Em Chamas - Contos Eróticos

O Pecado na Carne

Ele passava as mãos nos cabelos, sentindo o nervosismo entre os fios enroscando nos próprios dedos, assim como a ansiedade descontrolava seus gestos. Fechou os olhos e em segundos parecia um louco puxando os cabelos no canto da sala em penumbra, oculto dos convidados. Seu motivo era que ela ainda estava lá em cima, talvez se arrumando ou apenas o esperando subir para perturbar seus hormônios de novo.

Cansado de esperar e empurrado pela agonia, pediu licença aos convidados e se pôs escada acima, não aguentava mais, iria ter com ela pra saber o motivo de tanta demora. Já estava ficando tarde para servir o jantar, era muita ousadia se demorar assim, era tortura estar com ela em casa, se sentia delinquente por tê-la deixado entrar em sua mente de modo tão profundo.

Parou no último degrau já observando a porta do quarto aberta. Ele sabia o que iria encontrar, mas não conteve os próprios passos e foi rastejando os pensamentos até aquela visão... um quarto escuro, uma luz avermelhada e fosca, e...

O seu coração explodiu no peito, sua cabeça girou e embriagado abriu a boca em silêncio, os olhos presos na imagem do espelho... havia uma silhueta com um roupão de seda lilás escuro e brilhante, seu reflexo estava nu. Ela retocava a maquiagem com uma estranha delicadeza nos gestos, contornava o batom vermelho nos lábios abertos como se pedissem um beijo voraz, mantinha os olhos fechados.

Essa visão era embaraçosa demais para ele, estava petrificado, sem reação, sua única força era o próprio desejo de possuí-la imediatamente! E o que o impedia? Estava lá a alguns passos do corpo dela, enquanto ela ainda terminava o batom, e já nem se via mais o batom... O perfume já ganhava o quarto com seu cheiro estonteante e as gotas escorrendo pelos seios redondos.

Ele nem percebia, mas os olhos dela já estavam fixos em sua ereção vulgar. Ela já sorria vitoriosa com as chama ardentes no olhar, e guiava os pensamentos dele com as mãos dançando voluptuosamente em seu corpo esguio. Estupidamente sedutora, tirava a seda do seu corpo devagar, deslizava os dedos entre suas partes mais íntimas só para deixá-lo ainda mais perdido. Queria-o louco, sabia que tinha um louco dentro dele e ela queria senti-lo com toda força.

Se pôs de frente para ele, o convidando com chamas no olhar, sua alma já se queimava em febre, cheia de desejos. Ela estava molhada e sua umidade já descia molhando suas coxas. Os dois transpiravam sozinhos em cada espaço, ela no quarto, ele no corredor... Ela entregue, ele em transe... Ela servida, ele com fome... Só mesmo os passos dividiam os dois. Anjo e demônio. Pudera ser como quisessem os dois. A única melodia que tocava era de seus corações e suas pervertidas emoções...

E ele esqueceu-se de todo o mundo, perdeu a razão, tomou-a em seus braços fortes, bebeu do veneno naqueles lábios vermelhos como sangue, comeu da carne fresca tão viva nela, mordia, provava o gosto ardente com a língua em cada espaço que era servido. Esse era o seu jantar e estava sedento por sangue. Ela gemia, se contorcia entregue ao monstro, tinha o que queria em seu corpo, dentro de si entrando com força, tocando afundo o seu sexo doentio. Sua carne era quente, sua mente delinquente, perdida agora nas mãos cruéis, assim como gostava.

Na sala as pessoas pararam no tempo, o relógio não soava mais o tick tack de sempre. Os gritos e sons estranhos rugiam de duas feras, um anjo e um demônio em guerra. Um querendo e o outro avançando como desejado. Um fingindo e o outro atacando como esperado. O céu perdeu as estrelas dentro das trevas, as nuvens pesadas estouravam em raios, potentes como os orgasmos daqueles dois seres sombrios.

O relógio parado, o tempo explosivo, tempestade de sonhos realizados. E os dois em êxtase bebiam-se um na boca do outro, descontrolados. E o tempo voltou ao normal conforme a respiração cansada convidada à realidade. De um lado a bela e seu corpo marcado, do outro um monstro vestido em pele de homem, suado, atordoado, mas Dono do tempo e Dono dela. Era o que importava. Um anjo, o outro demônio.