Espero que não tenha se esquecido que eu ainda tinha uma festa para ir.
Coloquei minha melhor roupa "luau", o que consistia em um shorts jeans, tênis e a parte de cima de um biquíni branco ( fazia exatamente 29° aquela noite).
Z também estava muito arrumado, ele tinha deixado seu cabelo bagunçado como Dean usava e adquirido o tom verde água para suas camisetas e uma bermuda marrom e chinelos.
- Puxa! Está maravilhoso. Pronto para uma namorada! - ri ao vê-lo.
Você deve imaginar como minha mãe e meu pai estavam. Não, não estavam preocupados. Na verdade, os sorrisos na cara dos dois parecia que era a noite de minha formatura e eu era uma forte candidata à rainha do baile.
- Uma foto!! - exigiu papai, pegando seu celular. Z e eu nos abraçamos, fazendo caretas.
- Agora chega, vai... - resmunguei. A campainha tocou, todos nós já estavam parados à porta, então Dean pôde nos ver do outro lado do vidro, em um aceno tímido.
- Boa noite, Sr Seth. Eu sou...
- Dean Beker, é claro! - meu pai se aproximou, dando um aperto de mão em um Dean extremamente envergonhado. - Sua mãe fala muito de você.
- Fala, é? - dissemos Dean e eu em coro.
- Mas é claro! Está gostando da Carolina do Norte? Meio diferente pra quem veio da ensolarada Califórnia, não é? - meu pai riu, Dean jogou o cabelo de lado, sorrindo ainda tímido.
- Não... na verdade, aqui é um lugar incrível. - disse, olhando pra mim.
- E que ótimo que ficaram amigos! - continuou minha mãe, até Z imitava meus movimentos jogando o peso do corpo de uma perna para outra.
- Estamos impacientes e atrasados. - constatou Z, fazendo papai erguer as sobrancelhas. - A festa teve início há quatorze minutos atrás de acordo com a agenda de Dean. Devemos ir andando... - Z começou a caminhar quando mamãe e papai gargalharam.
- Acho que alguém está ficando adolescente...! - riu papai, tocando no ombro de Z. - Escute, muito cuidado. Em festas ha coisas que oferecem que não devem aceitar. Fiquem somente com as bebidas que vocês pegarem.
- Carl!! Não deve dizer isso...
- Mas eles vão beber de qualquer jeito! Ou você nunca teve dezessete anos? - ele disse em um tom malicioso. - Eu lembro muito bem de como você ia para as festas e...
- Ok! Estamos vazando. Tchau! - interrompi, puxando Z e Dean para fora de casa.
Dean riu ao entrarmos em seu carro. Ele tinha uma picape vermelha um pouco antiga, que combinava muito com seu estilo. Z sentou-se confortável no banco de trás. Dean se virou, olhando diretamente pra Z.
- Cara, você tem uma missão agora. - começou ele, Z se inclinou pra frente, prestando atenção. - Quando voltarmos da festa, você deve falar com os pais dela para que eles permitam que a gente faça uma pequena viagem.
- Pequena viagem?
- Isso. Iremos para Nova York.
- Quem?
- Eu, ela e você, é claro! - respondeu Dean, como se fosse óbvio.
- Nós iremos para Nova York?
- Exato. Acha que consegue convencê-los?
- A probabilidade de aceitarem uma viagem é de 72%, visto que não viajamos há...
- Nós falaremos com eles juntos. - interrompi. - Eles tem que deixar a gente viajar! A gente nunca viajou sozinho, Z!
- Tecnicamente, antes de completar 11 anos sua mãe pediu para que eu te levasse para um passeio de navio. É uma pequena viagem. - eu revirei os olhos.
- Estou falando de algo legal, Z!
- Eu adquiri muito conhecimento naquela viagem. Você sabia que um porto...
- Tá, tá. Obrigada, Z. - sorri, segurando sua mão. - Nós vamos conseguir. - disse para Dean, empolgada. - E essa festa? É de quem, afinal?
- Uma galera da escola. - Eu já sabia de quem ele estava falando. Olhei para Z pelo retrovisor, desejando que as pessoas não fingissem que ele não estava no local para falar mal dele, como sempre fizeram desde pequena.
Mas não foi assim que nos recepcionaram. Ao sairmos da picape, nós estávamos próximos à praia e havia mais adolescentes do que cabia em nossa escola inteira, definitivamente. As ruas estavam cheias e parecia spring break.
John, Tim e outros três garotos que tinham corpos de quem jogava futebol americano todos os dias, se aproximaram com enormes sorrisos.
- E aí, cara! - John cumprimentou Dean. - E você trouxe visitas! - ele riu, cumprimentando Z com o mesmo toque desajeitado de Dean.
- Essa é minha namorada, Lyana e esse o irmão dela, o Z. - namorada? Irmão?
- Bom, irmão nã...
- E aí, cara? Curti essa camiseta, hein? Vem, vou te apresentar a galera... - John interrompeu, já puxando Z junto deles. Eu senti um leve pânico, como se temesse que Z fosse entrar em modo hibernação ou pifar ali mesmo até explodir.
Mas nada aconteceu. Z pareceu animado conforme nós o seguíamos rapidamente. Eu olhei um pouco surpresa para Dean.
- Você disse que eu sou sua namorada? - cochichei, antes de entrarmos na enorme casa que estava tocando música eletrônica.
- Mas você é. - ele sorriu, me dando um beijo rápido mas que me fez estremecer de empolgação.
Z em menos de quinze minutos já estava extremamente enturmado. Alguma das meninas da equipe de líder de torcida anunciou que ele era um robô e causou um mini furacão instantâneo.
- Cara então que horas são agora na Australia?
- Quanto tempo demora pra nadar daqui até o oceano Atlântico?
- Onde eu compro a melhor maconha da cidade?
- Qual a maior potência de som que você consegue atingir?
Essas eram as inúmeras perguntas que abordavam Z, que respondia todas em êxtase.
- Seu robô é muito legal! - riu Bethany, da equipe de líder de torcida ao sentar perto de mim e Dean.
- Eu vejo o Z mais como irmão mais velho da L. - riu Dean. - É muito estranho chamar o cara de robô. - Bethany pareceu analisar o pensamento de Dean, que me confortou. Embora Z fosse somente um robô, ele era muito mais que aquilo.
John apareceu com um dos garotos enormes, que eu lembrei que se chamava Fabian e levou Bethany dali.
Dean e Eu continuamos sentados, no enorme quintal em frente à praia da casa onde estávamos.
- Eu queria te agradecer por... sei lá, não ter me achado um marginal idiota. - ele disse, olhando para o copo vermelho em sua mão com uma cerveja já quente. Eu ri.
- Eu nunca te acharia um marginal idiota... talvez só idiota. Afinal.... quem assalta uma loja de conveniência? - ele me empurrou de leve com o ombro. - Eu te agradeço por não me achar uma esquisita.
- Mas eu acho.
- Háhá! Falo sério... as pessoas não se sentem muito confortável em ser amiga de uma menina que só teve um robô como referência de amizade... - ele virou meu rosto pra ele.
- Minha mãe falou que sua família muda demais. Mas eu aposto que não se mudarão tão cedo. E... se mudarem, você pode deixar o Z de presente pra mim? Estive pensando se caso for possível trocar a fisionomia dele, talvez ele possa terminar o terceiro ano pra mim.... ou trabalhar, ir à faculdade, namorar as garotas...
- Achei que eu fosse sua namorada.
- Você é a minha. Mas e o Z? - Eu olhei pra Z, que segurava dois caras de ponta cabeça em uma só vez para tomarem cerveja do barril.
- Ele já está enturmado. - ri.
Nós ficamos ali, bebendo e conversando sobre tudo. Ele falou que seus pais se separaram depois que o pai dele parou de trabalhar, então só queria beber e a mãe dele não aguentou mais. No final das contas, ninguém aguentava mais ele. Embora ele ainda conversasse com o pai de vez em quando.
Eu contei para ele sobre todos os lugares que eu morei. Desde Oregon, para Iowa, Maine, Texas, Dakota do Sul e essas foram só algumas até chegarmos em Carolina do Norte.
- Se minha mãe não trabalhasse para seu pai, eu diria que sua família é da máfia. - brincou ele, me fazendo rir.
E então ele me contou como sua mãe lhe dizia que a cidade era incrível, com pessoas educadas e todo aquele blá-blá-blá.
Dean fazia tudo parecer mais simples, mais fácil. Como se as pessoas não fossem grosseiras, rudes e pouco empáticas. Se bem que, de fato, desde que Dean chegara, as pessoas pareciam agir melhor. O que me fez lembrar de Z.
- Cade o Z?
- Vamos entrar, deve estar com os caras.
Nós chegamos na cozinha, para encontrar um Z abrindo um novo barril só com uma mão. Eu não sabia que ela conseguia ser tão forte. Dean e John conversavam e eu notei quando este passou um molho de chaves para Dean, dando tapas em seu ombro com um sorriso largo.
Eu estava animada, em poucas horas nós sairíamos para nossa própria aventura. Nossa primeira viagem (não, o "navio" aos 11 não conta!). Eu notei Tim e Bethany em um canto da parede, próximos às escadas, Bethany parecia encurralada e desconfortável enquanto Tim, que tinha quase a metade de seu tamanho, se aproximava de seu pescoço.
Antes mesmo que eu pudesse pensar em algo, Z pareceu ler meus pensamentos. Afastando Tim de Bethany.
- Bethany demonstrar níveis de estresse e insegurança nesse momento. Não é apropriado que... - começou Z, mas Tim lhe empurrara, visivelmente embriagado.
- Ela é a minha namorada, tapado. - ele apontou o dedo na cara de Z, que arrumou sua camiseta e se aproximou novamente.
Tim puxou Bethany pela cintura, que deu um miado em forma de choro. Z puxou Tim pelo braço, o empurrando com a outra mão.
- Você não deve fazer isso.
E, no instante seguinte, todos gritavam como se Z fosse um lutador e ali fosse a final. Dean me puxou pela mão, onde puxei Z antes de Tim lhe soltar um murro e Z puxou Bethany.
- Z, leva meu carro! - Dean jogou a chave para Z, Bethany entrou sem reclamar ao seu lado no carro.
- Vai. Pode ir! Vão pra casa. - disse para Z, um pouco eufórica. - Aonde vamos? - perguntei, nervosa, para Dean.
- Pegar o trailer, vem. - ele me puxou novamente para a frente da casa, onde havia um pequeno trailer que parecia um carro antigo mas adaptado com pequenas camas, um fogão de acampamento e muitas almofadas. - Sobe, vamos. - Dean abriu a porta para que eu entrasse e, embora o carro parecesse antigo, ele andava bem rápido.
Em pouco tempo nós estávamos na frente se casa e encontrei Z consolando uma Bethany chorona. Eu lembrei de como chorava quando era criança e Z sempre foi um ótimo amigo.
- Você está se sentindo bem? - perguntei a Bethany ao chegarmos. - Vamos entrar pelos fundos, meus pais devem estar dormindo agora.
- E-eu ja ti-tinha dito q-que eu n-não quer-queria mais, Ly. - a garota tinha acabado de me apelidar? Ela ainda se segurava em Z conforme íamos andando e Dean segurava firme minha mão.
- Vocês terminaram? - perguntou Dean, falando baixo conforme entrávamos em casal. O lado bom de termos paredes de vidros é que tínhamos sistema antirruído, logo, meus pais não escutariam sua filha e Z entrando com dois adolescentes estranhos em casa. Bethany explicava como queria terminar com Tim, o garoto grande do time de futebol, que também era um pouco possessivo e não queria aceitar o término do namoro, ameaçando se matar.
- Não havia indícios em seu cérebro ou no sangue que condizem com essa atitude. Tim estava embriagado e violento, não suicida. - Z usava um tom de voz um pouco mais calma, uma voz que eu não reconhecia, mas que era reconfortante.
- Você quer viajar com a gente? - perguntei, sem ter nada melhor a dizer àquela pobre garota que eu nem conhecia. Mas um sorriso largo apareceu em seu rosto.
- John me contou que vocês três vão a Los Angeles! Você está me convidando? - ela parecia feliz por ser chamada pra viajar pela garota esquisita da escola, aquilo me fez rir.
- Isso. Vai ser legal ter uma garota por perto. - sorri, dando de ombros. - E é só alguns dias. Será que seus pais...?
- Com certeza! Eles já foram viajar essa semana e estão em Nova Jersey pra visitar nossa família. Eu vou adorar acompanhar vocês. Você também vai, Z? - Eu conhecia aquele tom de voz dela, o mesmo tom de voz que eu usava antes de pedir um beijo para o garoto homossexual de onde eu morava. Eu senti meu coração apertar, mas estava feliz com aquilo. Será que Z seria capaz de sentir o que a garota estava sentindo? Ele segurou na mão dela assim como Dean segurava a minha.
- Sim, eu sempre acompanha a L. - ele sorriu para nós.
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o MELHOR verão de nossas vidas
RomansaVocê já imaginou crescer tendo um robô como melhor amigo? Lyana viveu anos ao lado de Z, seu melhor amigo que não envelhece e aprendeu direitinho o que é sarcasmo. Mas o que será que vai acontecer quando esse garoto Dean aparece de repente na sua v...