Capítulo 15 - O assunto pendente

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O caminho até o apartamento dela pareceu nem existir. Quando pisquei, já estava lá. Fiquei até pensando se teria passado em algum semáforo fechado, ou acima da velocidade em algum radar, de tão distraída em minha mente que eu estava.
Literalmente hipnotizada.

Toquei o interfone e entrei no elevador, após ela liberar o portão. Minha cabeça doía muito.

Ao abrir a porta, Gizelly me recebeu com um selinho rápido.

- Oi, Rafa. Enfim pudemos nos encontrar - ela disse.

Bom, a julgar pelo selinho, não estava tão ruim quanto pensei. Mas ainda assim, era uma incógnita pra mim. Eu ainda estava muito nervosa, e acho que estava deixando transparecer isso. Então ela pegou na minha mão e me puxou para sentar.

- Rafa, - pausou, como se estivesse escolhendo como me abordar - você percebe que o que a gente tem está ficando muito confuso?

Eu não conseguia responder, não queria forçar nada e muito menos mostrar estar de acordo com o que ela estava fazendo, obviamente estava terminando tudo. Fiquei apenas fitando-a.

- Eu digo... Eu estou uma bagunça, a culpa é toda minha. Eu é que sou essa confusão. - ela disse e esperou eu reagir .

Continuei encarando-a, mas, desta vez, depois de alguns segundos em silêncio e perceber que ela estava realmente esperando uma reação minha, resolvi falar:

- Tudo bem, Gi. Eu te entendo. Não concordo, mas entendo. - pausei brevemente - Eu acho que a gente poderia tentar fazer funcionar, eu realmente queria isso, mas... - fui interrompida:

- Ei, Rafa! - me chamou a atenção - Hellouu, não concorda com o quê? Quem disse que eu não quero que funcione?

- Você! Você está dizendo que é tudo muito confuso, que não dá certo. Aquele papo clichê de "não é você, sou eu".

Ela soltou um riso vendo a minha revolta, o que me deixou meio furiosa. Depois, segurou minha mão, e disse:

- Linda, eu quero que as coisas funcionem, tá? Então pode se acalmar. O que eu estou dizendo é que não dá pra ficar assim. Eu sou comprometida, e eu não sou do tipo de pessoa que tem uma vida dupla. Eu não me sinto bem com isso e não quero continuar na sensação de que o que estamos vivendo é errado. - respirou fundo, evidentemente incomodada com o que acabara de dizer - Enfim, eu acho que preciso resolver isso.

Eu confesso que soltei um leve suspiro de alívio. Não era exatamente o terror que eu estava pensando.

Ela continuou:

- Hoje, quando você falou comigo no intervalo, eu estava falando com o Renato. Ele me mandou mensagem, depois de dias, para perguntar como eu estava, e eu nem consegui conversar com ele normalmente. Eu não sou essa pessoa! - reforçou.

- Eu te entendo, Gi. - falei enquanto tocava sua mão, que estava sobre a sua coxa - Entendo de verdade. O que você pretende fazer?

- Primeiro, eu quero que as coisas entre nós duas estejam bem claras. Quero que você saiba que o que me fez querer terminar com ele foi eu ter me dado a chance de sentir algo novo, você me abriu os olhos e aí eu pude ver que este relacionamento está, mesmo, falido. Está morto, como eu já desconfiava há muito tempo. -hesitou um pouco - Mas eu não quero que você pense que, só por isso, você é responsável.

- Gi...

- Rafa, deixa eu terminar - disse, me causando um certo constrangimento, como se eu fosse uma criança levando bronca da professora por interrompê-la numa explicação. Continuou:

- Eu não quero que você ache que tem a obrigação de ficar comigo, só porque eu terminei meu noivado.

Espero ela continuar, para não ser cortada de novo:

- E eu não quero que, uma vez que eu termine com o Renato, eu acabe sem querer te apressando, ou pressionando.

Depois de ter certeza de que ela havia acabado, começo a tocar seus cabelos, colocando uma mecha atrás da orelha, enquanto falo:

- Minha linda, eu quero ficar contigo e eu duvido que essa vontade vá passar, ainda mais quando você estiver livre pra ser minha por inteira. - ela não tira os olhos dos meus - Mas eu prometo. Prometo que não vou me sentir pressionada, apressada, e nem responsável por isso.

- Isso é muito importante pra mim. - disse enquanto tocava minhas mãos - Só tem mais uma coisa.

- Sou toda ouvidos...

- Ele vem pra cá este fim de semana.

Fiquei pasma. Como assim? Ele nunca tinha sequer pisado aqui nesta cidade em todos esses anos, só ela viajava pra cidade natal dela, onde ele morava. Sempre! E, nesta altura do campeonato, ele resolve vir?

- Quem teve essa ideia? - perguntei, tentando me acalmar.

- Eu disse que iria pra lá este fim de semana, pra gente poder conversar. Eu acho que ele sentiu que o assunto era sério, e disse que ia arranjar um tempinho e tentar vir pra cá, "pra gente aproveitar melhor". Você acha que eu devo negar e insistir em ir?

- Eu não sei, Gi. É um pouco estranho ele resolver vir pra cá justo quando você tá planejando terminar, não acha? Mas eu não sei o que pensar, e, honestamente, nem tenho direito de achar algo.

- Hoje, quando saí pra almoçar com o Pepê, contei tudo pra ele. Ele também estranhou, ainda mais porque ele sabe o quanto eu já insisti, no passado, pra ele passar um fim de semana aqui. - ela entristeceu o olhar - Eu queria mesmo era poder apenas mandar uma mensagem e acabar com isso, mas eu não posso.

- Não, Gi. Apesar de tudo, ele merece ouvir de você. Você tem que falar com ele. Mas, sei lá, é realmente muito estranho ele vir passar um fim de semana todo em sua casa, desculpa. O que vai acontecer quando você falar pra ele? Ele vai continuar aqui?

- É nisso que eu estou pensando. - ela disse - Talvez eu já deixe um hotel reservado pra ele. Ou sei lá, nem sei como ele vai reagir.

- Isso deve ser complicado, né? - falei puxando sua cabeça pra próximo do meu ombro, encostando-a - Mas saiba que eu estou aqui pra tudo que você precisar, ouviu?

- Você me faz muito bem, sabia? - ela soltou essas palavras enquanto passeava seus dedos por um dos meus braços.

- Eu só estou retribuindo, meu bem, toda a felicidade que você me causa.

As palavras fluíram naturalmente, o que me fez pensar: aquela mulher realmente estava me fazendo feliz. Como eu nunca havia estado antes.

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