Capítulo final - E em São Paulo, tudo está muito bem!

47 5 0
                                    

Quase um ano havia passado desde as minhas últimas férias. Havia voltado para minha rotina, nunca mais sendo a mesma... Meus colegas estranharam, mas claro que eu não disse nada do que realmente passei. Guardei para mim e, para a minha família, James havia dito que o ataque me fez ter uma amnésia pontual, pelo alto estresse que gerou. A "desculpa" pegou e ninguém ficava perguntando sobre algumas cicatrizes que nem as transfusões do canadense tinham conseguido remover. A queda no ombro deixou uma extensa cicatriz que eu acariciava constantemente, lembrando que foi uma das primeiras sensações que tive em todo corpo quando voltei da morte, quando James me deu água e a boa notícia de que eu estava no caminho da recuperação...

Como sempre utilizei transporte público, passei a respeitar mais minha intuição sobre as pessoas ao meu lado e tentar ajudar de algum modo aquelas que me permitiam essa aproximação. Fossem com palavras, ou com cestas básicas, ou com materiais escolares, ou indicando médicos e ajudando nas consultas; fato é que eu passei a me sentir motivada a fazer o bem, não tentando mais questionar as intuições que vinham, achando que eram invenções da minha mente! Com isso, me tornei um ser mais completo!

Saía de casa às 6h para chegar ao trabalho às 8h e retornava às 20h, tomando sempre um animado café com meu pai e aguardando meu irmão chegar e fazer parte daquela porção da minha família. Ficava lendo alguma coisa, ou vendo tevê com eles até às 22h quando me arrumava para dormir no quarto que dava de frente para a rua, no segundo andar do sobrado onde morávamos. No dia seguinte a este que relato eu faria 39 anos, sorri pro espelho, agradecendo poder envelhecer com memórias como aquelas, não podia reclamar da minha vida até o ano passado, mas só podia dizer que depois daquele verão no Canadá o mundo não era mais o mesmo, saber que existiam seres com capacidades inimagináveis vivendo entre nós era tão lindo e assustador ao mesmo tempo! Quem sabe quantos já teriam cruzado meu caminho? Quem sabe se algum outro me identificou como alguém diferente também? Mistérios...

Vesti um moletom surrado pois era início de inverno e as noites pediam inclusive um cobertor e dormi até quase depois da meia noite, quando um leve tremor me fez abrir os olhos e notar umas luzes diferentes sendo filtradas pela janela... Fui olhar, pensando em alguma ventania que estivesse fustigando a árvore na calçada e me surpreendi ao ver uma geringonça tecnológica do lado de fora, girando como se fosse uma plataforma e sobre ela reconheço James, dando leves batidas na madeira da janela!

Coloco a mão na boca e em seguida levanto a vidraça e inicio a abertura da veneziana pro lado de fora. Ele desloca a plataforma um pouco pra trás e ao terminar de abrir projeto meu corpo para fora da janela e ele se aproxima, me estendendo a mão.

"Bo-boa noite, James! O que você está fazendo aqui? E que geringonça é essa?" - aceitei as mãos dele e me esforcei para se sentar no peitoril, sempre confiando na força dele para me manter. Depois de algum malabarismo, sem que ele dissesse nenhuma palavra, mas me observasse cuidadosamente, ele soltou:

"Vim porque tinha que te desejar: feliz aniversário, gata! E dizer que finalmente resolvi quase todas as minhas complicações e queria saber se tu 'taria a fim de juntar as suas com o que sobrou das minhas?"

Eu sorria pelos olhos, pela pele, pelos poros. Sem pensar em nada, peguei alavanca nas mãos dele e saltei em cima da geringonça, que desceu um pouquinho até estabilizar com o novo peso, enquanto ele falava:

"Senti tanto sua falta! Não sabia se você também sentia!... Mas ao que parece sentiu um pouco sim!" - e aí sorri com a boca, fazendo que sim, comecei a dizer que aceitava juntar nossas complicações, pois só íamos saber se daria certo tentando, que eu agradecia pelos parabéns, que foi um dos melhores presentes que já recebi e ia continuar a falar se ele não colocasse o indicador, gentilmente, na minha boca e soltasse:

"Sabia que quando tu 'tá nervosa fala demais? Vem cá, vem!" - me pegando pela cintura com uma mão e apoiando a outra na minha nuca, me desceu levemente numa das coxas dele e me deu um longo beijo, carinhoso e - sem dúvidas - que eu jamais vou esquecer.

---- O COMEÇO -----

Meu Encontro com o WolverineOnde histórias criam vida. Descubra agora