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Henry inspirou profundamente e resolveu esquecer a Charlotte daquela terra e seu pessimismo quase contagiante. Olhou para os lados novamente e notando que ninguém apareceria, subiu em cima da lixeira e apoiou as mãos no topo do muro se preparando para pular, mas antes puxou o ar com força para seus pulmões, pelo visto aquele Henry não tinha muita condição física já que ele estava cansado com uma simples escalada.

Não foi tão simples passar para o outro lado, apesar de seus anos de prática a aterrissagem do lado de dentro do muro foi recebida com o ar entrando rarefeito e seus pulmões ardendo com a falta dele. Ficou abaixado e notou que estava no fim de um quintal cheio de árvores, o silêncio era quase assustador, se moveu devagar entre as árvores até chegar perto da casa. Permaneceu escondido atrás de uma árvore, já com o fôlego mais recuperado, enquanto via uma figura se mover para fora da enorme mansão e sentar em uma cadeira de sol ao lado da piscina, estreitou os olhos para enxergar melhor e reconheceu o homem baixinho e mais barrigudo que estava deitado de barriga para baixo. Pelo o que conseguia ver aquele Schwoz tinha cabelo, mas parecia tão artificial que claramente poderia ser uma peruca.

Esperou mais alguns minutos para sair de seu esconderijo, estava ansioso para ir embora, mas não sabia como convencer o homem e não tinha como não deixar que a sensação ruim que tentava bloquear desde que pulara o muro se apossasse dele. Conseguia até ouvir a voz de Charlotte o alertando que a falta de segurança era muito estranha, mas resolveu que aquela talvez fosse sua única chance de resolver a situação. Com cuidado se afastou da árvore e começou a caminhar devagar até o homem, ao chegar parou atrás dele a uma distância segura, ainda tinha a leve impressão de ele não ter a mesma personalidade do seu amigo.

- Hei! - gritou, ainda receoso.

Aquele Schwoz se sentou rapidamente e virou-se para ele, o encarando desconfiado.

- Quem é você?

Henry resolveu que deveria começar a tentar.

- Eu sei que vai parecer loucura, mas eu vim de outra terra em outro universo e eu preciso voltar pra casa agora!

Esperou alguns eternos segundos trocando olhares com o homem que ainda estava parado no mesmo lugar.

- Mitch! Quem deixou outro maluco entrar?!

O grito estridente dele o indignou.

- Eu não sou maluco! Só preciso que você me escute um minuto, por favor Schwoz! - tentou, se aproximando um pouco dele que pulou da cadeira e começou a se afastar.

- Não, não chegue perto de mim! Mitch!

Ele definitivamente estava dificultando as coisas ainda mais para Henry.

- Em outra terra somos amigos, melhores amigos! Eu sei que você tem uma coleção de rochas de estimação.

- Todos sabem! - afirmou, deixando o garoto ainda mais desesperado por algo que o fizesse confiar nele.

- A sua preferida se chama Florência por conta da sua tia avó que morreu engasgada com uma flor.

- Isso está na minha biografia! - disse, não se convencendo.

Henry só tinha mais uma informação e torcia para que pelo menos uma parte daquele universo fosse tão anormal quanto o dele, ou que aquele Schwoz também fosse um pouco insano.

- Quando você tinha três anos você foi sequestrado por homens toupeiras e a partir daí ficou amigo deles. Só que ninguém acredita em você porque eles não são desse mundo e você não tem como provar, ou tinha. - disse, apontando para si mesmo. - Sei que também está na sua biografia, porque eu li ela para ver se você também era um pouco parecido com o Schwoz que eu conheço, e sim, pelo visto você é.

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