– Minha melhor amiga. Estará sempre dentro de nós – assegurou Ser Altjirra, com a concordância de todos. Pela sua mente, passeou um imenso discurso que ela pretendia recitar naquele instante solene de confraternização e despedida, mas foram somente estas poucas palavras que brotaram de seu peito e atravessaram o seu portal-estreito de não-retorno.
– A-até breve, q-querida Sal! – Com a voz embargada, Ser Pterix pronunciou seus elogios, afirmando que ela morrera como uma heroína por uma nobilíssima causa. Restava a dor e saudade. – Nós somos uma só Vida, uma única chama. Nós nascemos para viver. Nós vivemos para ser o alimento da terra. Nós somos alimento para nos transformar... Nós nos transformamos para nascer de novo... Nós nascemos de novo... Nós vivemos de novo... Nós morremos de novo... Nós nos transformamos... Sal. Sacrifício. Salvação.
– Sal da Terra, Sal do Mar e agora será Sal dos Céus. Reencontraremos-nos em Hemankonemakaia – era a fé de Ser Leigong e de todos.
– Você não tinha as nossas garras curvas, mas sempre estava enganchada em nós – fala-cantou Ser Kinnaree. – Você nunca foi emplumada, mas sempre vestiu todas as nossas penas. Você nunca planou a oito mil passos nas correntes térmicas das altas montanhas, mas pousou em nossas vidas com suavidade.
Diante do crepitar, do clarão, do calor e das cinzas, a verde-negra recordou-se de ter ouvido as belas palavras daquela devana salva por Sal. Blinakris, no Festival do Fogo, emitira uma fala inspirada reverenciando a sua futura salvadora. Foram essas palavras que o neuro-eixo de Ser Kinnaree recuperou e retransmitiu. Eram uma referência ao dito popular do Asa-clã da Voz Ativa.
– Dizem que uma gaunki pode ser incubada entre ovos de volan, mas não pode cantar ao nascer da Fonte de Atons. Dizem que uma domona pode nascer entre os ovos de devanos, mas não pode cantar ao nascer de Ser Aton. As palavras não são verdadeiras, pois ela cantou. Uma domona. Uma Parasauronesa. Sal.
As memórias dominaram os respiro-pensamentos dos Parasaurons. Nestas, havia um pedido de Sal. "Assim que chegar meu cronotik final, quero partir como todo e qualquer domono. Como é o costume de meu povo."
E assim foi feito.
No cronotik do gaunki, uma das mais novas criaturas daquele mundo devorou Sal, imaginando que fosse um sóbrio jantar.
Depois, foi a vez do maior dos mares.
O Mar dos mares devorou Sal em sua cerimônia de despedida.
O mar a engoliu, mas ao invés de rugir, permaneceu silencioso.
"Deve estar meio salgado", pensou Ser Anunnaki, num fiapo de humor.
Percebendo que o líder Ser Pterix estava completamente abatido, Ser Leigong veio consolá-lo.
– Vocês dois realizaram o impossível. Um dia, vão cantar sobre o que você e Sal fizeram, Ser Pterix. A música soará pelas goelas do portal-estreito do não-retorno e ecoará pela eternidade. Posso sentir. Posso ver. Posso ouvir.
– O que vamos dizer aos domonos? A Ser Yilané? A Ser Gottak? – perguntou Ser Garuda.
Ser Pterix olhou para os céus e disse:
– Nada.
– E.... a Operação Curvo-Plano? Está comprometida?
– Ela permanece como está. Com apenas uma alteração.
– Qual?
– Sai Kokopelli. Entra Blinakris.

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Sopros de Deva v3: CLARÃO DA TEMPESTADE
FantasyOnde os Sopros de Deva mostram o CLARÃO do dilúvio-de-fogo nos céus-pássaros. Blinakris, uma devana sensível em um mundo brutal, precisa sincronizar sua luta e seu voo com Quetzal, a fim de deter a quarta chuva de mil fogos que avança para Devanea. ...