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- O que foi? - Charlotte mal conseguia ouvir a pergunta de seu amigo, sentia o bater de seu coração ressoar direto em seus ouvidos.

Henry se levantou apressado e começou a caminhar em sua direção enquanto ela dava passos vacilantes para trás, mas ele logo parou assim que notou onde estava. Charlotte conhecia praticamente todas as expressões de seu amigo, por isso identificou fácil que a forma como ele encarava todos os pontos da Caverna revelava sua confusão.

- Kid? - Ray chamou alegre sem notar o olhar espantando que o outro lhe lançou.

- O que você está fazendo aqui? - Henry perguntou um pouco irritado.

- Trabalhando. O que mais eu estaria fazendo?

- Mas era pra você estar em Londres. Minha mãe sabe que você está aqui?

- Por que ela saberia? O que está acontecendo, Henry? - agora era oficial, não era somente Charlotte que estava preocupada.

- Me diga você. Por que eu estou aqui? Essa é mais uma das suas brincadeiras? E que roupa ridícula é essa?! - gritou impaciente ao apontar para o traje.

Todos na sala se encararam preocupados enquanto o garoto esperava uma resposta.

- Henry, por favor se acalme e me diga a última coisa que você se lembra. - Charlotte pediu ao tomar a ordem, o ajudante se virou para ela ao passo que tentava controlar a respiração.

- Eu estava em casa com a minha mãe e a Piper, jantamos lasanha e depois eu fui pra casa do meu pai. - começou a narrar ainda ofegante. - E.. e... Eu acho que a gente discutiu um pouco porque ele esqueceu a competição da Piper de novo e então eu fiquei muito irritado e resolvi voltar pra casa a pé, mas- ele levou as duas mãos a cabeça e a apertou com força. Com os olhos fechados continuou. - Então, vocês vão pensar que é loucura, mas eu vi uma nuvem com um formato estranho, parecia um redemoinho ou sei lá. O fato é que eu tava caminhando, parei pra olhar pra cima e não lembro mais de nada. Aí acordo nesse lugar estranho com o meu padrasto que não deveria estar aqui, minha namorada que claramente não me deixa chegar perto dela, meu melhor amigo que não fala nada e esse homem estranho que eu nunca vi na vida! - o grito frustrado que soltou em seguida paralisou a todos.

Henry se afastou deles e sentou na cadeira em frente ao painel de controle. O grupo se reuniu perto do elevador e trocaram olhares preocupados.

- Será que ele bateu a cabeça? Teve amnésia ou aquele louco mudou a mente dele? - Charlotte perguntou preocupada em um tom quase desesperado que despertou os outros de seus pensamentos.

- Você nunca me contou que vocês voltaram. - Jasper falou magoado e ela se segurou para não esgana-lo.

- Desde quando eu sou padrasto dele?

- Estou magoado que Henry não lembre de mim.

- Eu tento, juro que tento, mas qualquer dia desses vou ter que bater em um homem. - afirmou séria recebendo olhares receosos por parte dos três.

- Não tenho culpa se aquele vilão louco teve que-

- É isso! - gritou animada, interrompendo Schwoz. - Aquele vilão controlava o tempo e espaço, então talvez quando os gênios quebraram a máquina-

- Ei! Não foi de propósito.

- Nunca é, pelo visto! - rebateu sarcástica o fazendo se encolher um pouco pelo seu tom. - O fato é que se ele controla tudo talvez quando a máquina quebrou, de alguma maneira bem bizarra, ele deve ter feito o nosso Henry ir pra alguma terra paralela e-

- E quem está na nossa frente totalmente desolado é outro Henry. - Schwoz completou totalmente fascinado. - Temos exames a fazer. - avisou sério, retirando uma grande agulha de suas costas.

- Que diabos!

- De onde você tirou isso?!

- Mas de jeito nenhum!

Os gritos chamaram a atenção de Henry que levantou a cabeça apressado a ponto de ver Charlotte a frente de Schwoz, Ray e Jasper ao lado dela impedindo o cientista de se aproximar.

- Mas temos que saber como trocar eles! - reclamou desgostoso.

- Destrocar no caso.

- Obrigado, Jasper.

- E vamos, mas esse garoto aí não é o Henry que conhecemos. Ele não vai aceitar de boa nada do que a gente falar, ele acha que tá no meio de uma pegadinha bem idiota e temos que ir devagar ou ele vai surtar completamente. - informou em seu tom racional que os fez surpreendentemente concordarem.

- Mas quem vai falar com ele? - Jasper indagou ansioso, só queria seu melhor amigo de volta.

Todos os olhares da sala estavam voltados para Charlotte, ela estava de costas, mas sentia a atenção intensa que o loiro depositava nela.

- Acho que todos sabemos a resposta. - Ray respondeu, abrindo um sorriso que fez a jovem querer jogá-lo do alto de qualquer lugar.

Ignorando os sorrisinhos maliciosos ela se virou para o Outro Henry, se recusava a chamá-lo só por Henry, ele não era seu Henry, de todos no caso, esse que estava à frente dela a encarando de forma ansiosa e assustada era alguém de outra terra. Repetia a si mesma tentando reforçar que aquele sentimento de angústia que a assolava era só o medo de que seu melhor amigo estivesse em um lugar perigoso e não que nesse outro lugar estaria uma Charlotte à espera dele.

"Espero que você esteja bem."

E com esse último pensamento caminhou em direção ao garoto que se levantava.

□ □ □ □ □

Em uma outra terra onde o sol brilhava insistente e quente, um garoto alto caminhava apressado em direção à porta da loja onde sua irmã o havia deixado. Igual na outra terra, aquela Piper também tinha uma carteira, mas a utilizava de forma mais cuidadosa e só quando era necessário, como naquele momento.

Inspirando fundo Henry adentrou a loja, sentiu seu coração se acalmar um pouco quando percebeu que era exatamente igual à da sua terra, em partes já que estava consideravelmente mais organizada. Olhou para os lados de forma ansiosa, só precisava de mais um rosto conhecido e que fosse alguém a quem ele pudesse recorrer, precisava de ajuda urgente antes de acabar falando ou fazendo algo que não devia. Ele só queria ir para casa.

E como se fosse chamada por seu pensamento, uma garota de cachos volumosos saiu da sala que ficava nos fundos e abriu um imenso sorriso assim que o viu.

- Char. - soltou em um alívio quase palpável.

- Hei, Hen. - saudou em um tom calmo enquanto se aproximava dele.

Ele iria começar a narrar a loucura que estava vivendo torcendo internamente para que ela acreditasse nele, se tinha alguém que poderia ajudá-lo esse alguém era Charlotte. Porém, sua mente ficou em branco assim que ela o beijou. Foi algo rápido e carinhoso, mas ele ficou parado por uns bons segundos tentando absorver o que havia acontecido.

- Então, hum, você. - não conseguia criar frases completas, o que deixou a garota à sua frente confusa.

- O que houve?

Ele olhava para todos os lados tentando ignorar o calor que percorreu seu corpo assim que ela levou uma mão a sua bochecha quase o forçando a olhar para ela.

- Henry, o que houve? - perguntou novamente, mas dessa vez de forma preocupada.

Ele abriu a boca sem saber o que responder, mas a intromissão de alguém o salvou.

- Aí está meu casal favorito!

A declaração de Jasper, que entrava pela porta da frente, fez Henry desviar o olhar da parede ao fundo e volta-lo para Charlotte que havia se afastado um pouco.

Ali ele teve a certeza de que se não voltasse logo iria enlouquecer naquela terra.

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