Capítulo 2

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Capítulo 2

A partir daquele dia, as coisas começaram a mudar entre Annatar e Celebrimbor. Cada vez mais o Elda percebia que o Maia arrumava pretextos para que ficassem a sós; mas não passava disso. Annatar sabia ser paciente quando queria. E sob o luar, ao brilho das estrelas, ele chamava ao noldo para falar sobre os assuntos da Terra-média. Pois ele e os de seu povo não quiseram retornar a Valinor...

- Não quisemos - disse ele - pois nossos antepassados tanto se esforçaram para vir e até mesmo desafiaram aos Valar...! Desculpe se não devia eu retomar a este tipo de sacrilégio; o Juramento de meu avô e de meu pai e tios foi algo o qual nos trouxe muitas desgraças. Mas, já que tais desgraças já aconteceram, por que não ficar com o preço delas, que é justamente o de usufruir da Terra-média?

- Penso exatamente o mesmo. E além disso ainda vou, uma vez que tentei me demonstrar a Gil-galad e a Elrond, e ambos não me aceitaram em seus reinos. Ofereci a meus préstimos, como fiz aqui; sem custo algum a eles; e de seus reinos fui rechaçado como se fosse um cão danado.

Celebrimbor observava àquele senhor de aparência tão nobre, e de palavras tão acertadas; e pensava em como alguém poderia tê-lo rejeitado. Era certo que os senhores élficos eram poderosos e sábios. Mas ele...! Ele era um Ainu de grande majestade e poder. E ainda assim se portava de forma humilde! Onde se via uma coisa daquelas - principalmente dentre as casas dos Noldor da qual o próprio Celebrimbor descendia?

- É realmente uma pena - declarou o Elda - que não o tenham acolhido entre os seus. Pois com seu conhecimento e habilidade evoluímos grandemente nos últimos tempos.

Annatar sorriu. Após o noldo tê-lo contemplado a lavar-se sem capuz, em todos os encontros que tinham era assim que ele aparecia: com os cabelos soltos e de rosto totalmente descoberto. E quase sempre olhava a Celebrimbor nos olhos, a fim de tentar descobrir nele mais alguma fraqueza ou ponto a ser explorado. Mas o Elda, maravilhado ao ver-se compreendido justamente por alguém que vinha de Valinor, um Ainu; alguém a quem ele já admirava sem reservas; alguém que parecia apenas lhe dar mais e mais alento e esperança a cada conversa que tinham; mal reparva nisso. Pois se sentia tão bem na presença dele, que não mais se acautelava em relação a ele. E até gostava quando o Ainu o observava nos olhos, pois considerava aquilo uma prova de que ele prestava atenção em si e o tinha em alta conta.

Numa dessas noites, Annatar disse a ele enfim:

- Sabe qual é meu plano para a Terra-media?

- Um plano? Há um plano para a Terra-média da sua parte?

- Sim. Pois aqui quero ficar, e aqui estabelecer um novo modelo de sociedade.

O Elda grandemente se interessou naquilo. Pois era exatamente o que ele queria.

- E como seria?

Então Aulendil passou horas e horas contando a ele sobre o que desejava fazer; amava ele a ordem e a disciplina, e desejava um mundo no qual as tecnologias e os artifícios fossem aprimorados e usados em prol dos povos livres. Primeiro os Eldar, que tinham mais capacidade de ver longe e de alcance por suas longas vidas; depois os Edain, por que não? E quem sabe até os Naugrim, a quem ele descobrira que Celebrimbor apreciava muito?

E as estrelas giravam sobre a cabeça deles; e a visão que o Noldo tinha de tudo que Annatar falava era maravilhosa; um mundo novo e totalmente belo e perfeito se descortinava diante de seus olhos, enquanto a melodiosa voz do Ainu o levava, como numa bela canção que ele sempre desejara escutar. uma canção feita exatamente para seus ouvidos.

Já muito tarde ele ia se deitar, e em seu leito ainda ficava a se sentir queimando por dentro por aquele olhar dourado do Maia; um olhar quase de fogo, porém era um calor agradável, que ele não queria parar de sentir nunca mais.

Amor de PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora