nunca confie numa curtida no instagram

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Uma curtida no Instagram

ou

Nunca confie nos seus reflexos

Nunca confie numa curtida no Instagram



Ela estava fodida.


Era isso. De todos os pecados que ela já havia cometido - e não eram poucos, diga-se de passagem, pois como assim você gostava de Glee? - esse com certeza seria o que bateria o martelo. O juiz que cuida daqueles que vão pro céu ou o inferno não teria dúvidas. Dane-se ajudar a velhinha atravessar a rua, tentar estudar para tirar boas notas (Esse tipo de coisa nessas horas conta? E ênfase no tentar), salvar gatinhos de árvores, respeitar os mais velhos... nada disso ajudaria. Inferno. Sem recursos ou tentativas de redenção.


"Em minha defesa-"


"Você realmente tem algo a dizer em sua defesa?" - Diria o juiz.


Em sua defesa, essa não era sua intenção. Sim, ela conhecia os riscos, mas o que seria a vida sem um pouco de adrenalina. Não é por isso que tem gente que salta a quilômetros de distância? Andam em montanhas-russas que buscam desafiar a física? Ela só havia encontrado uma forma de ter essa sensação, em menor volume, mas com a mesma noção de perigo. É por isso que quando tudo dizia "pense bem, olha a merda que vai acontecer se der errado, volta dois passos pra trás e pensa", ela continuou em frente. Na verdade, continuou rolando pra baixo. Ela estava no segundo ano do ensino médio, na idade pra fazer merda, ora.


OK, pausa pra respirar. O que ela fez não deve ter sido tão horrível. Ela deve está só exagerando. Não é isso que adolescentes fazem? Deve ser a hipocondria atacando. O estrago não foi tão grande assim. Não foi tão ruim.


"Não foi tão grande? Quer que eu relembre os fatos pra você? Desde o início?" - Diria o juiz puxando um livro com páginas e páginas para dar e vender.


"Seu juiz-"


"Meritíssimo."


"Meritíssimo, não vai ser necessário-"


"Vamos ver aqui, e isso é só o resumo da história. Caso contrário eu pediria uma pausa. Para tomar um café e ligar para minha esposa dizendo que não dormiria em casa pelos próximos dois dias por estar em um julgamento."


O promotor nesse momento estaria rindo e o advogado de defesa estaria abaixando a cabeça e passando a mão na testa em sinal de vergonha pensando se não teria sido melhor ter aceitado aquele emprego em um escritório de marcas e patentes.


Volta tudo. Rebobina. Pro começo do ano. Não, pra uns três meses depois que as aulas começaram. Aí ela já tinha uma boa ideia do problema.


O problema tinha cabelos loiros em um topete ridículo. Era uma das melhores alunas da turma, talvez não a melhor, mas seu boletim com certeza não deveria ter nada menor que 8.0. Com certeza a mais esforçada, com certeza a mais queridinha. Fazia trabalho voluntário. Os alunos de fora da escola, e os de dentro, a chamavam de "Madona de Bright Moon". Além disso, ela jogava pelo time de vôlei. Não. Ela era a estrela do time de vôlei. Era por ela que muitos iam assistir. Talvez a acusada também ia assistir por causa dela. Talvez. Tinha até cheerleader nos jogos. Tipo, cheerleader? Em um jogo de vôlei?

19 semanas atrásOnde histórias criam vida. Descubra agora