Ser Basiliskrum inflou-se de ira e lançou um olhar severo para Ser Cockatrix.
– Vou recuperar a Transformadora de Destinos nem que para isso tenha que rasgá-la ao meio. Abram a jaula! Libertem o Tsabtorkiva! – ordenou. – Agora!
"Tsabtorkiva?"
Ser Cockatrix tinha calculado e previsto todas as perguntas, respostas e reações até ali. Menos esse chamamento.
"Tsabtorkiva?"
Ela entrava, agora, em um território desconhecido e ameaçador.
– A Transformadora de Destinos nunca será sua – disse.
Ser Trix ouviu uma passada. Sentiu-a com os intra-ouvidos e com os pés.
Duas passadas. Três. O chão começava a vibrar mais intensamente.
Sinal de que algo muito grande se aproximava.
Um rugido desconhecido e ofensivo ecoou nas profundezas da fortaleza cristalina-aquosa.
"Estranho. Tem algo errado. Isso não é um sauron normal."
Na quarta passada, virou-se e viu.
Não era um sauron normal.
Não era um tsabtor normal.
Era mais. Era maior. Era pior.
– Tsabtorkiva! O sauronkiva carniceiro!
Um sauron negro de mandíbula destruidora, garras retalhadoras e um exo-esqueleto cinzento de faixas vermelho-brilhantes parecia formar uma armadura com escamas tecno-mágicas incrustadas na pele.
"O tal monstro-do-terror vermelho-cinza."
Era um tsabtor bio-mecânico diferente de qualquer outro sauron!
Um tsabtor Mecane.
Um predador bípede com mecanismos embutidos: humbas saurônicas naturais coexistindo com artificiais. Uma junção da maquinaria do projeto Orvalho da Iniciativa Hareha devana com tecidos vivos.
"Biotecno-magia roubada da Terra-Nula Bahemute! Mas como?!
"Teria ele um sistema de espionagem de olho em nós?"
Pegadas e mais pegadas se sucederam, e Ser Trix percebeu que aquela fera descomunal vinha em sua direção, programada para atacá-la.
"Grande força nas pernas para a corrida. Mais impulso no momento de correr, com passadas mais largas."
Os guardas Noturnos recuaram, bem como a corte. Em nenhum momento ele mudou de direção para visar os outros virtuosos.
O destino era ela. Somente ela.
Esta era uma luta de Tsabtorkiva e Ser Cockatrix.
– Você é a carniça e ele é o carniceiro! – berrou Ser Krum, ensandecido, vendo a biomáquina gigante chegar.
A fera dos materiais orgânicos e inorgânicos misturados rosnou e deu um salto que abrangeu cerca de cinco de suas passadas. Caiu bem em cima de Ser Trix. Ela rolou para se salvar, enquanto o impacto do tsabtor biônico provocou uma rachadura estrondosa no chão cristalino.
"Maior força nas pernas para os saltos."
Tsabtorkiva urrou novamente. Girou a parte traseira de seu corpo na direção de Ser Trix e atingiu a virtuosa em cheio, fazendo-a voar.
O mundo virou de ponta cabeça para a virtuosa, e assim permaneceu até ela cair, espatifante, na parede pára-vento cristalina do Jardim.
O cristal aquoso ressoou num clangor ambiental quando espalhou partes da parede no chão.
O impacto foi muito forte, mas Ser Cockatrix permaneceu consciente: "Mais força na cauda para as chicotadas", foi o que ela respiro-pensou. E só conseguiu pensar pois ela mudou de armadura antes do golpe ser aplicado. A sua vestimenta empregava Cintilar metamórfico, um material resistente vindo dos céus após a Primeira Chuva-de-Mil-Fogos, e que agora se concentrou em suas regiões vitais para melhor protegê-la das pancadas.
– Ele é o caçador e você é a caça! – gritou Ser Krum.
Entre os pedaços de parede que caíram, Ser Trix catou o fragmento mais pontiagudo, mirou e arremessou. O estilhaço atravessou o caminho aéreo até a boca da fera.
Os dentes destroçaram a lâmina e, então, para surpresa da virtuosa, buracos ventosos no topo do monstro, no nível do tórax, expulsaram sopros de ar misturados a minúsculos fragmentos estilhaçados do projétil.
– Ele é o predador e você a presa!
Mais estrondos. Mais pisadas.
Após a expulsão do material cristalino-aquoso, Ser Trix não teve tempo de entender a transição orgânico-mecânica, mas teve tempo para calcular a velocidade do carniceiro, o equivalente a cem passos por cronotik.
O tsabtor da carne volúvel com coração e alma misturados com matéria inanimada assumiu posição de ataque. Suas garras mecânicas dianteiras tocaram o chão, de tão grandes.
Abaixou os ombros. Ergueu a cauda.
Atacou!
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Sopros de Deva v3: CLARÃO DA TEMPESTADE
FantasiOnde os Sopros de Deva mostram o CLARÃO do dilúvio-de-fogo nos céus-pássaros. Blinakris, uma devana sensível em um mundo brutal, precisa sincronizar sua luta e seu voo com Quetzal, a fim de deter a quarta chuva de mil fogos que avança para Devanea. ...