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Por Henrique

Conviver com a Mel grávida é uma loucura. Seu humor muda constantemente, as vezes ela não queria nem que eu chegasse perto, outro dia estava com um fogo sem fim.

Alguns dias eu chegava em casa e me deparava com ela chorando horrores na cama como se o mundo estivesse acabando e reclamava mais ainda de como o corpo estava feio — coisa que eu discordava a ferro e fogo.

Então eu deitada com ela e fazia de tudo para melhorar. É cansativo e nem sempre funciona, mas no fim ela acaba sorrindo para mim então vale a pena.

Enfim, esse bagunça virou meu mundo de cabeça para baixo durante esses últimos meses, agora o parto já estava perto e a Mel estava mais nervosa que nunca.

HR: mô, — bato na porta do banheiro antes de abrir — já tá pronta...

Me interrompo na frase quando ergo o olhar para Mel.

HR: ai porra buceta caralho desgraça — solto correndo para o lado dela

A Mel continua apoiada na pia do banheiro, olhando pasma para o líquido descendo pelas suas pernas.

HR: sua bolsa estourou né? — digo já começando a ficar ofegante

A Mel fecha os olhos com força e assente. Olho para suas mãos, vendo que estão tremendo. Alguns segundos de puro pânico meu se passam antes dela falar algo.

Mel: estourou — diz ficando pálida — Merda, estourou Henrique

HR: hm... tá tudo bem. A menina falou sobre isso, não tem nada de errado — balbucio meio atônito

Mel: eu não vou conseguir

Ela começa a repetir isso sem parar e eu sinto que vou surtar. Porra eu nunca sei o que fazer quando ela entra em crise, que caralho

HR: Melissa, pelo amor de Deus, vida, presta atenção — seguro seu rosto com as duas mãos — Você é a mina mais foda que eu conheço, você vai conseguir, tá me entendendo? Eu to contigo, não to? Vai dar tudo certo, confia em mim

Ela segura meu pulso, ao lado de seu rosto e assente. Demora alguns minutos para sua respiração normalizar então ela diz com a voz rouca

Mel: me ajuda a tomar banho — parece fazer um esforço enorme para falar

HR: tá, vem cá

Ajudo ela a tirar a roupa e entrar de baixo do chuveiro. Nesse tempo que leva para a Mel se lavar e vestir uma roupa noto como está em pânico e simplesmente não consegue falar nada por causa disso.

Quando entramos no carro a Mel fecha os olhos e fica quieta.

Eu quero dizer algo mas porra não sei o que fazer. Simplesmente não sei.

HR: fica tranquila, vai dar tudo certo — digo baixo colocando a mão em sua coxa

Mel: Uhum — ela sussurra tremendo

Por Mel

Meu primeiro parto tinha sido uma cesariana emergencial. Eu estava dopada e nunca fiz ideia da dor de colocar uma criança para fora.

Até agora

Eu perdi a noção do tempo mas acho que fazia algumas horas que eu tinha entrado em trabalho de parto e eu sentia que todas as minhas forças tinham se exaurido. O suor escorria pelo meu rosto sem parar. Estava a ponto de desistir mesmo com as palavras de Henrique para que eu aguentasse só mais um pouco quando um choro de bebê invadiu meus ouvidos.

Não sabíamos se era menina ou menino ainda, decidimos não saber antes da hora. Mas, de alguma forma maluca, soube no momento que escutei o choro que era uma menina.

Fecho os olhos com força, sentindo as lágrimas descerem junto da minha força corporal indo embora.

Enfermeira: é uma menina! — ela exclama.

Então perco a consciência.

Acordo alguns minutos depois, sentando na cama duma vez e levando um susto.

HR: ei, vida, calma — ele diz ao meu lado. Me viro em sua direção o vendo segurar um pacotinho no colo com o maior cuidado do mundo. Então ele sorri para mim como se soubesse exatamente o que está passando pela minha cabeça.

Ele coloca a bebê no meu colo e eu a seguro com cuidado, minha vista embaça pela milésima vez na noite com as lágrimas.

Observo seu rostinho, os detalhes daquela menininha ainda tão minúscula.

Então sinto, sinto aquele sentimento me acertar como uma enxurrada. O amor, o desespero, o medo, e acima de tudo a necessidade de cuidado — necessidade e instinto puro de proteger aquele serzinho de qualquer mal.

Mel: oi Nicole — digo baixinho, com a voz falhando — Bem-vinda, meu bem

HR: ela é linda, né? — olho para ele, vendo o sorriso babão em seu rosto.

Mel: ela é perfeita — concordo.

Foi naquele momento ali que entendi que por mais que eu tentasse, meu passado nunca iria embora. Então eu teria de aprender a viver com ele se queria seguir em frente.

Pela Nicole. Pelo Henrique. E por todos a minha volta.

Feitos De PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora