Capítulo XIII - E, finalmente, SNIKT!

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Andamos pela floresta de pinheiros, ela cantarolava enquanto acariciava minha mão de modo até infantil. Falava pouco, mas sempre era para mostrar algo na floresta que eu, quando não havia a Lua iluminando, não conseguia perceber. Depois de uns 10 minutos caminhando eu tive que estacar:

"Desculpe, Audrey, mas acho que não era isso que eu tinha em mente quando aceitei seu convite..." - ao soltar da mão dela pareceu que uma tomada foi desligada. O rosto dela se alterou e, de convidativo, passou a desconfiado e chacoteador.

"Estava querendo o quê? Um pega comigo, no meio da floresta? Eu, que sou quase uma criança? - e a voz dela tinha se alterado daquela firme para algo mesmo mais infantil - Eu só coleto o que ele precisa, Liura... - a voz voltou a alterar - E você, devo afirmar, foi a melhor aquisição até agora! Tem uma aura, um poder diferente... O que é você?" - seus olhos chispavam, novamente, de desejo, enquanto sua língua passava ao redor dos lábios.

"Eu não estou entendendo... Audrey? Estou com medo..." - tentei apelar para aquela primeira voz infantil, pois ela também parecia perdida e, porque não, com medo.

"Audrey não vai participar da nossa festinha, sinto muito..." - e enquanto se dirigia a ela mesma na terceira pessoa, suas mãos começaram a se alterar morfologicamente, fiquei estática, sem conseguir me mexer, enquanto a via se transformando numa espécie de licantropo, o corpinho de 1,60m passou a ter mais de dois metros e músculos, esses sim, presentes em vários gibis! A pelagem era loira, da cor dos cabelos dela e, ao se aproximar de mim e me segurar pelos ombros aquele ser disse: "Se gritar vai ficar mais apetitosa!", mostrando caninos que eram difíceis de ignorar. Não pude com isso, creiam, desmaiei! Ao que parece foi Rosie quem me deu um "blackout" corporal, mas minha mente era alimentada pelas imagens que James captava, portanto, são essas imagens que vou descrever:

"Acho bom 'cê soltar ela, Audrey" - saindo de trás dos pinheiros James aproximou-se cerca de dois metros, com a voz totalmente alterada de ódio.

Pega de surpresa, pois ela achava que eu estivesse sozinha, apesar de eu não ter respondido essa pergunta, a criatura me soltou e meu corpo terminou a queda, sem mostras de se levantar ou acordar. James olhou para mim e voltou o olhar para a criatura:

"Que houve contigo? Por que parou de se alimentar de animais e passou a perseguir humanos, hein?!" - foi a pergunta que o canadense fez.

"Você não entenderia! Seres humanos oferecem muito mais poder! E ela ainda possui muito mais, desse jeito eu não precisarei mais da Audrey! Eu posso ser eu por mais tempo! E é isso que eu quero, força suficiente pra não precisar mais dela, nunca mais! Já que chegou na festinha e tem um poder emanante muito forte eu vou adorar essa noite!" - passando novamente a língua pelos lábios.

"Não desmaio tão fácil e prefiro a garotinha! Vem pro pau!" - e ambos ficaram frente à frente, estudando-se um pouco, ambos em posição de "caranguejo", com as pernas dobradas quase em noventa graus, os braços paralelos ao solo e caminhando de lado. James ia andando de modo a distanciar a criatura de onde estava meu corpo. A criatura estava tão entretida com aquele pequeno obstáculo que se esqueceu completamente de mim!

"Ah... Mas quem disse que ela não gosta das coisas que faço? Audrey tem um coração manchado por desejos de morte e vingança, pequenino. Eu surgi sem me esforçar, pois ela também gosta de poder" - e um riso rouco saiu daquela garganta, misto de rosnar e uivo, sendo seguido por um real uivo à Lua e um movimento rápido das mãos, retesando mais as garras e vindo na direção de James.

Os movimentos eram muito rápidos! Os braços moviam para rasgar a região do abdome, mas por ser mais baixo, James conseguia proteger muito bem essa área, dando alguns contragolpes e aparando com o antebraço o que conseguia. O ataque era um combo, onde somente os braços eram utilizados, portanto, mais fácil de ser previsto. Mesmo quando passou a mirar na cabeça, James não teve dificuldades em esquivar e atacar. Provavelmente por ser jovem, a criatura tinha uma grande capacidade de aprendizado e adaptação, assim que levou um chute de James quando abriu a guarda, ela também passou a usar as pernas, tentando encontrar uma brecha na "armadura" que ele havia transformado seu corpo.

"Maldito! Por que você não se cansa como os outros?!" - gritou rosnando enquanto aplicava uma rasteira bem sucedida no canadense que, ao cair de costas, começa a imaginar quantos outros ela já havia matado sem que as pessoas soubessem, sem chance de nem mesmo irem para o necrotério.

Aproveitando a queda do oponente ela dá um pulo, como aquele que as raposas do ártico dão antes de enfiar o corpo na neve e pegar o roedor lá embaixo, acertando em cheio o tórax de James e, seríssimo, eu consegui até mesmo sentir a dor! É como seu eu fosse ele, estávamos dividindo o mesmo corpo, sentindo as mesmas sensações, incrível, mas ao mesmo tempo, angustiante! Sabia que aquele corpo não era meu! Queria voltar, mas alguém me segurava...

"Argh! Esse vai ser seu último contato com os seres humanos, seu aproveitador!" - dizendo isso, SNIKT dando várias estocadas nos membros apendiculares superiores e inferiores, tentando não atingir nenhum órgão vital, apenas tirá-lo da luta.

A velocidade das estocadas era algo incrível! A criatura não conseguia atacar, apenas se defender e, com isso, acabou virando uma "bola de pelo" no chão, invertendo a posição do atacante e do atacado. Arfando profundamente James solta um grito para a Lua também, SNAKT, guardando as garras e indo na minha direção. Nesse momento, eu consegui perceber que era possível sair daquela situação e voltar para meu corpo! Foi o que fiz, rapidamente, na velocidade da luz e meu tronco levantou como que possuído. Graças a Shiva eu pude voltar, pois de onde estava tinha visão de James e da criatura atrás dele que, milagrosamente, levantou depois de todo aquele ataque; meus olhos se arregalaram e eu não precisei emitir nenhum som, pois James se virou na hora e a tempo de receber um golpe no abdômen que expôs seu intestino e o fez cair a alguns metros.

"Corre!" - foi o que a voz de Rosie ordenou.

E na hora eu consegui levantar e sair correndo, montanha abaixo, sabendo que a criatura estava muito perto de mim e que James havia, aparentemente, morrido! Parece que Rosie tinha dado um "up" no meu sistema nervoso de "luta ou fuga", pois eu, mesmo sedentária como me sabia estava conseguindo correr a todo vapor. Não passou pela minha mente o quanto meu corpo cobraria disso depois, pois só me bastava conseguir chegar na cidade e permanecer viva, ir atrás de ajuda para James e, enfim, sobreviver ao ataque para poder contar às autoridades contra o que estavam lidando!

O plano era muito bom, até que uma raiz resolveu atrapalhar e me fazer enroscar, com a velocidade que vinha e a descida abaixo de mim, só me restou querer sair de novo do corpo, mas Rosie achou por bem me fazer sentir todo o impacto e dor da queda. Após bater com força o ombro direito no chão, o pé desvencilhou da raiz e sai rolando, batendo num tronco de pinheiro a cerca de três minutos da entrada da cidadezinha.

A criatura não havia me visto cair, portanto parou estupefata um pouco distante quando me viu, cheia de cortes e, com certeza, com alguma fratura, pois respirar doía muito:

"Ah! Aí está você, a mentirosinha que não estava sozinha e que quis me ver morto, hein?!" - ele arfava enquanto gritava pausadamente - "Vou voltar a ele em breve, mas não imaginava que você pudesse correr tão rápido assim, 'tá de parabéns!"

Eu até queria responder, tentar ganhar algum tempo, vai que alguém estava passando lá embaixo e ia ouvir alguma coisa, mas não conseguia... Ao ouvir falar de James uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu só podia pedir por uma morte rápida, se possível. Fui tentar rir do fato da corrida, mas o máximo que consegui foi um estertor que saiu em forma de tosse com sangue. Aí eu percebi o quanto estava em apuros...

A criatura começou a vir na minha direção, esfregando as mãos e fungando profundamente, enquanto comentava mais para si: "Preciso agir enquanto ainda há vida em você, senão não vai passar de um saco vazio... Venha, deixe-me sentir seu poder, garota brasileira!"

Outra lágrima escorreu... Minha família seria informada, mais cedo ou tarde, que tinha morrido na mão de um animal selvagem, no meio da floresta canadense. Pobrezinho de papi, dos meus irmãos... Será que não haveria alguma redenção? Alguma cena final onde eu seria salva, como nos bons quadrinhos que eu tinha lá em casa?...

E quando já tinha aceitado meu fim, encomendando minha alma aos Espíritos de Luz, vi James aparecer por trás da criatura, somente de calças, ele gritou, quando a agarrou "Apaga ela, Rosie!" e eu não tive tempo de reclamar, pois o escuro tomou conta de mim.

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