Henry ia à frente de olho no sensor térmico, Charlotte se encontrava atrás com a arma a laiser em mãos. Após desligarem as câmeras próximas do quarto, os dois saíram com cuidado atrás do escritório de Schwoz. De acordo com Helena, o verdadeiro escritório se encontrava atrás de uma parede falsa que era encoberta por um grande quadro do dono da mansão, ao abrir a porta escondida eles teriam que descer uma escada em caracol até entrarem em uma sala que com toda a certeza teria o que eles procuravam.
Henry tentou não se estressar pelo fato deles não saberem o que procuravam, sabia que Charlotte tinha um plano, mas ela não o havia dito com detalhes qual era. Confiava em sua amiga, mas mesmo assim a fez prometer que eles não dariam uma de Romeu e Julieta, ou seja, seguir um plano que somente um deles tinha conhecimento e no fim acabar com ambos mortos. Ela o encarou como se ele fosse louco, mas ficou feliz por ela ter prometido que eles não acabariam como os jovens da tragédia. Retomando ao plano inicial, ficou aliviado quando chegaram ao quarto onde o escritório estava escondido.
- Agora é só entrarmos.
Escutou o sussurro ofegante de Charlotte e sabia que ela se encontrava tão nervosa quanto ele. Não tinha sinal de alguém por perto e esse era o que mais os assustava. Ou pensavam que eles ainda estavam presos ou preparavam algo terrível, mas se fosse a primeira opção, teriam que ter ainda mais cuidado porque a qualquer momento iriam começar uma busca que poderia ser bem sucedida. Ajudou Charlotte a mover o quadro e batendo na parede constataram que era falsa, tateando por todos os lados encontraram um pequeno painel falsamente pintado, abrindo a parte que protegia o teclado, deu espaço para que Charlotte fizesse sua mágica.
Após alguns eternizantes minutos, finalmente conseguiram abrir a porta e deram de cara com uma escada que descia até algum andar mais abaixo, entrou primeiro e esperou Charlotte fechar o quadro e a porta. Desceu os degraus com cuidado, até porque a escada parecia ter muitos anos de idade. Assim que chegou ao escritório percebeu que ele mais parecia um pequeno laboratório do que um local de reuniões ou algo assim. Escutou Charlotte prender a respiração assim que colocou os pés no piso do local.
- Não é possível que não tenha nada aqui que nos ajude. - ela falou, saindo de perto de Henry e começando a vistoriar o local.
O Hart permaneceu no pé da escada e iria continuar ali para ter certeza de que tivessem tempo para se defenderem caso alguém aparecesse. De olho no tablet em suas mãos e nas telas perto de onde ele estava, onde as imagens das câmeras de segurança eram transmitidas. Observou Charlotte andar por todo o local, ela digitava algo em alguns computadores e em outros momentos analisava algumas máquinas que estavam espalhadas, o que quer que elas fossem.
- São invenções, Henry. - disse, como se lesse seus pensamentos. - Eu vi uma que vai ser um ótimo plano B se eu conseguir termina-la.
- No momento aceito todos as letras de planos possíveis. - afirmou, se encostando na grade da escada e se permitindo descansar um pouco.
Charlotte parou em frente à um notebook que estava debaixo de vários papéis, pareciam ter sido largados as pressas e o que quer que estivesse nele parecia chamar a atenção de sua amiga. Pelo visto ela havia conseguido decodificar a senha e ter acesso ao conteúdo, o sorriso aliviado em seu rosto deveria ser a prova disso.
- Tem tanta prova aqui, Hart. - falou animada o trazendo uma luz de esperança. - Finalmente uma parte certa do plano.
Enquanto ela comemorava e passava os arquivos para um micro cartão que possuía, Henry não pôde deixar de se incomodar com algo.
- Você fala tanto desse plano e por mais que eu confie em você, gostaria de saber o que acontece nele.
- Não se preocupe. - pediu, o que foi o mesmo que dar uma injeção de preocupação no garoto.
- Charlotte, o que você está planejando?
- Eu não sei se vai dar certo, estou contando com a sorte. - respondeu, virou-se para ele quando Henry se aproximou. - Encontrei algo grande que dá pra chantagear esse Schwoz, se conseguirmos um acordo o Henry dessa terra pode ficar livre. Não faça essa cara. - pediu impaciente.
- Que cara? - não fazia ideia de qual expressão estava fazendo.
- Essa cara de que nada vai dar certo. - acusou, cruzando os braços e não se dando por vencida diante do olhar confuso dele. - Você fez essa mesma cara quando falei que você precisava cortar a comunicação com o Kile.
- Porque ia dar errado, e deu. - a lembrou.
- Só deu errado porque você insistiu em encontrar um vilão às escondidas. - rebateu, sentindo a irritação começar a tomar conta de seu corpo, desviou o olhar e decidiu dar aquele assunto por encerrado. - Só quero que me diga o motivo que vai fazer o meu plano dar errado.
- O motivo é simples, o próprio Schwoz. - afirmou com o tom de voz seco. - Você nunca encontrou ele, Char. Não tem nada do nosso Schwoz nele, é desconfortável e assustador a forma como ele te olha. - disse, fechando os olhos para controlar os flashes que chegavam em ondas das horas em que ficou preso naquela cela sem perspectiva de saída.
Charlotte levou a mão ao seu ombro, deu um leve aperto e deslizou até sua mão, Henry abriu os olhos e focou a atenção em suas mãos unidas.
- Já tinha percebido a forma como você fala dele, mas ainda tinha uma esperança de que isso tudo funcionasse. - admitiu, escutou na voz dela uma hesitação.
- O que houve, Char? - perguntou, levantando o olhar e percebendo pela forma como ela mordia o lábio inferior que se encontrava indecisa.
- Temos o plano B, e com o que tenho aqui posso aumentar o alcance desse plano.
- Mas?
- Mas ele também pode dar muito errado. O tipo de errado que talvez nos cause uma perda grande de memória. - explicou, diante do olhar indagador dele.
- Temos outra alternativa? - perguntou esperançoso.
- Não consigo mais pensar em nenhuma.
Henry olhou ao redor, a pequena sala escura que quase o sufocava, as câmeras que mostravam pelo menos mais de dez seguranças andando pela casa, o sensor térmico em suas mãos que felizmente estava dando somente os dados dele e de sua amiga. Encarou de volta a garota com quem cresceu, a que sempre esteve ao seu lado nos momentos mais complicados e em quem ele sempre pôde confiar, não havia dúvidas do que fazer.
- Faça o que tem que ser feito. Vou ficar de guarda.
Se virou para se encaminhar à escada, mas Charlotte o parou com a mão em seu braço. Ela estendeu a arma a laiser para ele, Henry assentiu com a cabeça ao pedido mudo que ela lhe fazia, tentaria tomar o máximo de cuidado. Ficou de guarda ao pé da escada enquanto a Bolton procurava as peças necessárias para adaptar uma invenção que havia identificado.
Depois de mais de meia hora torceu para que eles realmente pudessem contar com a sorte, porque se as três manchas que identificava escada acima e que foram personificadas através das câmeras atravessassem o quadro, eles estariam mais do que ferrados.
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Timeless
FanfictionTimeless s.m. Significa eterno, atemporal, e era isto o que eles compartilhavam, algo que ultrapassava tempo e espaço. Era um sentimento que sempre os levaria de volta ao outro.