Na manhã seguinte, meu celular despertou. Não que eu tenha colocado, mas - claro - Zupo tem acesso ilimitado e sempre que estava ocupado usava o celular para se comunicar comigo. O que, as vezes, significava me acordar também.
- É claro que hoje você estudou para a prova de Álgebra. - disse Z assim que entrei na cozinha para tomar café antes da escola. Eu ri.
- Não preciso estudar Álgebra, Z.
- Espero que seu resultado seja de acordo com seu aproveito de 97% da aula desse semestre. - esse era Z animado, hoje ele usava marrom. - Dean Beker adicionou você em redes sociais e te enviou uma mensagem, devo ler em voz alta agora ou transfiro para o "spam"? - eu levantei correndo, indo até o quarto pegar o celular, quando voltei Z me olhava de forma curiosa.
- Que?
- Essa é a pessoa que conheceu ontem?
- Sim. Ele é novo na escola. - dei de ombros, curiosa pra ver as redes sociais do garoto.
- Ele se mudou da Califórnia. Tem dezesseis anos, faz aniversário no mesmo dia que você, dia vinte e um, na semana que vem...
- Z. Você não pode ficar falando assim de todo mundo. - interrompi, embora estivesse curiosa. - O que mais? - ele franziu a testa, tentando ler minhas emoções naquele momento. Foi assim que ele aprendeu o que era sarcasmo.
- Seus país são divorciados, tem um hiato de dois meses aí porque ele sumiu do mapa. - quando Z lia informações internas da internet em seu banco de dados, ele realmente parecia um robô. - Ele voltou para a casa da mãe há três semanas e se mudaram pra cá. A mãe dele trabalha com o seu pai hoje, é sua contadora. Contadora é a pessoa responsável por sua finan..
- Eu sei o que é um contador, Z. Pera, a mãe dele trabalha para meu pai?
- Sim. Há exatamente quatro dias, sete horas, três minutos e oit...
- Tá, tá.
- Curioso.
- O que? - indaguei, agora Z me analisava atentamente.
- Seu coração está acelerando. - informou, eu tomei o café em um gole e levantei.
- Retire isso do seu relatório de hoje. Por favor? Por favor? - eu não queria parecer uma esquisita para meu pai e ele pensaria que agora eu estava "fuçando" em sua vida.
- Por que?
- Porque estou te pedindo.
- Ok. Deletei. - ele passou uma mão na outra, como se estivesse se limpando.
- Certo, vamos. - chamei Z ao sair do quarto.
Z não precisava dormir, o que era meio estranho, mas também muito bom porque além de tudo, ele sempre protegia a casa, por isso, ele não tinha um "espaço do Z", então basicamente, ele "dormia na sala" desde os meus 14 anos, que foi quando comecei a achar estranho dividir o quarto com ele.
Z tem ótimos gostos musicais. Ele gosta de rock e também não reclama quando quero escutar alguma música mais agitada, como um pop. Em sua "fase de crescimento" ele tentou aprender rap, o que me fez tentar aprender rap, mas isso não era pra gente e nós desistimos. Embora ouvíamos um cantor muito antigo (mesmo!) chamado Eminem e ambos gostávamos.
Z também gostava muito mais de calor do que o inverno. O que era difícil pra mim, já que no verão todos estão na rua, indo em festas ou fazendo coisas em bando. Z diz que nós somos nosso próprio bando.
Ao chegarmos no colégio ele me lembrou do celular ligado, como todos os dias e nos despedimos.
Antes mesmo de chegar no meu armário, Dean estava com uma camiseta branca e um jeans rasgado, ele tinha um ar grunge embora fosse extremamente cheiroso e limpo. Eu balancei a cabeça pra afastar os pensamentos.
- Bom dia! - disse ele assim que cheguei no armário.
- Escuta, ontem eu...
- Perdeu meu telefone? - interrompeu, com uma sobrancelha arqueada e já desconfiado. Ele devia pensar que estava dando um fora nele ou era retardada.
- Coloquei a roupa pra lavar e esqueci do papel. - sorri, sem graça, tampando o rosto com a porta do armário e pegando o livro de álgebra. Ele riu, sua risada era leve e meio debochada.
- Certo. E o que aconteceu que não respondeu minha mensagem? - merda.
- Bom... não tem muito o que responder de um "e aí". - dei de ombros, fechando o armário e o encarando. Era desconcertante, no mínimo, encará-lo.
- Estamos brincando do "não pisque"? - até eu que nunca tive muito amigo sabia do que ele estava falando. Preciso dizer que um robô não pisca? Eu ri.
- Você perderia, eu treinei muito bem essa brincadeira minha vida toda. - ele sorriu, nós nos afastamos dos armários, onde as garotas do almoço de ontem apareceram. Essas garotas brotavam do chão.
- Bom diiia. - sorriu a de rabo de cavalo extremamente animada, que me chamou de Luana. Eu notei um sorriso forçado no rosto do garoto. - Eu sou a Hannah, lembra de mim? - ela entrelaçou seu braço no braço de Dean, já se afastando - Vi que você está na mesma aula de História que eu e pensei... - e sumiram na multidão.
Eu suspirei fundo, ajeitando minha mochila e conferindo no celular o horário. Vi meu reflexo na tela; meu cabelo loiro avermelhado com minha franja que já estava grande demais na minha testa, quase cobrindo meus olhos cor de avelã, meu nariz e boca finos e completamente normais, e segui para a prova de álgebra.
Quando estava a caminho da aula de inglês, no último período, senti meu celular vibrar, imaginando que Z estava curioso para saber sobre a prova. Mas era uma mensagem de uma rede social.
"ei, foi mal. essas garotas brotam do chão!"
Não disse?
"sem problemas"
"pode anotar meu número agora? haha"
"sim! hehe"
Dean me passou seu número, que eu anotei e mandei ":)"
"Está afim de ir pra praia depois da aula?" , ele mandou no instante seguinte. Que?
- Querida, preciso insistir que guarde seu celular. - a professora estava parada em minha mesa, eu senti corar no mesmo segundo. Eu acenti, guardando meu celular na mochila e puxando o livro.
No final da aula, Dean me aguardava em meu armário, eu me perguntei por um momento se ele não tinha o dele.
- E aí? Topa? - perguntou, eu sabia do que ele estava falando. Meu estômago embrulhou levemente, a ideia de estar na praia onde toda a escola de reunia não era muito convidativa.
- Por que quer ir pra praia? - eu evitei contato visual enquanto guardava minhas coisas, ouvi ele rir.
- Sei lá. Por que as pessoas vão pra praia?
- Por um milhão de motivos. Aqui elas vão pra impressionar uns aos outros. - respondi, fechando o armário e dando de ombros.
- Hm... - ele olhou pra frente, pensativo. - Bom, então o que costuma fazer nas suas tardes? - eu não estava preparada para falar que passava todas as minhas tardes com meu melhor amigo que por acaso era um robô.
- Fico na piscina, leio... sei lá.
- Bom, então usaremos sua piscina hoje. - decidiu ele, já caminhando. - Você não vem? - eu o acompanhei, ainda um pouco perdida no rumo da conversa.
- Você vai pra minha casa? - indaguei, ao chegarmos no gramado da saída.
- Obrigado, aceito seu convite. - ele sorriu, cordial e debochadamente. Eu engoli em seco, se Z estivesse ali ele diria que meu batimento cardíaco acelerara. - Olha, ali está! - ele apontou o Range Rover laranja. - É nossa carona, não é? - eu o acompanhei em silêncio, ainda me perguntando o que eu poderia dizer.
Ao chegarmos no carro, Z me olhou indagativo.
- Esse é o Dean. - anunciei, quando Dean fechou a porta de trás.
- E aí? - Dean sorriu, estendendo a mão para Z.
- E aí? - repetiu Z, apertando a mão de um Dean descontraído e aparentemente confortável com a situação.
- Beleza. - disse ele, sentando-se na ponta do acento, ficando entre Z e eu.
- Preciso que encoste e afivele seu cinto. - anunciou Z, sério. Dean me entreolhou, franzindo a testa e dando risada em seguida, obedecendo.
- Você deve ser o irmão mais velho? - disse Dean, próximo de casa, para quebrar o gelo.
- Não. - respondeu Z, educadamente. Eu não sabia o que dizer. A única vez em que tive uma pessoa indo em minha casa, eu tinha 13 anos e era uma garota da minha turma que tinha ido estudar matemática comigo e nunca mais voltou lá depois de notar que Z era "estranho e esquisito". Acontece que Z ainda estava na fase de aprendizado e toda vez que eu passava por alguma "fase", ele também. E é assim que amadurecemos juntos. - Eu sou o traficante dela. - completou Z, irônico, fazendo-nos gargalhar.
- Eu sou o Dean. - se apresentou ele, quando saiamos do carro.
- Eu sou o Z. - disse.
Nós entramos em casa, notei que Dean parecia um pouco intimidado.
Minha casa parecia uma grande caixa de vidro e cortinas enormes. Ela não tinha inúmeros andares, nem nada do tipo. Era somente de vidro, com carpetes sempre muito brancos e móveis de madeira. Também havia muitas árvores ao redor e podíamos ver a colina que descia para a cidade dali. Dean assobiou ao notar a paisagem.
- Puxa... eu nem sabia que era tão verde. - disser, parecendo admirar a vista.
- Há exatamente três mil...
- Sh. - interrompi Z antes que ele passasse alguma estatística bizarra daquele lugar, Z assentiu, entendendo.
- Aceita um café? - ofereceu Z ao entrarmos em casa.
- Eu não sabia que você era a riquinha. - anunciou Dean, jogando sua mochila no chão ao lado da porta, mas não de uma forma ruim, como se estivesse me julgando. Eu dei de ombros.
- Sei lá... não sou. - ele gargalhou.
- Certo...
- Na verdade, a Família Seth é a terceira mais rica da cidade. Ficando atrás dos He...
- Z, chega. - ralhei, franzindo a testa pra ele. Dean riu alto.
- Ele é muito engraçado. Quantos anos você tem, cara?
- O que quer dizer? - perguntou Z, que sempre ficava divagando com esses tipos de perguntas sobre sua existência.
- Ele é um robô IEA. - disse. Bom, estava aí. Era agora que Dean faria uma careta espantada e agradeceria pela carona e diria que estava na hora de ir embora.
- Cacete! - ele ergueu as sobrancelhas, se aproximando de Z e parecendo admirar cada detalhe. - Ele é perfeito, cara!
- Sou mesmo. - sorriu Z, irônico. - Você ainda não viu meu gosto musical. - ai meu Deus, eu tampei o rosto com a mão, ouvindo Dean gargalhar.
- Mentira! - Dean bateu uma palma que ecoou pela cozinha e a sala. - Lyana Seth você realmente é algo misterioso, não é? - ele se aproximou de mim, ficando ao meu lado e cruzando os braços.
- Bom... se quiser ir, Z pode te levar pra casa. - eu disse, imaginando que o coitado deveria estar apavorado e não vendo a hora de ir embora educadamente.
- Que? Por que? Não quero ir embora!
- Não? - Z e eu indagamos em coro.
- Não mesmo! E aí? Onde está seu quarto secreto? - ele pegou sua mochila de volta do chão, jogando nas costas e esperando que eu lhe mostrasse o caminho. Z e eu nos entreolhamos, nunca tínhamos passado por essa situação.
Nós fomos para meu quarto. Com suas paredes de vidro e cortinas brancas. Eu tinha alguns pôsteres colados de filmes antigos que eu gostava.
- Star Wars... Harry Potter? Hm. - ele andava por meu quarto, parecendo me estudar.
Meu computador ficava em uma pequena mesa feita de tronco de árvore, onde também ficavam algumas roupas jogadas e meu lixo reciclável. Ele pescou um pequeno papel, desenrolando-o.
- Olha aqui o número apagado de Dean. - disse ele, se referindo em terceira pessoa. Eu sorri, sem graça.
- Eu disse. Foi mal...
Meu quarto também dava vista para a piscina, que era coberta com um teto (de vidro) mas que abria e para acessá-la a porta abria de lado, corrediça. Para destrava-lá era necessário a digital de algum morador da casa. Eu me diverti vendo-o tentando decifrar a porta.
- Mas que porra...?
Eu ri, Z parecia estar em modo hibernar à porta do quarto, com um sorriso educado.
Eu me aproximei da porta, colocando meu polegar no local indicado e abrindo-a. Dean me olhou de uma forma um pouco assustada.
- Estou começando a achar que sua família é realmente traficante. - anunciou ele, entrando na área da piscina, que sempre abria o teto quando havia presença de alguém e o tempo estava maior que 24°. E foi o que aconteceu.
Eu já estava tão acostumada a ter casas com muita tecnologia que foi divertido ver a admiração de Dean.
- Puxa...
- Temos refrigerantes, chá gelado, café, vodka e whiskey. Mas essas duas opções não podem ser distribuídas para visitantes menores de vinte e um anos. Você aceita alguma coisa? - disse Z entrando na área da piscina, animado.
- Ah... uma coca? - pediu Dean, sentando na nossa espreguiçadeira de rede.
Eu me aproximei, me sentando na rede ao lado. Uma música começou a tocar, Z gostava muito de uma cantora antiga chamada Billie Eilish, e começou a tocar "hostage", o que era um pouco desconfortável naquele cenário.
Z tinha conexão interna com o sistema de som da casa, por isso, ele podia controlar quando o som saia de sua cabeça, meu celular ou pela casa.
O que era difícil quando você só quer dormir em um domingo e ele está entediado de ficar sozinho.
- Legal... - disse Dean, olhando a vista e relaxado na rede. - Por que você está sempre sozinha? - sua pergunta saiu bem quando Z entrara carregando em um os dois copos de refrigerante.
- As pessoas se intimidam com alguém tão charmoso quanto eu. - respondeu Z, entregando o copo à Dean, que riu.
- Não... sério. Por que? - ele virou pra mim, tomando um grande gole de sua Coca Cola e esperando minha resposta. O que eu poderia dizer?
- Z tem razão.
- Não tem. Ele é demais, por que alguém ficaria intimidado? - ele riu, dando de ombro. Ele realmente não tinha noção do que falava.
- Não sei, Dean. Nem todas as pessoas são iguais. O que quer que eu diga? - ele ficou em silêncio, me olhando alguns segundos e então virou para Z.
- Ela disse que é nova na escola. Você quem dava aula para ela? - perguntou ele, curioso, para Z.
- Não. Lyana passou por 13 mudanças até a data de hoje. Faz setecentos e vinte dias, uma hora, treze minutos e um seg....
- A gente se mudou pela última vez ha pouco mais de um ano. - interrompi. Dean estava boquiaberto ao me olhar.
- A memória desse cara é incrível.
- Eu não sou um cara. - corrigiu Z. Dean pareceu confuso.
- Não?
- Não, eu sou uma máquina desenvolvida para crescimento e apoio de crianças com capacidades de desenvolvimento Intelectual e emocional. - informou, Dean olhou pra mim.
- Ele é um robô que cresce conforme eu cresço. É isso. Às vezes é como conversar com você mesmo. - expliquei, Dean gargalhou.
- Isso é foda demais! - ele parecia genuinamente fascinado. Ele levantou, tirando a camiseta e a calça, ficando com uma bermuda de praia.
Sua pele era mais bronzeada que a minha, ele também parecia praticar exercícios físicos com frequência. Eu olhei espantada para Z enquanto Dean pulava na piscina.
Z imitou Dean, mas tirando somente sua camiseta e pulando com sua bermuda azul marinho também.
- Vem! - convidou Dean, ao emergir do fundo da piscina.
- Seu coração está ace...
- Z, cala a boca! - interrompi, tirando a camiseta e a calça jeans e pulando na piscina. Eu estava somente de calcinha e sutiã pretos mas Dean não pareceu se importar.
Nos três ficamos na piscina. Dean desafiou Z a chegar na outra borda primeiro, o que é claro que Z ganhou, mas Dean era muito competitivo.
Depois de algum tempo ali, nós nos esquentamos no sol e Z se ofereceu a levar Dean, eu notei que já era quase hora de papai chegar. Por isso, nos três logo saímos de casa para levá-lo.
Dean morava na outra extremidade da escola, perto de onde mamãe morava. Eu me perguntei como ele tinha conseguido entrar na escola, que era distante do bairro dele e... bem, parecia um pouco cara.
Dean não passava necessidades nem nada, sua casa pareceu bem grande (eu também pude notar um sótão no alto), de madeira e em um tom amarelo muito aconchegante. Não parecia com seu estilo grunge e eu lembrei do que Z tinha dito sobre ele ter se mudado recentemente para morar com sua mãe.
- Obrigado pela carona... foi muito divertido. - ele deu um toque de despedida em Z, ensinado naquele momento, como um soco de leve e dando a volta até minha porta. - Até amanhã? - ele pareceu envergonhado, o que me fez sorrir.
- Até.
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o MELHOR verão de nossas vidas
RomanceVocê já imaginou crescer tendo um robô como melhor amigo? Lyana viveu anos ao lado de Z, seu melhor amigo que não envelhece e aprendeu direitinho o que é sarcasmo. Mas o que será que vai acontecer quando esse garoto Dean aparece de repente na sua v...