7. Esperança

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JACKSON

Mais uma vez eu havia virado a noite, lendo e relendo o relatório sobre o caso. Vi e revi a única coisa que poderia ser considerada como prova: um fio de cabelo loiro, pelo teste de DNA feito soubemos que era, de fato, da mulher sequestrada.
Mas uma pista mais relevante, que trouxesse a tona chances de achar o sequestrador... não. Não havia nenhuma. Era por isso que eu digo não ter provas. Não há nada que mostre um rastro, que me leve até a garota.
Meu chefe, por outro lado, estava sempre me lembrando do tempo que me deu para achar uma pista.
Para alguém em seu posto, ele anda desesperançoso demais para o meu gosto.
Quero dizer, se meu chefe chegou onde está hoje, com esse cargo, com toda certeza não foi deixando casos em aberto, desistindo tão fácil.
Quando entrei para o FBI sabia que haveriam casos que demorariam anos.
Eu tive muita, muita sorte de estar neste emprego desde os 24 anos.
Até hoje tive casos pequenos, rápidos, onde os criminosos não eram tão minuciosos e inteligentes.
Mas este aqui, deste caso, era um homem inteligente e meticuloso o suficiente para não deixar uma única pista. Ele esperou o momento perfeito, então, atacou.
No dia da perícia não haviam marcas de sapatos que evidenciassem algo. E mesmo que tivesse, seria impossível achar o do sequestrador. É um corredor de apartamentos, o que mais tem naquele chão são marcas de sapatos.
Quase um ano basicamente na estaca zero. 257 dias, para ser exato.
O relógio marcava 3h45 da tarde.
Normalmente era a hora que eu saia para comprar algo de comer, em sua maioria donuts e cafés.
Isso talvez me fizesse parecer aqueles policiais mais velhos de filmes, sempre parados dentro de suas viaturas comendo donuts e tomando café.
A diferença é que não sou tão velho, e nem gordo, como na maioria dos filmes. E muito menos descuidado e distraído.
Mas o que posso fazer? São donuts! São gostosos demais.
Coloco o relatório em cima da mesa finalmente e esfrego as têmporas. Tenho pouquíssimo tempo para achar uma pista. Uma única e miserável pista.
Isso me deixa nervoso. E também empolgado, devo admitir.
Porém, neste momento, estou mais estressado do que gostaria de estar.
— Agente Chadwick. — ouça a voz de meu chefe e movo os olhos na direção de onde o som veio. Meu parceiro, Matthew, olha para mim e passa o dedo polegar na garganta e sorri assim que termina seu gesto. — Agente McCreary.
Direciono para aquele idiota um sorriso debochado e ergo as sobrancelhas.
— Estou indo, senhor.— Respondo e me levanto em seguida, caminhando até a sala de meu chefe. Matthew está logo atrás, vez ou outra jogando charme para as assistentes ali presentes, espalhadas pelo ambiente.
  Entramos na sala e automaticamente meus olhos vão para a plaquinha em cima da mesa de madeira escura, envernizada. Não havia detalhes, era uma mesa simples, mas ainda sim muito bonita. E limpa.
Na placa estava o nome de meu chefe " Negan Beaumont "
— Aconteceu algo, senhor?— Matthew perguntou assim que nós nos sentamos.
— Tenho uma boa notícia para vocês.
Matt e eu nos entreolhamos.
— Hoje recebi a ligação de um policial. Na verdade, faz cerca de cinco minutos. — começou ele, gesticulando com as mãos e se recostando desajeitadamente no encosto da cadeira, que logo se inclinou para trás.— Uma senhora, dona de uma lanchonete, ligou para a polícia relatando ter visto um sequestro em frente ao seu estabelecimento. O policial averiguou as imagens das câmeras, e, voilá, Julie Andrews era o rostinho nas gravações.
Arregalo os olhos e olho para meu parceiro, que pela sua expressão ele está tão surpreso quanto eu.
A garota conseguiu fugir, mas fora pega novamente. Porém, dessa vez, tínhamos uma pista que poderia solucionar tudo, que poderia nos levar até ela.
As chances de a vítima conseguir escapar são basicamente nulas. A garota deve ser muito inteligente para ter conseguido, mesmo que por instantes.
Nenhuma conseguiu, supondo que seja o mesmo serial killer.
Porém, agora ela pode estar morta. Ou ainda sendo torturada.
De toda forma, acharei ela. E tomara que seja viva.
— Vou atrás agora mesmo.
— Sem pressa, já mandei que aguardassem a sua ida.— disse meu chefe, sem se mexer muito e com expressão de tédio. Eu nunca soube por que de tanta frieza e indiferença com esse caso.— Façam seu trabalho, e boa sorte.
Ele nos dispensou com um gesto simples de mão, quase como desdém.
Mas resolvi ignorar.
A euforia por ter uma pista absurdamente boa não seria abalada pelo mau humor do Negan.
De forma alguma.
— Acha que temos chance de achar a garota ainda viva?
Olho para Matt com um leve receio pois eu também tinha essa dúvida.
— Se formos rápidos, talvez a garota ainda tenha chance.
— Parece que alguém lá em cima resolveu ajudar a pobre menina.
— Ela tem 19 anos. É uma mulher.
Encaro Matt com uma sobrancelha erguida.
— Você sabe exatamente o que eu quis dizer, idiota.
Não demorou muito para chegar até o carro e sair da nossa base.
Nova York estava, como sempre, movimentada demais. O que me deixava lento demais.
Pego um atalho atrás do outro para chegar o mais rápido possível no local. Meu chefe já havia mandado o endereço por SMS, então chegar lá não seria difícil, sem contar o trânsito.
De toda forma, a pista estava há poucos minutos de mim, e, talvez, a solução deste caso.

Fragmentada (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora