O voo-do-tempo havia transcorrido rápido, mas os céus, embora tenham mudado, continuavam no mesmo lugar. Sem que as nuvens os cobrissem, suas cores haviam adquirido nova tonalidade e, sem que ninguém percebesse a transição, haviam-se alterado, do azul-claro para o roxo-crepuscular da mesma forma que o dia se transformava em noite. Mesmo assim, Ser Aton, ao desaparecer no poente, deu um espetáculo à parte. Os últimos raios de luz por ele lançados fizeram belas pinturas nos céus e, dentre essas, as duas últimas eram especiais: se chamavam Fagas e Seneas.
Para estes cronotiks em que a escuridão invadiu Devanea, as duas magníficas e exuberantes luas, despontando no alto do céu, sublinharam com luz os contornos dos que estavam abaixo desse firmamento em transformação.
Quando tudo isto aconteceu, as árvores deixaram de cobrir Quetzal, Blinakris, Ser Cockatrix e Ser Leigong com suas sombras. Contudo, o ambiente não ficou mais claro e transparente, e sim, mais obscuro e dúbio.
As poucas linhas de luz que delinearam as formas, porém, indicaram que aquela noite não estava aí para esconder, mas sim, para revelar algo aos devanos postados próximos da base das leicíopes. Primeiro, um fenômeno natural de luminescência das sementes da leicíope, trouxe ao solo, onde estavam espargidas milhões delas, um brilho quase mágico.
O jovem Quetzal pegou uma semente que, de tão pequenina, cabia da ponta do seu dedo-garra. Cercada de asinhas fosforescentes, a semente era minúscula e mesmo assim, carregava dentro de si uma árvore gigante.
Olhando para o alto, Quetzal viu os pontinhos brilhantes caindo aos milhares no chão. Não deixou de sentir silencioso assombro diante da maciça grandiosidade das leicíopes.
Os robustos troncos vermelho-escuros abrigavam curtos ramos laterais, com folhas verdes distribuídas no ápice destes ramos. Com seus mais de cem saltos de altura e dezenas de passos de circunferência de base, possivelmente pertenciam à variedade de árvores mais portentosa de Devanea.
O chão, parecendo atrair para si as sementes iluminadas que gotejavam abundantemente das leicíopes, feito pingos de chuva, virou um tapete brilhante sobre o qual Blinakris admirou o espetáculo que se derramava sobre si. E um suporte mágico para aguentar a sensação de peso e pequenez que invadia o corpo da jovem devana....
– Estas são as árvores do conhecimento que demonstrarão a vocês que é possível.... E este líquido, a Baba, mostrará a face oculta do Ovo Cosmo-Abissal.... e revelará a verdadeira grandeza de sua concepção e a real essência de tudo. – Neste momento, Ser Cockatrix entregou à Blinakris e a Quetzal um líquido brilhante e incolor, nem muito frio, nem muito quente, em um recipiente oval que parecia ter se formado a partir de um osso de algum sauron. Um ciabidur, talvez.
A mente dos dois jovens dançou e reconheceu a bebida....
"Baba, Baba, Baba, Baba."
Agora que o líquido estava tão próximo, a memória dos rastros de mini-okans come-terras ficou cada vez mais presente em Quetzal. Aquele brilho cintilante.... Havia um mistério ali, ele desconfiava....
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sopros de Deva v3: CLARÃO DA TEMPESTADE
FantasiOnde os Sopros de Deva mostram o CLARÃO do dilúvio-de-fogo nos céus-pássaros. Blinakris, uma devana sensível em um mundo brutal, precisa sincronizar sua luta e seu voo com Quetzal, a fim de deter a quarta chuva de mil fogos que avança para Devanea. ...