Por Melissa
Semanas depois estou sentada sentada olhando para a rua já que não tem cliente. O comércio tava meio lento hoje, pouca gente.
Me levanto para ir arrumar uma bagunça que uns dos clientes deixou numa prateleira do mercado quando o barulho dos fogos vem
Droga droga droga
Os vapores começam a correr pela rua e acabo escutando eles falarem que a invasão é do Alemão — quase dou risada, é claro que é, o Henrique nunca desiste!
Respiro fundo tentando raciocinar, eu tenho duas opções: correr para eles ou ficar quieta aqui. Escolho a segunda opção e me abaixo atrás do caixa.
Os minutos vão se passando e nada dos tiros pararem. Quantas pessoas vão morrer hoje por mim? O X9 deve ter dito que hoje o Peixe nem o Craca está no morro, e quando é assim isso vira uma bagunça.
Os tiros vão ficando cada vez mais próximo quando eu me levanto para olhar e... dois vapores vem e me agarram
Xxx: quieta mina, nem tenta fugir com essa galera do Alemão, tá achando que vai ser fácil assim?
Eles me puxam para fora do mercadinho na hora que os tiros se tornam muito altos. Olho para baixo na rua no momento que o HR sobe junto de alguns vapores. Ele me vê na hora e juro que Seus olhos brilharam, mas então, rápido demais para eu registrar, alguém atira nele
Demoro alguns segundos para associar que ele levou um tiro no peito.
Eu não me lembro direito do que veio a seguir, só sei que eu gritei e esperneei até conseguir me soltar dos vapores. Tava rolando troca de tiros a minha volta mas nada me importava, eu só conseguia ver o HR caído no chão com o peito sangrando
Mel: não não não não não não, por favor não — peço chorando e me abaixo na frente do corpo dele, que está com uma mancha de sangue crescente na barriga — Henrique, por favor — seguro seu rosto — Henrique! Por favor não
Parecia que o mundo estava desabando sob os meus pés, eu achei que meu coração ia parar de bater só de ver ele daquela forma. Não conseguia respirar, não conseguia raciocinar, minhas mãos tremiam demais para eu fazer qualquer coisa coerente.
Tudo se tornou um borrão e eu só sabia gritar e chorar e gritar e chorar ao ponto de minha voz ficar rouca. Lembro dos vapores me puxando para longe do Henrique enquanto eu ainda gritava, eles colocaram um pano no meu rosto até que eu comecei a sentir o corpo fraco e perdi a consciência. A última coisa que me lembro é ter visto o Bruninho subindo a rua correndo.
🌀
A notícia da morte do Henrique correu mais rápido do que eu podia imaginar. Em questão de um dia todo mundo sabia
E eu não sai mais de casa. Não conseguia comer ou fazer qualquer coisa além de pensar que o Henrique morreu por minha causa.
Depois de tudo o que rolou com a gente, eu não conseguia acreditar que o cara que eu mais amei na vida toda estava morto. Eu só queria ver o sorriso dele mais uma vez, só queria que ele me abraçasse e me prometesse que ia ficar tudo bem, só queria ouvir sua voz, só queria deitar a cabeça em seu peito e escutar seu coração batendo.
Perdi a conta de quantos dias já tinham se passado.
Estava deitada chorando e segurando a correntinha quando o Peixe entrou no meu quarto pela vigésima vez. Ele já veio aqui antes, sempre insistindo para eu sair desse quarto mas eu nem ligo para ele
Peixe: e aí — diz animado tentando me fazer melhor mas eu nem olho para ele — Como você tá? — não respondo outra vez
Ele suspira antes de se abaixar na cama na minha frente, entrando no meu campo de visão
Peixe: qual é, Mel? Vamos lá! Anima!
Mel: o que você quer? — pergunto com a voz baixa. Estou sem forças até para falar
Peixe: qual foi a última vez que você comeu? — só dou de ombros e ele passa a mão no rosto — Não da para você continuar assim, vai acabar adoecendo
Eu sabia disso. Mas mesmo que eu ligasse, eu vomitava tudo que eu comia. Isso quando conseguia chegar na cozinha
Mel: Eu não ligo de adoecer — sussurro
Peixe: mas eu ligo! Não vou te deixar ficar trancada nesse quarto definhando. O HR não ia gostar de te ver assim
Mel: nada do que eu fizer vai trazer ele de volta então foda-se né
A Sâmela entra no quarto e sorri fraco para mim, sentando na beira da cama ao meu lado
Sâmela: eu trouxe chocolate, você quer? — pergunta animada. Sério que eles estão me tratando que nem uma criança?
Mel: Eu não preciso da pena de vocês, me deixem em paz! — resmungo já brava
Sâmela: Mel, amigos são para isso! Não é pena, a gente só quer seu bem
Me sento na cama para retrucar ela e minha visão fica meio turva mas falo mesmo assim
Mel: se vocês fossem meus amigos, não teriam matado o cara que eu amo!
Samela: ele é nosso inimigo — diz calma — Não tinha outra saída. Ele invadiu o morro e sabia das consequências
Mel: como você ousa falar que ele é o culpado da própria morte? — grito — Se não fosse por vocês eu nem estaria aqui, ele não teria se arriscado e estaria tudo bem!
Samela: Mel... — ela toca meu braço mas tiro sua mão
Mel: não encosta em mim! — praticamente rosno
O Peixe olha para mim bravo e passa a mão no cabelo
Peixe: já chega! — grita exasperado — Levanta dessa cama agora! Tu não vai continuar presa nesse quarto
Mel: você não manda em mim! — retruco
O Peixe praticamente me arrasta da cama para me colocar de pé mas quando o faz as coisas começam a girar a minha volta. Sinto uma sensação muito estranha, como se meu corpo estivesse pesado, pesado ao ponto de eu não conseguir me manter de pé, me apoio no Peixe, tentando fazer minha visão focar mas não funciona
Mel: Eu... Eu to... tonta — balbucio antes de desmaiar
Por Peixe
Deito a Mel na cama, colocando a mão em seu rosto e percebendo que está com febre
Samela: amor, eu sei que você está fazendo isso para vingar a vida do Falcão mas... você não acha que ela já sofreu demais? — pede baixinho e eu a encaro
Peixe: eu não acho, eu tenho certeza! — suspiro e ela me olha surpresa — Não dá para continuar com isso, vou mandar ela de volta para o Alemão agora mesmo. Vou ver com os vapores enquanto você acha alguma coisa para dar para ela, acho que tá com febre.
A Sam só assente e eu beijo seu rosto antes de sair do quarto
Cansei de carregar nas costas o que o Falcão fez com essa mina, não vou continuar com isso! Desde antes eu não concordava, mas se falasse algo eu levava era um tiro dele então nem rolava. Mas agora eu não sou mais obrigado a ficar com essa bobeira não. Sim que eu gastei dinheiro com o negócio da Lele e tals, mas eu prefiro aquela cobra bem longe do meu morro de toda forma, aquela mina não presta — nunca prestou
Converso com o Craca e a gente decide dar fim a rivalidade nossa com eles, isso já passou da hora de acabar.
Posto o próximo capítulo assim que esse bater 10+ curtidas
Beijosss🥰
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Feitos De Pedra
Non-Fiction+18|| Ela carrega aquele brilho no olhar, mostra uma certa malandragem pra falar Ela é o sonho de todo homem do mundo, vagabundo para tudo pra olhar ela passar Eu mesmo já vi, ela parando o trânsito completamente Ela é o samba, ela é o Rap, ela é a...