Henry se encontrava sentado em sua cama tentando absorver o dia louco que havia tido. Ainda não conseguia assimilar que Ray era seu padrasto, Jasper estava namorando Mitch Bilskin que, detalhe, não era um babaca imbecil, sua mãe era enfermeira no hospital geral, Piper era líder de torcida, seu pai escritor viajante, ele pelo visto tinha deixado seu cabelo crescer a um tamanho desconfortável e Charlotte era sua namorada, namorada!
Cobriu o rosto com as mãos e deixou o corpo cair para trás. Havia descoberto tudo aquilo a partir de sua conta em uma rede social, não sua sua, mas do Henry daquela terra. Era tudo tão insano que ele não tinha conseguido assimilar direito como reagir a todas as novidades. Talvez o Schwoz daquele lugar o pudesse ajudar, mas para isso teria que o encontrar primeiro e para encontrá-lo Henry precisaria da ajuda de alguém. Mas como contar que na verdade não era para ele estar ali, que ele era um super herói que não possuía uma vida comum como aquela e que a garota de olhos preocupados que estava na sua janela naquele instante era somente sua melhor amiga.
Espera. Levantou-se de repente pensando que talvez ela tivesse algum poder telepatico de saber a hora exata que ele precisava de ajuda. Caminhou até a janela onde ela já estava impaciente o mandando abrir e Charlotte entrou apressada.
- Será que dá pra você me dizer o que raios tá acontecendo?!
Bom, pelo menos o jeito mandão dela não desapareceu.
- Se eu te contar você vai achar que eu estou louco.
- Se você não me contar aí pode ter a certeza de que você vai me enlouquecer. - afirmou, enquanto sentava-se na beira da cama.
Ele continuou em pé e começou a estalar os dedos para aliviar o nervosismo, depois de alguns segundos arrastados finalmente conseguiu começar a falar.
- Eu não devia estar aqui.
- Você diz isso todo dia, mas a carta de admissão ainda está lacrada em cima da sua escrivaninha.
Ele olhou para onde ela apontava e sentiu aquela sensação familiar, em sua terra também havia uma carta à sua espera, parece que este Henry não era tão diferente dele afinal. Balançou a cabeça e voltou ao assunto.
- Não desse jeito. Quero dizer, não era para eu estar nessa terra.
- Sinceramente, se você não estivesse nessa terra onde mais você estaria?
- Em outra que eu não faço a menor ideia de onde fica!
- Olha, será que dá pra você realmente me falar o que está acontecendo?
- Eu estou te falando. Eu não sou esse Henry, seu Henry. Eu vim de outra terra onde sou um super-herói que tem os dois pais juntos, uma irmã irritante e irresponsável, um chefe também super-herói e trabalho junto com meus melhores amigos e um cientista louco. E mais, eu não namoro e nem o Jasper!
Henry terminou sua fala observando Charlotte que o analisava friamente, sentiu seu coração apertar quando ela se levantou e ficou à frente dele.
- Se você quer terminar porque não diz logo como qualquer ser humano normal?
- Porque não é isso que eu quero! - disse exasperado levando as mãos aos céus e dando alguns passos para longe dela. - Eu estou te falando a verdade. Eu não lembro de nada dessa vida porque ela não é minha! Não sei como a gente aconteceu, como minha mãe com o Ray aconteceu! Não sei de nada e nem vou lembrar porque essa não é a minha vida e nunca vai ser! Na minha terra agora deve ter um garoto tão louco quanto eu enquanto uma Charlotte, a minha Charlotte, deve tá tentando fazer ele acreditar em tudo como eu estou tentando fazer com você agora. Só, acredita em mim, por favor.
Se aproximou desesperado dela que não recuou, tomando isso como um sinal positivo, Henry tomou as mãos dela nas suas e tentou transmitir no olhar toda a sinceridade que podia.
- Por que eu devo acreditar em você?
Ele sabia que tudo dependia de sua resposta, provavelmente ela não acreditava nele e nem iria tão cedo, mas o estava dando um voto de dúvida e era só disso que ele precisava.
- Porque seu julgamento de valor dificilmente se encontra errado, e não importa a terra você sempre vai ser a mais inteligente de nós dois.
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- Você quer mesmo que eu acredite que estou em uma outra terra vindo de qualquer outro universo? Sinceramente, baby, você sempre foi uma péssima mentirosa.
- Pare de me chamar assim! - gritou nervosa fazendo o riso dele cessar.
Só estavam os dois na Caverna man e ela o tentava convencer há uns bons minutos, diga-se horas, tendo zero sucesso como tinha previsto.
- O que realmente está acontecendo?
- Já te disse. Você veio de outra terra-
- Teoria do multiverso e blá, blá, blá. Sim, você já falou tudo isso, mas não acredito em nada. - afirmou dando de ombros de forma indiferente.
- Por que eu mentira pra você? Me fala por que eu estaria em uma pegadinha onde se constrói todo um centro de controle embaixo da terra, te dopa e te traz para cá, se faz montagens de anos que são impossíveis de serem criadas e cria uma luta em cima de um prédio durante uma tempestade que o início foi filmado e transmitido para milhares de pessoas?! Me diz por que eu iria fazer parte de tudo isso?!
Charlotte gritou impaciente com os braços abertos apontados para a caverna. Henry, o Outro Henry, estava ainda sentado na cadeira e não desviou do olhar firme que ela lhe lançava. Charlotte não queria ter gritado, não queria ter estourado, mas pelo visto uma conversa racional não iria funcionar com aquela versão de seu amigo, nunca funcionou com a versão dele que ela conhecia de qualquer maneira.
Não deu nenhum passo quando ele se levantou para ficar de frente para ela. Viu em seus olhos a dúvida, mas acima de tudo uma nuvem de medo pairava. Conseguia notar que ele estava começando a ficar assustado e o entendia completamente. Parece que em todas as versões possíveis ela sempre iria conseguir lê-lo.
- Eu não sei o que pensar. - confessou, levando a mão às mechas claras de seu cabelo de forma nervosa. - Me diz o que fazer, você sempre sabe, na maioria das vezes.
Apesar da alfinetada desnecessária, o pedido veio em uma voz quebrada que a desmontou. Sem pensar o puxou para um abraço meio desajeitado. Soltando um suspiro cansado ela falou:
- Nós vamos dar um jeito, sempre damos.
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Timeless
FanfictionTimeless s.m. Significa eterno, atemporal, e era isto o que eles compartilhavam, algo que ultrapassava tempo e espaço. Era um sentimento que sempre os levaria de volta ao outro.