convidar pra prestar queixa dele, vai saber quantas turistas ele já não achacou e 'cê pode ser aquela que bastava pra ele deixar de ser calhorda!" - pedindo permissão com a cabeça pra pegar nas minhas mãos e tendo a aceitação com um piscar de olhos.

"Eu entendo que se eu simplesmente for embora, que tudo isso vai comigo, sabe? Eu não tenho como deixar o que aconteceu aqui... A não ser que eu vá nalgum hipnotizador que me faça esquecer essa tarde!... Mas aí eu ia esquecer o quanto você foi legal comigo, incrivelmente, nas duas situações... E eu não quero esquecer isso, James. Argh! Que situação complicada pra uma pessoa só resolver!" - e aí veio o entendimento do que ele havia dito sobre "deixar na mão dos outros". "Saquei, não preciso resolver sozinha, tá certo."

"Vai ser uma barra esses 15 minutos dentro da van com ele, mas eu vou estar do teu lado, dando aquela força, valeu? Pegamos meu carro e vamos até a delegacia assim que chegarmos lá." - novamente, seu olhar azul inundou meu olhar como se fosse um mar de compreensão e empatia e eu cedi. Cederia a quase tudo que aquele desconhecido me dissesse, tudo porque ele era a pessoa no lugar errado, na hora certa!

O guia e os outros turistas finalmente chegam; pra mim pareceu uma eternidade. Os outros quatro me olhavam diferente e John tinha a lateral do rosto roxa pelo soco que levou de James... Se for parar pra pensar, ele é que tinha alguma coisa material contra nós. A gente só tinha os fatos, mas nada que os comprovasse... Isso me abalou um pouco e eu tremi novamente, senti uma mão quente segurar a minha e ao virar o rosto, James sorria, dizendo "vai dar tudo certo". Eu fiquei repetindo como um mantra e nos 15 minutos que demoramos para voltar, consegui olhar para toda a floresta de pinheiros que ia desembocar num lago lindo que, infelizmente, meu estado de ânimo não me fez aproveitar.

Meu Encontro com o WolverineOnde histórias criam vida. Descubra agora