Depois de ficar um tempo sozinha, ouço a porta abrir novamente e passos ecoarem pelo quarto.
O som do metal rangendo me indica que a porta está fechada mais uma vez.
Eu não conseguia ver nada. A venda em meus olhos ocultava qualquer tipo de luz.
— Ah, minha doce Julie.— aquela voz. Eu jamais esqueceria. Era ele.— O que ele fez com você não foi certo, sabe? Você é minha e ele ousou tocar em você.
Permaneci em silêncio, tentando manter a respiração controlada enquanto a mão dele tocava minha bochecha com uma suavidade nojenta.
— Não tinha outra escolha a não ser o matar. Veja bem, ele faria de novo e eu não admito erros na minha equipe. Sou um homem muito correto.
— Vá para o inferno.— consigo dizer. Eu Não iria me calar, se fosse para morrer, eu não morreria em silêncio.
Ele dá risada.
— "Vá para o inferno" ? Passar tanto tempo sem ouvir sua voz me fez esquecer o quanto tem a língua afiada e é espirituosa.
— Mais uma vez, vá para o inferno! Seu desgraçado, não toque em mim! — Digo entre dentes e mexo a cabeça com rapidez e tento morder sua mão.
Eu consigo e aperto com força.
Ele grita de dor e puxa a mão de uma só vez.
— Filha da puta!
Ele me acerta um tapa forte no rosto.
— Eu achei que aquela surra tivesse sido lição suficiente para aprender a não me enfrentar! — ele berrou e ouvi a cadeira ser jogada longe.
Meu deus, ele é louco. Não é apenas um estuprador maldito e um sequestrador, ele é insano.
— Talvez uma lição mais forte agora faça você aprender. E eu quero que você veja exatamente o lugar onde irei te machucar.
Mais uma vez ele arrancou a venda que estava em meu rosto, e mais uma vez o dele estava com uma máscara.
Era simples e sem detalhes, completamente preta. A única abertura eram dois pequenos furos na região do nariz e a abertura para os olhos.
Ele me segurou com força e me desamarrou da cama.
Eu tento chutar suas bolas, mas, aparentemente ele imaginou que eu fosse fazer isso e me jogou no chão antes que eu pudesse terminar o ato.
Minhas costas doeram com o impacto e perdi o ar dos pulmões, ficando levemente zonza.
Ele aproveitou essa deixa e me colocou em uma cadeira enquanto eu me esperneava. Suas mãos eram firmes e ágeis e fortes, meus movimentos mal o desestabilizava. Ele me amarrou, fazendo meus pulsos doerem com a força em que a corda estava presa ao redor dos mesmos.
— Você não vai tocar em mim de novo! Nunca mais! — eu gritava mesmo sabendo que não adiantaria.
— Ora, minha linda, é claro que vou.
Sua voz saiu rouca dessa vez enquanto ele segurava uma barra de ferro e uma arma na mão.
— E das próximas vezes você estará acordada, vendo tudo que sou capaz de fazer com esse seu lindo corpo.
— Você é doente!
As lágrimas escorriam por minhas bochechas.
Mas ele estava rindo, e rindo muito.
— Todas dizem isso. Eu apenas creio ter um gosto peculiar. Vamos começar, linda?
— Você vai queimar no inferno!
Imaginei que ele estivesse sorrindo atrás daquela máscara pois seus olhos criaram pequenas rugas nos cantos.
Ele se aproximou a passos lentos.
Eu não iria implorar. Era a única dignidade que me restava.
Mas as lágrimas eram incontroláveis.
Ele me rodeou e observou, assoviou e soltou uma risadinha e então eu senti, bem na coxa.
O metal frio encontrando pele e carne e osso com força. Eu gritei de dor e me curvei o quanto consegui por pura reação. Me ergui novamente puxando o ar e sentindo as lágrimas escorrerem, joguei a cabeça para trás e fechei os olhos com força.
Mas não consegui reagir mais que isso.
Dessa vez a barra me acertou na boca do estômago. Perdi todo o ar dos pulmões.
Ele não deu tempo e meu rosto foi jogado para o lado com tanta força que eu senti o gosto de sangue. Senti o líquido escorrer pela minha boca. A minha cabeça estava pendendo em meu pescoço, sem força.
— Perdeu a voz, meu doce?
Ele me acertou outra vez na boca do estômago e eu não consegui gritar. Estava tão imersa na dor, no sangue escorrendo que meu cérebro mal assimilou o último golpe.
Meus olhos alternavam entre uma visão normal e borrada. Haviam vários pontos luminosos na minha frente.
Ele se abaixou na minha frente e segurou meu rosto com uma mão.
— Eu quero você acordada.
A sensação de dor foi diferente dessa vez. Algo parecia me queimar por dentro.
Foi quando me dei conta de que era uma arma de choque que ele segurava antes, e agora a usava em mim.
— Continuamos depois.
E assim ele simplesmente se foi. Cansou de brincar e torturar.
Eu fiquei ali, presa na cadeira com a dor de companhia.
Aquela sensação, aquela dor, tanto física quanto mental me fez ruir completamente. Era o fim do meu mundo, pois eu me sentia morta. E mortos não caminham por aí.***
Eu não me lembro em que momento exatamente a consciência me deixou, e muito menos sei por quanto tempo fiquei apagada.
Mas eu conseguia ouvir tiros, e gritos exclamando ordens.
A porta foi aberta, fazendo uma leve claridade entrar no cômodo mofado e sujo.
Minha visão ainda estava turva. Ergui o olhar para o homem alto que adentrou o quarto e apenas quando ele se abaixou na minha frente pude ver seus traços com clareza.
Olhos verdes. Cabelos loiro escuro. Feições fortes e marcantes.
Suas mãos trabalhavam agilmente para tirar o que quer que prendesse meus pulsos.
Senti um alívio enorme quando o material se soltou da minha pele.
O homem de olhos verdes me pegou em seus braços e falou algo para outros homens do lado de fora, algo que meus ouvidos falharam em ouvir.
Eu podia ver seus lábios se movendo e seu olhar focado em mim. Sua voz estava tão distante que eu não conseguia entender uma única palavra que saia da sua boca.
Uma luz mais forte invade meus olhos, fazendo eles doerem.
Pude ver mais silhuetas.
Escadas.
E então, a escuridão me deu boas vindas mais uma vez.
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Fragmentada (PAUSADA)
RandomHá exatos 257 dias, Julie Andrews, de 19 anos, não vê a luz do sol. Confinada em um quarto sem janelas, a enfermeira mantém a mente ocupada, buscando uma forma de não enlouquecer. Ou coisa pior. Sem qualquer contato com o mundo fora daquele quarto...