Prefácio

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E mais uma vez eu me vejo escrevendo sobre relações abusivas. Esse é um tema que me persegue, pois foi o que vivi na maior parte da minha vida. Alguns podem achar que estou pisando e remoendo esse assunto por ser "masoquista", no entanto prefiro colocar para fora porque preciso, e da forma "alegórica" que a ficção pode nos proporcionar, em vez de colocar meu nome e as circunstâncias reais nisso.

A história (real oficial, não da fanfic) de Sauron e Celebrimbor é claramente uma história de traição. Sauron o persuadiu a fazer os Anéis de Poder através de mentiras e distorções. O final é horrível: após muitos anos fingindo ser amigo, Sauron mata Celebrimbor na tortura e exibe seu corpo como estandarte de guerra.

O mais impressionante é que, tanto nesse episodio quanto no de Númenor, Sauron não usou primeiramente da força, porém da lisonja e da mentira. Para Celebrimbor, certeza que ele tomou a aparência mais bela e agradável que podia.

E aqui entramos sobre uma parte que ninguém fala sobre abusadores em geral: o maior dano não é feito por inimigos declarados, e sim por amigos especialmente íntimos. A pessoa ganha o poder de tirar o seu chão a qualquer momento. Mostro um pouco disso em "A mulher do inquisidor", porém vejo que a maioria das pessoas não liga a psicopatia e o abuso com um início de flores. A relação abusiva, na verdade, no começo é a melhor que você já viveu em sua vida.

Sauron nos filmes - e até nos livros - é descrito como "horrendo", "abominável", "imundo". Mas ao ver o Anel que ele criou na segunda era, vemos que na verdade seu principal poder era a sedução. Quase ninguém resiste ao Anel, e ele não teria sido destruído se não fosse o desatino de Gollum. Porque ele exerce uma enorme atração sobre qualquer um, até mesmo dentre os maiar - Gandalf inclusive.

Imagine então o próprio Sauron quando podia assumir formas belas. É só lembrar que em Númenor, de prisioneiro de guerra, ele passou a principal conselheiro do rei e convenceu grande parte dos habitantes a fazer sacrifícios humanos dentre seu próprio povo (!!!).

Talvez Tolkien não tenha descrito a Sauron em seu lado sedutor com muita "exatidão" justamente porque muitos leitores poderiam se sentir tentados a simpatizar muito com ele.

Considero a obra de Tolkien como realismo fantástico porque o comportamento dos personagens é absurdamente real, embora no mundo real não tenhamos elfos e dragões. Sauron, por exemplo, é o perfeito psicopata. Era maia de Aule, depois foi até Melkor, que era simplesmente o mais poderoso dos Valar e simplesmente com o tempo se tornou o segundo em comando dele. Em outra palavras, ele só estava abaixo do Vala mais "overpower" de toda Arda. Na vida real os psicopatas se aproximam das pessoas poderosas e com muita bajulação e tramoias conseguem subir muito rápido na hierarquia. Em Númenor foi a mesma coisa: se tornou o principal conselheiro do rei e por debaixo dos panos, simulando submissao, quem comandava Númenor era ele. Tudo com lisonja, elogios e sedução. Aposto que fazia o mesmo com Melkor em Angband. É igualzinho à vida real.

Quando vi a história do Celebrimbor, fiquei pensando que se ambos fossem amantes, seria muito mais doloroso. Qualquer traição é dolorosa, porém os sentimentos quando a pessoa está apaixonada são muito mais intensos. Quando ela está apaixonada por um psicopata, é equivalente a um vício. Eles fazem de propósito, despertam e cultivam essa dependência de propósito.

Lembrando que o Sauron dessa fic não é o mesmo de "O filho da escuridão". Nessa que estou escrevendo não é da mesma forma e não tem o Moriel. É como se fosse num "universo paralelo" por assim dizer.

Espero que gostem da fic!

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