━━ 10! family reunion

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- Boa noite, filhinha. - meu pai, André Gomes sorri. Odiava aquelas reuniões. Tínhamos que descer até o porão por uma passagem que ninguém além de mim e da Valentina sabia. O lugar fedia mofo.

- Pode começar a falar. - falo rude ao me cruzar os braços diante da enorme tela que mostrava o rosto do meu pai. Seus traços estavam marcados pela idade. Sua pele era clara, não exatamente um branco caucasiano, mas era clara. Bronzeada.

- Sempre mandona. - brinca mas logo fica sério. - Tenho que falar com vocês duas à respeito de uma gangue que anda atrapalhando meus negócios e dos sócios na costa leste e oeste, especificamente na Flórida e na Califórnia. Comentei com sua irmã sobre isso outro dia, para ela ficar de olhos em movimentações em Los Angeles, mas não dar alarde. Eles tem causado muitos danos nos nossos cofres.

- Eles trabalham com algo específico? - estava curiosa. Não sabia de nenhuma gangue que estava criando corpo no mercado.

- Não exatamente, mas pelas nossas informações eles trabalham basicamente com narco, e vem de toda e nenhuma região do mundo. - abro a boca mas meu pai dá risada. - Sim, filhinha. Não sabemos com exatidão de qual lugar eles partem para comerciar seu produto, apenas que ele se multiplica como uma praga. Não conseguimos rastrear.

- Pra quê quer nossa ajuda? Isso é arriscado demais. - Valentina diz irritada.

- E qual o motivo dessa reunião? Sei que tem mais coisa e que você não quer contar pra gente.

André suspira passando a mão pelo cabelo grisalho já não tão farto.

- Vocês são espertas demais para seu próprio bem. - reviro os olhos com toda aquela enrolação. - Por enquanto não quero nada de vocês mas logo chegarão novidades sobre esse caso.

Alguma coisa não parecia certa.

- Não é só isso, certo? - pergunto. - Essa gangue que está deixando você e os sócios enlouquecidos e não está só atrapalhando a venda do narco. Isso tem várias coisas envolvidas e você não está abrindo o jogo pra gente. Qual é, pai? Nós duas que sustentamos esse império de merda! Vai nos deixar de fora assim?

Meu pai fica pensativo e solta o ar. Olha ao redor e se aproxima da câmera.

- Eles possuem um sistema de inteligência. Ouvi falar que eles andam procurando pessoas. Essas pessoas estão sendo mortas assim como seus familiares. - sussurra e troco olhares rápidos com Valentina. - Eles querem eliminar quem está no caminho deles nessa corrida das drogas, e logo estarão invadindo minha casa para me matar ou matar vocês. Sei que fiz muita coisa errada, mas não quero vocês duas mortas. Tem gente que fala que eles tem hackers ou espiões, fiquem alert...

A chamada é interrompida quando minha irmã puxa o cabo da televisão da tomada e iniciamos um procedimento de desligar os aparelhos que pudessem ser rastreados por satélite. Valentina pede meu celular e leva para seu quarto. Ela entendia de como bloquear possíveis hackers de usar dados para chegar na gente.

Vou para a cozinha pegar água gelada. Aquela conversa não fora muito agradável. Pego o copo e vou até a varanda observando na rua algo estranho. Me sento nas escadas atenta à tudo que se passava ao meu redor.

Odiava aquele meu comportamento pois me recordava da vez que minha avó morreu, quando fui para a casa dela ajudar a guardar algumas coisas e fiquei com medo da pessoa que matou ela voltar para terminar o trabalho. Fiquei paranóica estudando o comportamento dos outros.

- Daquela vez você que teve medo, mas dessa vez são eles que terão medo de você. - sussurro ao beber a água gole por gole. Era por volta das 19:00 e não sentia tanta fome assim. Estava prestes a levantar e voltar para a cozinha para me forçar a comer algo quando vejo aquele carro lindo parar na frente da minha casa.

- Ah, não. - murmuro tentando esconder o sorriso que queria crescer em minha face. Deixo o copo de vidro no chão da varanda e vou até o Spooky que me observava. - O que você quer?

- Queria saber como você estava. - ele parecia sincero ao falar isso e me pego mordendo a língua para não dar a resposta venenosa que gostaria. - Quer dar uma volta?

Mordo o lábio receosa. Acho que sair com um bandido era melhor que esperar que vários bandidos entrassem na minha casa e me matassem em uma emboscada. Talvez se Spooky me matasse seria rápido e livre de tortura.

- Vou só avisar minha irmã, já volto. - digo antes de correr de volta para casa, pego o copo e deixo na cozinha, subo as escadas e vou para o quarto de Valentina. A porta estava aberta e podia ver ela lá de dentro focada em seu computador. Dou batidinhas e ela ergue os olhos. - Só queria dizer que vou sair. Um amigo acabou de aparecer e me convidou.

Os olhos castanhos da minha irmã ficam ternos e ela assente.

- Só tenha cuidado, não esqueça de pegar uma arma. - sorrio levantando meu vestido e mostrando o short preto que usava por baixo onde estavam presas algumas facas pequenas. Na minha jaqueta, presa às cintura tinha uma arma fácil de manipular. - Às vezes esqueço que você é uma louca precavida.

Gargalho descendo as escadas e entrando no carro do Spooky.

- Pra onde vamos? - pergunto ao ligar o som do carro e sorrir satisfeita ao encontrar uma estação de músicas antigas. Tocava Frank Sinatra.

- Para um lugar que gosto muito. - com aquela simples resposta resolvo não contestar e começo a cantar baixinho a música. Blues in the night. - Não sabia que gostava desse tipo de música.

Reviro os olhos e me ajeito no banco do carro.

- Você não sabe muitas coisas sobre mim, Spooky. Ficaria surpreso com várias delas. - respondo encarando seu rosto.

- Então por qual razão você não me chama pelo meu nome? - pergunta sério.

- É algo íntimo, acho. E Spooky por enquanto é melhor. Você do nada aparece na minha casa, é estranho. Como um fantasma à espreita para me assombrar. Você anda me observando, Spooky? - ele ri acelerando para fora de Freeridge. - Suspeito que você esteja saindo do bairro por que vai me matar em um lugar deserto, assim ninguém vai ouvir meus gritos por socorro.

Apesar do meu comentário sair despreocupado o tatuado arregala os olhos pra mim. Dou de ombros indiferente.

- Você é louca.

- Nunca falei o contrário.

𝗠𝗔𝗟𝗔 𝗦𝗔𝗡𝗧𝗔 ⎰⎰ 𝗼𝘀𝗰𝗮𝗿 𝗱𝗶𝗮𝘇Onde histórias criam vida. Descubra agora