━━ 07! mala santa

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Sinto algo molhado na minha cabeça e abro os olhos alarmada. Reconheço a cruz tatuada no pescoço e a tatuagem e forma de lágrima próximo ao olho esquerdo.

- O que faço aqui? - tento olhar ao redor me arrependendo em seguida. Minha cabeça doía tanto que nem movê-la conseguia. - Ai!

Spooky pega um pano frio e coloca de volta na minha testa com um sorriso querendo aparecer.

- Descansando depois do show de mais cedo.

- Show? - pergunto confusa. Qual foi a merda da vez que eu fiz?

- Engraçado não se lembrar, mas por sorte, gravaram o que você fez. Não vou te mostrar agora mas pode ter certeza que aquilo foi muito duro.

- Eu matei alguém? - murmuro em um muxoxo. O tatuado olha pra mim negando. Suspiro aliviada. - Então o que quer que seja não é pior que isso.

- Só quase transar com um membro da gangue no jardim no meio de uma festa após uma dança sexy? É, não é pior mesmo.

Arregalo os olhos.

- Eu fiz isso? Puta merda. - rio um pouco mas para quando sinto uma fisgada na cabeça.

- É, pode acreditar. E foi muito duro. - murmura com o olhar vago.

- Duro? Foi nada, certeza que os drogados que anda com você gostaram de ver essa obra de arte aqui mostrando parte do seu talento dançando uma música sexy.

- Não falo deles. - me olha irritado. - Falo de mim. - reviro os olhos.

- Você não gostou? A culpa não é minha. Nem todo mundo tem bom gosto. -Spooky me olha como se já estivesse perdendo a paciência comigo. - Se não é isso falo logo então caralho. Sou diva mas não tenho uma bola de cristal pra prever as merdas que passa na sua cabeça quase sem neurônio.

- Estou falando, bebecita, que você me deixou duro. Ver você gemendo na minha cama me deixou incrivelmente duro. - fala e fico muda tentando assimilar isso.

Olho de relance para meu corpo e noto que estava de cobertor. Por isso que não sentia frio apesar de ainda estar de biquíni.

- Quero ir pra casa. - declaro após perceber que estava no quarto que o Spooky chamara anteriormente de seu.

- Não. - fala calmo se levantando da cadeira que havia pego para ficar do meu lado.

Fico boquiaberta.

- Como assim? Quero sair daqui! Imagina se seus rivais resolvem invadir essa casa? Sou bonita demais pra ser morta. - ele me olha achando graça do meu mini discurso. - Qual é, Spooky. Por favor. Minha irmã vai me matar. - peço com uma voz doce, quase irreconhecível aos meus ouvidos.

- Bebecita, você vai dormir aqui esta noite. Nada vai acontecer com você, prometo. E sua irmã concordou que o melhor será você ficar comigo. - diz ao tirar a camisa. Abro boca mas nenhum som sai dela. - Gostou da vista.

Grunho irritada e afundo meu corpo no colchão macio tentando entender o motivo da minha irmã ter deixado eu dormir na casa do chefe de uma gangue. Não é como se nossa família fosse uma família simples e honesta, por mais engraçado que fosse. Acho que eu era um perigo pro Spooky tanto quanto ele era um perigo pra mim.

O colchão do meu lado se afunda quando ele se joga na cama e prendo a respiração.

Minha irmã estava negligenciando à mim, uma menor de idade - temporariamente - que vivia sob sua tutela.

- Você não ronca, só pra constar. - ele diz ao pegar o controle remoto e descer uma tevê que ficava pendurada no teto e parcialmente escondida.

- Nossa, bom saber disso. - respondo afiada. Não poderia baixar a guarda na presença dele. Pena que não tinha nenhuma coisa pra usar como arma. Exceto o cobertor, para asfixiar. Mas ele era mais forte que eu, iria me imobilizar antes de tudo.

- Pensando em como vai me matar? - olho pra ele perguntando se falei algo em voz alta mas me surpreendo quando sou desarmada pelo seu sorriso relaxado. - Brincadeira, sei que você não quer isso.

Aprecio sua escolha de palavras. Ele poderia ter dito que eu não teria coragem, mas disse que eu não queria isso. É. Não quero o Cesar sem nenhum responsável para cuidar dele.

- Cadê meus amigos? - pergunto curiosa após lembrar que eles estavam mais cedo na festa.

- Eles estão descansando em outro quarto. Beberam demais também, menos a Monse. Ela que falou com a Valentina e com os pais dos meninos, deu uma desculpa aí e resolveu tudo pra vocês dormirem aqui. - responde calmo sem se abalar com meu olhar de quem não acreditava muito naquilo. - Falo sério.

Dou de ombros pouco me importando se ele falava sério ou não e volto meus olhos para a televisão. Spooky passava por vários títulos de filmes fico animada ao ler um dos títulos Superfly. Amava aquele filme e a atriz e o ator principal. Eles eram dois gostosos. Trevor e Lex.

- Quer ver esse? - Spooky me pergunta e assinto com um sorriso. Ele aperta os lábios em uma linha fina e revira os olhos quando dá play no filme. Dou um gritinho mas me xingo mentalmente quando minha cabeça dói um pouco.

- Esse filme é maravilhoso. Se fosse por mim ganhava todos os prêmios que existem para filmografia e esses negócios aí de arte.

Ficamos em silêncio o filme todo e as vezes olhava de canto de olho para saber como o Spooky estava, e me surpreendia quando via que ele estava atento à trama. Quando chega no final, meu sorriso nem cabia no rosto de tão feliz que estava.

- Eu disse, é perfeito. - digo me deitando de lado descansando minha cabeça contra meu braço. - E eles formam um casal bonito. Achou fofo como ele falou dela no navio?

Me referia à forma que ele disse que a namorada dele era o verdadeiro sonho americano, e que poderia sentir saudade dos Estados Unidos mas sabia que o tal se o sonho americano estivesse com ele, sabia que estava em casa.

- É, foi bem fofo. - ele se deita da mesma forma que eu. - Você gosta mesmo desse tipo de filme? Achei que fosse mais do romance.

- O ruim do homem é achar que toda mulher gosta de filmes de romance. - o repreendo. - Mas eu gosto de tudo um pouco. Amo filmes de ação ou que seja latino. Musicais, de drama... só não gosto muito de filmes de terror. Acho eles muito supérfluos e sem sentido. Se quiser aterrorizar alguém, ameace a vida dele. - me arrependo quando falo a última frase.

Os olhos negros de Spooky estavam com um brilho divertido.

- Não sabia que gostava dessas coisas, bebecita. Você parece uma santa, mas na verdade é má.

- Não sou má nem santa. Mas confesso que às vezes sou uma garota ruim. - sorrio misteriosa antes de virar e esconder meu rosto quente com o cobertor.

𝗠𝗔𝗟𝗔 𝗦𝗔𝗡𝗧𝗔 ⎰⎰ 𝗼𝘀𝗰𝗮𝗿 𝗱𝗶𝗮𝘇Onde histórias criam vida. Descubra agora