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Charlotte observava Henry terminar de empilhar as caixas, queria apressa-lo, mas sabia que seria o mesmo que congela-lo, o Hart se tornava inutilizável quando o pressionavam. Se encostou na entrada da cela a fim de poder ver qualquer movimentação que viesse da porta, ainda não sabia como manteria o Henry daquela terra a salvo, pela forma como o seu amigo agia a dava a certeza de que ele havia mexido com pessoas perigosas. Eles sempre lutaram contra vilões, se envolveram inúmeras vezes com pessoas com um alto potencial de perigo, mas no fim acabavam bem, seguros na medida do possível e vivendo suas vidas da melhor forma. Porém, naquela terra era tudo diferente e Charlotte sabia que se não deixasse uma garantia do Outro Henry ficar a salvo, a vida dele correria sério perigo.

Olhou para seu amigo que terminava de colocar as últimas caixas e percebeu o que deveriam fazer, seria arriscado e muito perigoso, afinal a casa estava cheia de seguranças, mas era a única maneira de fazer com que o Outro Henry ficasse seguro. Não gostava nem um pouco do que poderia resultar de seu plano apressado, mas não via nenhuma outra alternativa no momento. Se aproximou da escada improvisada e se pôs a escala-la, Henry já estava no topo observando a queda que teriam que ter, o viu passar o corpo com cuidado para o outro lado da janela e se preparou para escutar um baque que surpreendemente não veio. Terminou de subir os últimos metros e quando chegou ao topo viu que do outro lado se encontrava uma árvore cujo galho mais próximo estava seu amigo, ele parecia extremamente aliviado e Charlotte compartilhou de seu sentimento.

Se preparou para passar seu corpo pela pequena abertura, a falta de grade naquela cela foi a que fez escolhê-la, todas as outras seriam mais impossíveis de passar. Apoiou as duas mãos na base e inclinou seu corpo para frente, quando teve o apoio que precisava, Henry estendeu a mão para ela. Charlotte inspirou fundo e a agarrou com força, ele a puxou e a garota se apressou para sair de vez da cela. No último puxão dele, ela se agarrou como pôde ao amigo e foi puxada para seu colo. Apoiou a cabeça no ombro dele quando percebeu que estava bem, escutava Henry que respirava com dificuldade e se afastou para encarar o garoto que olhava assustado para frente, virou a cabeça e encontrou o motivo de tanta apreensão, atravessando os portões uns bons metros à frente dois carros que a lembravam enormes caixas pretas se aproximavam da casa.

- Precisamos sair daqui.

Escutou o sussurro angustiado dele e se odiou pelo o que falaria a seguir.

- Não podemos.

- Charlotte, temos que sair daqui agora.

Ele ainda encarava os carros que estavam mais próximos a cada segundo.

- Não podemos, sinto muito, mas não podemos.

- Me dê uma droga de motivo pelo menos.

Ignorou a forma brusca como ele lhe falou, o Hart estava claramente apavorado. Sentiu seu coração doer, nunca havia escutado tanto medo na voz de seu melhor amigo.

- Se formos agora eles irão atrás do Outro Henry, você sabe mais do que eu do que eles são capazes de fazer.

O encarando notou que ele estava em um sério conflito, com toda a certeza queria ir embora e nunca mais lembrar daquela terra, mas partir rapidamente seria entregar alguém inocente nas mãos de um lunático.

- O que vamos fazer?

O senso de responsabilidade venceu. Charlotte não teve como não olhar admirada para ele, por mais que seu medo fosse quase palpável, Henry era um super-herói, definitivamente não era um simples ajudante. Seu grande coração nunca deixaria que ele negasse proteção a quem precisava.

- Precisamos encontrar o escritório do Schwoz.

□ □ □ □ □

Após descerem da árvore, tomaram todo o cuidado para não serem pegos pelas câmeras ou seguranças. Andavam encostados na parede, a falta de segurança nas celas era uma prova clara da influência daquele Schwoz. Somente alguém que não teria preocupação em ser pego construiria um pavilhão de celas na cozinha de sua mansão. E se Charlotte estivesse certa, e torcia imensamente para estar, o escritório do lunático não seria difícil de encontrar e com uma ajuda imensa do universo eles encontrariam o que tanto precisavam.

Mais alguns metros de uma angústia irritante, conseguiram finalmente encontrar uma janela aberta. Colada à parede, Charlotte tomou cuidado ao olhar para dentro do ambiente, era um quarto altamente luxuoso e pelo visto se encontrava vazio. Olhando com um cuidado maior notou que havia três portas fechadas, talvez não fosse tão seguro assim e era melhor eles procurarem outra entrada. Iria se virar para continuar a busca, mas foi cutucada na barriga por Henry, o encarou irritada, mas ele começou a empurra-la para entrar. Balançou a cabeça em negação, mas ele fez um gesto para que ela escutasse. Vozes, eram vozes que se aproximavam deles.

Sem pensar duas vezes apoiou as mãos na base da janela e pulou para dentro do quarto, Henry veio logo atrás e a puxou para baixo, longe dos olhares de quem passasse. Não demorou muito para que passos fossem ouvidos e duas vozes graves sinalizassem que haviam pessoas em frente à janela.

- E agora ele quer que a gente deixe duas crianças presas naquele lugar?

- Elas não vão ficar presas por muito tempo, o chefe tem planos para elas.

- Ainda acho que isso é errado.

- Você entrou nesse mundo porque quis.

- Você sabe muito que não foi por escolha própria.

As vozes começaram a se afastar e quando o silêncio tomou conta novamente, Charlotte se voltou para Henry que estava com os olhos fixos em um ponto no chão. A garota fechou os olhos para organizar seus pensamentos. Pelo visto Schwoz já sabia que ela estava ali e torcia para que ele não tivesse visto a forma como ela havia chegado, não fazia ideia do que ele iria fazer com eles, mas duvidava muito que os deixassem escapar ilesos.

- Hum, quem são vocês?

A fina voz hesitante a fez abrir os olhos assustada, parada em frente à uma porta aberta estava uma garotinha os olhando curiosa e um pouco analítica, Charlotte não daria mais do que dez anos à ela. A criança parecia inofensiva, mas se ela estava ali e aquele era seu quarto, eles corriam um imenso perigo.

- Vou perguntar só mais uma vez, quem são vocês?

O tom duro com que ela falou fez Charlotte sentir um imenso calafrio. Seus planos acabaram de ser jogados pela janela.

□ □ □ □ □

- Precisamos de um plano. - Piper afirmou, levantando-se do sofá onde haviam acabado de assistir Sexta-feira muito louca e caminhando para ficar de frente aos monitores.

- Você acha que eu não estou pensando nisso?

- Como se você pensasse, Jasper. - rebateu sarcástica o fazendo ficar indignado.

- Acho que sei o que devemos fazer. - Schwoz falou animado, impedindo uma discussão entre a Hart e o Dunlop. - Mas vocês realmente tem que me ajudar dessa vez.

- Só sei que eu não vou ficar cuidando dele. - Ray logo disse ao ver que o Outro Henry estava começando a acordar.

- Ah não, alguém atira nesse garoto de novo. - Piper pediu, não sendo atendiada. - Ok, se não querem podem deixar comigo.

Se preparou para ir pegar um laiser, mas foi impedida por Jasper que se colocou à sua frente.

- Plano, Schwoz, rápido. - pediu, vendo que a Hart definitivamente não estava brincando sobre atirar no outro.

Schwoz assentiu apressado e foi em direção aos monitores. Sabia que todos estavam preocupados com Henry e Charlotte e queria tanto quanto eles trazer os dois de volta, mas não se preocupava tanto assim. Eles estavam juntos e sempre conseguiriam ficar a salvo, seu casal nunca o desapontava.

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