Capítulo 9 - Ciúmes?

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Enquanto Gi se levantou para descer e atender o rapaz da pizzaria, eu fiquei parada, olhando fixo, quase que através das paredes. Tentando me recompor, e entender o que havia acontecido. 

E o que aconteceria quando ela voltasse, agora que o momento já tinha passado? Ela se arrependeria? Será que ela agiu tomada pelo impulso, pelo vinho, sem pensar? Eu realmente não conseguia prever.

Por um tempo, fiquei assim, estática. Depois decidi levantar também. Levei a garrafa de vinho e as taças para o balcão de sua cozinha. E fiquei parada ali, esperando-a. Quando ouvi que ela se aproximava, meu coração pulou uma batida, e eu nem sabia que poderia ficar ainda mais nervosa do que já estava.

Fui até a porta para ajuda-la. Tomei a pizza de suas mãos, enquanto ela fechava a porta. Me virei para levar até o balcão, mas fui surpreendida por sua mão segurando o meu braço. Olhei para Gi e encontrei seu rosto se aproximando do meu, e então ela me deu um selinho demorado, o que talvez não tenha significado muito, mas com certeza tirou algumas nóias da minha cabeça, agora eu tinha certeza de que ela não estava arrependida.

Ela pegou, de novo, a pizza das minhas mãos e soltou no balcão, enquanto eu caminhava atrás dela. Começamos a comer, sem conversar sobre o que estava acontecendo, era claro que a timidez tomou conta daquele ambiente. Eu não sabia o que dizer, não sabia como reagir e nem ao menos sabia o que ela esperava de mim, e acho que a recíproca era verdadeira, pois eu podia sentir seu nervosismo também.

Estávamos comentando sobre a temporada nova de uma série que nós duas assistíamos, e que lançaria na próxima semana.

- Provavelmente, eu só vou conseguir assistir na próxima sexta - eu disse - na próxima semana mal vou conseguir respirar, estou cheia de compromissos.

- Hmm. Temos aqui uma mulher requisitada - me respondeu com um ar brincalhão - já vi que vou ter que aproveitar sua companhia enquanto posso - continuou, enquanto me olhava e tocava minha perna.

Eu nem pude responder, o que me deixou irritada, pois fomos surpreendidas por um celular que tocava.

Apenas sorri para Gi, e fui até o sofá, onde estava meu celular. Era uma chamada da Manu, estranhei, mas atendi:

- Oi, Manu

- Rafa, o que você ta fazendo? Te mandei mil mensagens.

- Sério? Desculpe, eu estava longe do meu celular. Mas diz aí.

- Estou querendo saber se ainda vamos fazer algo, ontem ficamos de marcar, lembra?? Já são quase 21h e ainda nem decidimos nada.

Por um segundo, eu fiquei estática. Eu definitivamente não lembrava disso. Mas não poderia simplesmente me despedir da Gi e ir. Bom, eu poderia sim, mas eu não queria, não mesmo. 

Eu poderia chama-la para nos acompanhar, apresenta-la como uma nova amiga do trabalho. Mas confesso que a ideia de ter que dividi-la com mais pessoas esta noite também não me agradava.

- Minha nossa, amiga, mil desculpas! Quando te chamei, eu havia esquecido completamente que já tinha um compromisso. - não quis dizer que, na verdade, eu tinha esquecido era dela, na hora de topar ir na casa da Gi.

- Não acredito, e eu fiquei o dia todo pensando que iríamos sair, por isso nem marquei mais nada.

- Me perdoa. Minha cabeça está cheia nesses últimos dias. E é um compromisso importante, não sei como fui esquecer e marcar contigo no mesmo dia.

- Tudo bem, Rafa, eu entendo. Fica tranquila, tá? A gente marca outra hora.

- Obrigada por entender, Manuzinha! Vamos marcar o mais rápido possível. Amo você.

Desliguei e, enquanto eu via que realmente ela tinha mandado varias mensagens no WhatsApp, ouvi:

- Atrapalhei seus planos, Rafa?

Soltei o celular e andei até ela.

- Claro que não, Gi. Eu só esqueci de desmarcar com ela, mas não dá nada não. Ela entendeu super bem.

- Entendeu porque não sabe que você marcou comigo só hoje de manhã, né? E nem era algo tão importante como você disse... Não quero que você tenha problemas por minha causa.

- Gi, - falei tocando seu rosto, com as duas mãos - pra mim, era super importante, ok? E você não está me causando problemas. - levei minha boca até a dela, quando nos beijamos de uma forma que me deixou hipnotizada.

Quando paramos, ela me olhou sorrindo e percebi que ela estava hesitando em me dizer algo.

- Que foi? - eu perguntei.

- Nada. Só queria saber, a Manu é... sua amiga? - me perguntou, senti que estava um pouco nervosa.

Quis me aproveitar daquele momento e respondi:

- Sim. Bom, ela é um pouco mais que só uma amiga.

Gi arregalou seus olhos, apertou sua boca e fez sinal de que entendeu, sem dizer nada.

- Pois é, ela é muito mais que isso. Ela é minha amiga desde que éramos crianças, não posso classifica-la como só mais uma amiga. - quando terminei de falar, comecei a rir.

Gizelly me olhou profundamente, fazendo sinal negativo com a cabeça, até pensei que ela não tinha gostado da brincadeira. Mas logo ela começou a rir comigo.

- Boba - disse ela - por um minuto me assustei.

- Se assustou por quê? Ciúmes?

- Não. Não ciúmes, - pensou um pouco - eu só fiquei preocupada em estar te atrapalhando com algum crush.

- Com relação a crushes, pode ficar tranquila, não tem ninguém. - falei piscando pra ela - Mas que pena que não era ciúmes - tentei usar um tom que a provocasse.

- Sinto que eu não tenho direito de sentir ciúmes, Rafa. Não posso exigir que eu seja a única em sua vida, até porque eu tenho um noivo.

Engoli seco, naquele momento, e o sorriso que eu tinha no rosto desapareceu. Eu já tinha até esquecido que este noivo existia. Mas eu precisava me recompor, não era nenhuma novidade. Então sorri pra ela e disse:

- Com ciúmes ou não, - segurei sua mão que estava sobre o balcão, batendo as unhas no mármore, em sinal de ansiedade ou nervosismo - não tenho mais ninguém.

Neste momento, ela me abraçou e me disse:

- Ai, Rafa, minha vida está toda bagunçada, mas eu sinto que a sua presença está me ajudando a organizar meus pensamentos, a entender o que preciso fazer - disse essas palavras, olhando no fundo dos meus olhos, me fazendo perceber toda a sua sinceridade.

Depois de uma pequena pausa, continuou:

- Eu só não quero que, antes de organizar a minha, eu passe a bagunçar a sua vida. Eu não conseguiria conviver com a ideia de te fazer algum mal.

Eu a abracei novamente e, sem solta-la, eu disse:

- Você já está bagunçando a minha vida, e esta é a melhor sensação que já vivi. - soltei-a, beijei sua bochecha, e comentei: - como você pode ser tão linda?

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