Capítulo IV - A "culpa" é sempre da vítima, né?...

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*** conteúdo sensível, pode ter algum gatilho, leia por sua conta e risco! ***

Aiai, eu tinha acabado de "quebrar" a única regra que o guia John tinha feito a gente repetir: "não se separe do seu companheiro em hipótese alguma"... Mas o que eu podia fazer? Ir pro meio da selva que eu não ia, ainda mais com a possibilidade de outros animais maiores estarem por lá! Meu coração ainda bombava desordenadamente pela adrenalina, ia demorar uns dias pra eu voltar ao normal... Me conhecendo tão bem, sabia que a noite seria em claro e com várias idas ao banheiro. Só me restava suspirar... E foi o que fiz, enquanto subia a trilha demarcada com fitas amarelas ou laranjas. A minha mente começou a procurar itens na mata que me fizessem desfocar do que havia ocorrido, enquanto a parte consciente dizia: "você deve sua vida a esse homem, Liura! Não esqueça de agradecer e pare de ficar implicando com o jeito sóbrio dele ver a vida! Foi essa sobriedade que permitiu sangue frio pra te ajudar com a ferramenta certa, na hora exata."

Andei uns 10 minutos, sem ouvir o restante da excursão na nossa frente e sem ouvir James vindo pelo caminho de trás até que John surge do nada, do meio de alguns pinheiros e me assusta, quase tanto quanto a cascavel havia feito:

"onde vocês se meteram?! Cadê seu parceiro?!" - olhando por trás de mim pra ver se o via vindo.

Com a mão no coração, expliquei rapidamente o que havia acontecido e disse que James estava chegando a qualquer momento, perguntei também onde estavam os outros e ele sinalizou bem mais a frente, algo como uma clareira, onde haviam parado para descansar e nos esperar. Fomos caminhando para a clareira e estavam todos ao redor de uma fogueirinha cavada na terra e com pedras ao redor. Ana, Noel e Jacob conversavam alegremente sobre as maravilhas que tinham visto, sobre como o ar era mais puro, como os sons eram mais claros; Niki comentou que sentia falta do seu sinal de celular, mas ter visto a águia-careca compensou esse fato. Quando cheguei com o guia pararam de conversar e ficaram me olhando, ao que John tomou a frente e contou o pouco que sabia sobre o ataque da cascavel, valorizando a presença da dupla num momento desses; eu aproveitei que James ainda não havia retornado e coloquei minhas cores na narrativa, deixando claro que se não fosse por ele só Deus sabe onde estaria agora. Isso "quebrou um gelo" com relação ao nosso atraso nesse ponto de descanso.

"Mas você vai continuar a subida conosco, não?" - questionou Ana, mais preocupada na sua caminhada que na minha, mas ainda assim, uma questão genuína para se responder.

"Meu coração ainda está taquicárdico... Eu não sei o quanto continuar pode ser bom pra vocês. Eu poderia ficar aqui, não, John?" - olhando o guia e esperando genuinamente que ele me liberasse da subida.

"Desculpe, Liura... Como eu disse, seria muito complicado deixar uma dupla ou só uma pessoa pra trás; e se James quiser fazer a subida, hein? Você teve um encontro de "primeiro grau", fico feliz que seu par conseguiu dar conta do problema e, então, por quê não continuar curtindo, hein?" - e sorriu genuinamente pra mim, lançando o convite para todos os presentes.

"Se você acha que pode ser proveitoso, eu vou me esforçar, claro!" - e dei meu melhor sorriso ensaiado do mundo.

Esperamos por James mais alguns minutos, assim que ele chegou veio checar como eu estava, perguntando sobre o coração e se eu aguentaria continuar a caminhada. Respondi que sim, ao menos até a próxima parada, o que seria perto das 11h30.

Os outros levantaram e colocaram as mochilas nas costas, Niki que estava um pouco distante se aproximou de Jacob e os dois trocaram um sorriso, saindo logo atrás de John para a continuação da trilha; Ana e Noel seguiram, conversando trivialidades e eu me esforcei em levantar logo, titubeando e sendo amparada por James: "Ei! Devagar aí! 'cê passou por uma situação e tanto ali atrás... Tem certeza de que quer fazer isso. Eu fico contigo, guria..."

Meu Encontro com o WolverineOnde histórias criam vida. Descubra agora