Tacos e fritas

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A segunda chegou, trazendo a última semana do meu segundo ano letivo.
E então, as férias começariam e somente em setembro eu voltaria para meu último ano.
Z entrou no quarto, não esperando me ver acordada e já arrumada para a escola.
Ele segurava vários balões hélio coloridos. Z gostava muito de aniversários, o que também foi uma forte característica minha até ano passado, onde fiquei traumatizada com a viagem horrível que  papai programou de nove horas de Carolina do Norte - onde morávamos hoje - até Orlando, onde chegamos exaustos demais para tentar ir em algum parque temático.
Ainda assim, eu sorri, animada.
- Bom dia!
- Aqui temos 16 balões coloridos. - anunciou ele como se eu não conseguisse ver.
- Eu adorei, Z. - agradeci, lhe abraçando.
- Imaginei que hoje não faltaria a escola, por isso, deixei nosso almoço de tradição em um refratário térmico, caso queira levar para a escola.
Nossa almoço de tradição da "semana de aniversário" era basicamente o que comia todos os dias no colégio: besteiras. Eu ri, balançando a cabeça.
- Obrigada, Z.
- Não se esqueça de evitar glicose. O alto consumo pode...
- Trazer problemas de saúde. Eu sei. Pode deixar!
Z me esperou tomar o café da manhã, se conectando à geladeira da casa para anotar o que faltava de consumos. Z era um ótimo dono de casa também e muito organizado.
Z era minha "pessoa favorita".
Ao chegar na aula de filosofia, encontrei Dean onde eu geralmente sentava. Ele pareceu notar meu desconforto ao me aproximar e sentar na mesa em sua frente.
Dean passou a manhã e o almoço ao meu lado, sem abrir a boca. Foi como ter acabado de adquirir um novo Zupo, que me acompanha pra cima e pra baixo. A diferença é que Zupo, no início, nunca fechava a boca.
  Depois do almoço, Dean não tinha as mesmas aulas que eu, por isso não nos reencontramos. Tampouco no horário da saída, onde eu o esperei alguns instantes em meu armário mas ele não apareceu.
  Na verdade, ele só apareceu novamente na quinta feira, me dando um susto quando eu fechei a porta de meu armário, vendo-o brotar ali e rir de meu susto.
- Você se assusta muito fácil. - sorriu, como se não tivesse ficado quase a semana inteira sem falar comigo.
- Bom dia pra você também. - eu pareci mais grossa do que pretendia, mas não ia pedir desculpas. E, como num novo passe de mágica, Hannah e sua companheira apareceram atrás de mim, sorrindo para Dean, que hoje usava uma camiseta preta de um banda grunge, o cabelo claro bagunçado no seu estilo usual e sua calça jeans larga e desbotada.
- Olá, Dean. - disse Hannah, naquela voz em forma de miado ridículo e irritante.
- Olá, meninas. Agora não, tá? Até mais tarde. - Dean me puxou de leve pelo braço, nos afastando delas a caminho da aula de artes. Eu ainda devia olhá-lo incrédula ao chegarmos no corredor. - Eu sei. Eu sei. - ele sorriu de lado, soltando meu braço. - Escuta... queria te pedir desculpa.
- Desculpa?
- Por aquele dia... na sua casa.
- Certo. - eu encostei, ao lado da porta.
- Então amanhã é nosso aniversário? - seu olhar brilhou, ele chegou um pouco mais perto. Perto demais, eu dei um passo pra trás, nervosa.
  - Isso. - sorri, sabendo que meu rosto deveria estar rosa.
- Então nós vamos para uma festa.
- Que?!
- Sim. Te busco na sua casa às sete, o que acha?
- Acho que tenho pouca informação. Quem disse que eu gosto de festa? - ri.
- Eu também não gosto. Podemos não gostar e ir juntos. - ele tocou seu ombro no meu, sorrindo. - Até mais tarde, então.
Na hora do almoço, Dean apareceu na mesa da "galera".
- Ei! Lya, bem aqui. - me chamou assim que me viu, carregando minha bandeja com os absurdos que Z comprou na lanchonete. O almoço de hoje era tacos de feijão picante com fritas.
Houve um silêncio constrangedor quando eu me sentei com eles, havia muito deles ali, parecendo todos iguais com suas roupas de torcida ou camisetas do futebol.
- Finalmente alguém com comida de verdade! - exclamou um deles arrancando umas risadas do grupo, eu reconheci Tim da minha aula de artes e filosofia, ele era do time de futebol e pescou umas fritas do meu prato.
- Essa é a Lyana. - anunciou Dean.
- Nos fazemos aula de biologia juntas. - disse uma das garotas líder de torcida, a única que usava o cabelo castanho solto e sua pele não parecia brilhar. - Eu sou a Bethany. - ela sorriu e cada um começou a se apresentar.
- E aí? - disse, meio perdida quando todos me cumprimentaram.
- Você não é a garota que tem um irmão robô? - Hannah perguntou com sua cara angelical mas com maldade no seu tom de voz. Pronto, era ali.
- O nome dele é Z. - respondeu Dean, animado. - Cara, é demais! Ele sabe de tudo. Sério, se vocês quiserem saber qualquer coisa.
- É pra isso que existe celular. - uma delas, Bárbara, deu de ombros, nenhum pouco interessada.
- Mas seu celular não fala com você... e aposto que não é sarcástico. - riu Dean, me olhando. Eu sorri, como agradecimento. Ele não fazia tudo parecer uma grande bizarrice.
- Se ele sabe de tudo, por que você precisa estudar? - indagou John, o capitão do time de futebol. Todos me olhavam, curiosos.
- Acho que meus pais imaginavam que eu fosse me dar bem com pessoas mesmo tendo crescido com um robô. - respondi, dando de ombros. Eles deram risada, mas não em forma de deboche.
O almoço passou depressa demais e eu notei que continuei com fome, todos os garotos do time passaram o almoço comendo junto de mim... da minha comida.

o MELHOR verão de nossas vidasOnde histórias criam vida. Descubra agora