Capítulo 5
Àquela noite o Elda dormira bem mais tranquilo que nas outras noites. Finalmente estavam juntos! As lembranças o deixavam tão feliz... como se ainda flutuasse, como se ainda estivesse nos braços dele. Ah, aqueles beijos...! Ah, possuí-lo e ser por ele possuído! Fora melhor do que ele pensara que seria.
E nunca, em seus longos anos de celibatário, pensara que encontraria alguém tão compatível consigo. Que gostasse das mesmas coisas que ele, que tivesse os mesmos objetivos. E como se isso tudo não bastasse, era lindo, e era um Ainu instruído diretamente pelo próprio Aule! Ah, era uma bênção grande demais. E ali ele via o final da terrível Maldição de Mandos e também do Juramento de Feanor. Aquelas ocorrências macularam muito a sua família em tempos idos. Agora tudo isso havia ido embora, era passado! A redenção e o marco de que aqueles tempos nefastos se tinham ido vinham em forma de um lindo amor, que era muito mais do que ele queria.
Havia valido a pena esperar tanto tempo!
E ao pensar nestas coisas, dormiu feliz, sendo embalado pela lembrança daqueles feéricos olhos dourados que tanto lhe deleitavam.
OoOoOoOoOoOoO
Logo cedo, no dia seguinte, de fato Annatar veio bater à porta de seus aposentos. E o tratou com muita deferência, ainda beijando a sua mão, respeitando a sua autoridade de senhor de Eregion. Um Maia! Com tantos conhecimentos e tanta majestade, a se colocar abaixo dele!
Celebrimbor chamou aos demais membros de sua confraria de joalheiros e, a portas fechadas, mui discretamente, pedindo sigilo, Annatar, que tinha já um enorme prestígio de todos no local, lhes falou do que falara ao Noldo no dia anterior.
Sobre os Anéis de Poder.
E a mente dos demais elfos também se viu tomada por toda aquela maravilha, por todo aquele esplendor. Menos que na mente de Celebrimbor, era verdade, pois este estava apaixonado e muito mais rendido ao poder e à influência de Annatar. Mas mesmo assim a visão foi poderosa, e todas aquelas mentes unidas num só propósito fizeram com que tudo andasse ainda mais rápido.
O Ainu sorriu. A egrégora dos Anéis estava a ser estabelecida a partir daí. Começaria a sua empreitada com muito mais poder do que pensava no começo.
Por anos, fizeram muitos anéis de teste. Eram bonitos, poderosos, porém os Anéis de Poder de fato seriam criados e usados bem mais tarde pelo Maia. Aquele era um trabalho longo, por isso precisava das vidas imortais dos Eldar.
Durante aquele período, ele e Celebrimbor continuaram a se encontrar, porém ainda às escondidas, mesmo que à revelia do Elda. O Ainu começara então a jogar um jogo insidioso: aparecia, fazia com que tivessem encontros maravilhosos e depois sumia. Por dias. Por meses. Às vezes sem avisar. Era um inferno. Nesses períodos, Celebrimbor ficava fora de si. Ralhava com os companheiros, ficava ansioso, não dormia nem comia direito. E a pior parte era que sequer sabia onde buscar ao Maia, ou notícias dele.
Ele, que era conhecido por não ter o temperamento explosivo de seu pai e de seu avô, embora houvesse herdado as habilidades de artífice!
Quando Annatar voltava, era firmemente indagado pelo amante. E se demonstrava ele ressentido, como se aquilo fosse um absurdo. Um disparate!
- Não confia em mim, minha prenda?
- Confio. Confio! Mas que custa avisar quando vier a se ausentar assim?
- Se aviso, veja como fica. Prefiro tomar uma bronca só...
E ao vê-lo agir daquela forma, o Noldo se arrependia de ter parecido tão duro com o outro. Afinal de conta, ele era Maia. Sabia melhor do que ele como gerir as coisas.
O Ainu vez por outra respondia de forma evasiva:
- Estava eu a cuidar dos nossos negócios. Valerá a pena, você verá!
- E por que não pode me contar onde é? O que está a fazer?
- Eu lhe disse, minha prenda: o segredo é a alma do nosso plano.
- Mas... segredo até comigo?! Agora eu que lhe pergunto: não confia em mim?
- Eu vou lhe contar tudo. Apenas ainda não está na hora. E agora... vamos cuidar de nós dois.
Nessa hora Annatar ia a beijar o moreno, mas ele o repeliu, ainda magoado.
- Sim, cuidar de nós. Quando faremos o anúncio público de que estamos juntos? Hein? Já espero há muito tempo.
- Os Anéis de Poder. Após a feitura dos mesmos, vou contar tudo. E aí poderemos enfim dizer a todos. Mas terá de aceitar os meus termos. Está bem?
- Seus termos? Que quer dizer?
- Isso direi eu quando tudo estiver pronto. De resto, somos imortais ambos. Temos toda a eternidade à nossa frente.
E após isso beijava-o enfim, Por algum tempo, Celebrimbor esquecia do que o afligia e voltava a se sentir com muita sorte de ter Annatar a seu lado...
E principalmente quando trabalhavam juntos nas forjas, nos Anéis, ele se maravilhava. O Maia era tão exímio no que fazia, que surpreendia até a ele, que já era muito experiente na arte da joalheria. Era simplesmente magnífico.
- Você é de fato muito admirável! - exclamava ele, cada vez mais surpreso com o que ele produzia.
O Maia sorria.
- Eu agradeço os elogios. Mas vários outros já me disseram o mesmo.
- Em Valinor?
- Quando eu vivia lá? Sim.
- E aqui?
- Aqui? Infelizmente me rechaçam. Mas você me valoriza, e isso já me deixa muito feliz.
Celebrimbor nessas horas tinha vontade de colocá-lo ainda mais num patamar acima do que ele na verdade estava, por causa daquela rejeição vinda dos demais senhores élficos. E como lendo os pensamentos dele - quem sabe não lia de fato? - perguntou:
- E Nerwen? Não tem aparecido por aqui?
- Não.
- Nunca mandou mensagem?
- Também não. Creio que finalmente compreendeu o seu lugar.
- E os demais? Gil-galad, Elrond?
- Muito menos. Ela ainda me procurava porque temos um parentesco distante por parte dos Noldor. Mas eles...
- Tome cuidado. Eu sinto que muito em breve eles virão e tentarão te dissuadir de trabalhar comigo. Por favor, sigilo! Se contar a qualquer um deles sobre os nossos Anéis, me sentirei profundamente traído.
- Ah, sim! Pode contar comigo. Somente os artífices sabem disso além de nós.
- Eles também tem que exercer o mais completo sigilo. Isto é muito necessário em nosso projeto! Confio em você!
- Caso alguém conte algo, será punido.
- Não seja mole com eles!
E nessas horas, quando o admoestava a ser mais duro, o Elda conseguia ver uma sombra e um fulgor nos olhos e na voz de Annatar que não eram aquele fogo maravilhoso e dourado que lhe deixava enlevado, mas sim um fogo terrível e uma escuridão fechada, sufocante, opressora. Mas logo passava e ele voltava a parecer o mesmo Annatar de sempre. Àquele momento, o ferreiro élfico não entendia o porquê de aquilo acontecer, nem o que significava.
Em breve saberia.
Àquele momento, no entanto, ele ainda confiava plenamente no Maia e faria tudo que ele pedisse. De fato o fez, quando num belo dia, enquanto trabalhavam nas forjas e testavam vários tipos de poderes diferentes nas joias, um mensageiro bateu à porta. Aturdido, não esperando aquela interrupção, Annatar escondeu rapidamente os Anéis e os trancou com seus poderes num determinado cofre.
O Elda estranhou todo aquele zelo, que a seu ver era exagerado.
- Quer sigilo até mesmo em relação ao mensageiro daqui de Eregion?
- Sim. Somente os artífices podem saber. Somente eles! O sigilo tem de ser absoluto!
- Se quer assim, está certo!
O Noldo abriu a porta e recebeu o recado.
- A Senhora Nerwen, de Lórien, se encontra no portão.
Celebrimbor olhou o Maia, aturdido.
- Recebo a senhora Nerwen ou não?
- Você é o Senhor de Eregion. Você é quem decide, portanto.
Ele ficou em dúvida. Sabia que o Maia não gostava nem simpatizava com ela, mas pensava que seria muito deselegante fechar a porta de sua casa a ela. Afinal, não lhe fizera nada de mal até então.
- Vou recebê-la.
E lá foi ele até o portão de Eregion. A Senhora Nerwen estava muito bela, como sempre, porém muito simples, quase sem atavios, a trajar branco. Tinha porte de uma senhora muito digna e distinta, como muitos de fato a consideravam. Vinha acompanhada de algumas aias e só. O Elda a recebeu com um sorriso e a cumprimentou. Ela portanto entrou, e começaram a falar sobre os últimos acontecimentos em seus próprios reinos. Celebrimbor, é claro, nada lhe falou sobre os Anéis. Mas ela, após não muito tempo de conversa, começou o assunto ao qual se propusera a falar desde que fora lá.
- Por um acaso você recebeu em suas terras a um senhor que se autodenomina Annatar? Um senhor alto, louro, que diz ser Maia de Aule?
- Sim, recebi. E o que tem ele?
- É sobre Annatar justamente que quero lhe falar.
Nessa mesma hora, o Maia saiu das forjas e foi de encontro aos dois Eldar. Nerwen teve um esgar de susto; não esperava que ele estivesse lá. Mas se controlou.
Mui respeitosamente, o Ainu foi até a Senhora e beijou-lhe a mão, com a mesma deferência que usava quando beijava a mão de Celebrimbor em sinal de respeito à sua autoridade de Senhor de Eregion. Ela deixou que ele o fizesse, porém quando o Maia levantou o olhar em direção ao dela, houve um embate terrível entre eles, e o fogo dos olhos do Maia pareceram novamente queimar com força e terror. Logo, porém, ele retornou a seu modo agradável de ser.
- Minha senhora. Estava a falar de minha pessoa?
- Sim - respondeu ela sem fraquejar.
- Pois que bom! Afinal de contas, o que pode ser dito sobre mim que não possa sê-lo feito em minha presença?
O olhar da rainha Noldorin estava claramente perturbado. Não ia fazer o jogo dele. Portanto, decidiu ser franca:
- Eu gostaria de falar a sós com Celembrimbor.
Novamente os olhos do Ainu queimaram, dessa vez de despeito e raiva. Mas ele se conteve e tentou inverter a situação.
- Assim a senhora me ofende.
- Perdoe-me. É assunto concernente somente a mim e ele. Somos primos distantes e alguns assuntos dos Noldor devem ser geridos apenas por eles próprios. Com licença.
Sem mais palavras, a dama saiu da presença de Annatar, a qual lhe incomodava imenso. Celebrimbor olhava aturdido para a atitude dela, considerando-a deveras ousada. Mas nada disse. Acompanhou-a portanto a uma sala um pouco distante dali, dado que a propriedade era deveras grande. Para não ser descortês com ela, mandou que trouxessem bebida e comida. Mas por dentro estava muito indignado com Nerwen.
Após os serviçais terem ido embora, se fecharam na sala, como a rainha pedira, e começou a demonstrar o que verdadeiramente sentia.
- Nerwen! Que absurdo! Ele é meu convidado de honra! Já há anos come e bebe da minha comida, e no entanto nunca me desrespeitou! Sempre me tratou como Senhor, mesmo sendo ele da raça sagrada dos Ainur!
- Celebrimbor, eu não posso mais me calar. Há algum tempo eu fechei as portas de meu reino a esse senhor, cheio de lisonja, cheio de palavras doces e musicais. Eu as fechei, assim como fizeram Gil-galad e Elrond. Nós os Altos Elfos, temos de nos unir, somos poucos os remanescentes deste lado do Mar. Principalmente dentre os Noldor.
- Pois eu nunca apresentei desunião a vocês! Nunca! Nerwen, eu apenas recebi aqui em minha casa a um artífice que vem do próprio Aule, e que nos últimos anos só tem feito coisas boas por mim e por minha gente! Se ele fosse alguém ruim, eu ja teria percebido!
- Ele é da raça Ainu. Disso eu tenho certeza. O brilho nos olhos dele é de uma qualidade que não se encontra nem nos Altos Elfos que vivem em Valinor. Mas devemos nos lembrar que o Inimigo seduziu a muitos Ainur para seu serviço, ainda no começo de Arda! E que nem sempre o Mal vem numa roupagem desagradável! Muitas vezes ele vem de forma agradável e bela, pois sim?
O artífice sorriu, fazendo um gesto de desdém.
- Ele? Bobagem! Se quisesse fazer o mal, o que não faltaria é oportunidade! Já está aqui há muito tempo, trabalha diretamente comigo e caso quisesse destruir Eregion, já o teria feito há muito tempo.
- Às vezes o mal demora a se manifestar e não é tão óbvio! Não posso afirmar que ele seja de fato mau. Mas é que ele parece... bom demais!
As palavras de Annatar reverberaram dentro do Elda e ele lembrou do que ele dissera sobre ser ela orgulhosa e não querer que ele alçasse vôo, e sim colocar em si um cabresto. Isso lhe doeu, e foi com tal dor no coração que ele falou:
- Ah, então ele é "bom demais" para Eregion! Se fosse um senhor medíocre, aí estaria tudo bem!
- Não foi isso que eu quis dizer! Escute. Por qual razão um senhor Ainu viria até a Terra-média, para compartihar a seus vastos conhecimentos conosco? Há milênios que nenhum Ainu vinha para cá!
- Ah, é claro! Por que viria ele? Só pode ser para se aborrecer com o imbecil do Celebrimbor!
- Você está a entender tudo errado! O que quero dizer é que alguém da estirpe dele jamais ensinaria a tantas coisas de graça, sem ter um propósito! Os Ainur nos deixaram a sós na Terra-média há muito! Para que tenhamos seu auxílio, deveríamos ir ao Oeste! E não eles até nós! E foi por isso que eu e os demais Senhores fechamos as portas a ele: por crer que sua oferta é boa demais para ser verdade!
- Pois eu não penso assim. Eu mereço ter a alguém como Annatar a me instruir e a trabalhar comigo! E eu o quero a meu lado. Agora, por favor, se veio aqui somente para me dizer o que devo ou não fazer em minhas terras... pode se retirar.
- Celebrimbor, você tem uma espécie de orgulho diferente do orgulho dos demais Noldor. Você é gentil, é humilde para um senhor Noldorin. Mas tem um orgulho. Você não aceita pouco. Quer sempre as melhores coisas, não aceita o segundo lugar. Por isso esse senhor o impressionou tanto. Porque ele é simplesmente o melhor artífice! E você se sentiu lisonjeado e envaidecido por ter caído nas graças dele!
- Sim? E que mais? Agora vai dizer que sou ingênuo demais para lidar com meus próprios negócios e hóspedes? Como se eu fosse criança?
- Não é questão disso! É questão de escutar os que estão de fora e podem ver a situação melhor! Ele quando foi a Lórien tentou ler a minha mente! O olhar dele tentou entrar no meu, e ele intentou explorar os meus pontos fracos! Ele sabe que sempre tive vontade forte e por isso, somente com o olhar, me ofereceu os melhores reinos da Terra-média, e o melhor posto de Rainha que uma Elda poderia ter do lado de cá do mar! Isso, esse ato de ofertar coisas superlativas, é artimanha do Inimigo! Eu não vejo ele como alguém bem intencionado!
- Por favor. Eu sei lidar com a minha vida. Se somente veio para causar contenda entre mim e o senhor Annatar, vá embora.
Mais uma vez Galadriel olhou nos olhos do parente, intentando ver além do que ele demonstrava. E viu. Viu que no lugar do anterior Vazio que havia dentro dele, agora habitava... aquele olhar, que era de ouro mas também era de fogo, intenso, forte. Ele tomara o lugar do Vazio no coração de Celebrimbor.
- Você o ama! É por isso que ao contrário de nós não enxerga o que ele faz!
Impetuoso, finalmente sentindo o seu orgulho de Noldo a aflorar, ele a mirou de forma altiva - a qual não costumava usar - e proferiu afinal:
- Amo sim! E qual o problema?
- Eu falei tanto para desposar alguém dentre nosso povo! Seria uma aliança bonita! Elrond está noivo da minha filha! Eu também ficaria tão feliz de ver você reforçar o parerntesco comigo através de uma união com alguém de meu reino!
- E qual o problema de me unir a ele? Hein? Ele me ama, eu o amo. Qual o problema? Thingol não se uniu a Melian?
- Melian era de uma natureza completamente diferente! Não tinha essa... essa coisa, essa sombra que vejo nele, a despeito de toda a luminosidade que tenta colocar em seus olhos e aparência em geral! Celebrimbor, você não foi o primeiro dele! Esse senhor tem um passado nefasto, tal sombra me diz!
- Ele disse pra mim que não fui o primeiro. Jamais mentiu! Mas por isso, por eu não ser o primeiro, por isso ele tem de ser nefasto?!
- Houve muitos outros. Não houve só um antes de você, houve muitos outros! Eu leio isso nos olhos dele, ele já teve muitos amantes! E você é apenas mais um deles!
- Cale-se! Que absurdo! Eu nunca me meti no seu casamento!
- Eu e Celeborn estamos juntos há muitos anos. E nunca houve nada entre nós semelhante à sombra que esse senhor apresenta! Ele é perigoso!
- Isso é bobagem. Você e Celeborn se dão bem porque ele se humilha perante a Soberana Senhora Nerwen! É isso, você jamais aceitaria desposar a um rei de grande majestade! Mas eu não... eu não me importo de me unir a alguém que é superior a mim em conhecimentos, beleza e origem. Eu não me importo! Porque como você mesma disse, eu não sou orgulhoso como a si! Felizmente nisso sou muito diferente dos demais Noldor.
O olhar dela se demonstrava profundamente magoado. Mas por sua experiência, deixou passar.
- Eu sou sim orgulhosa, e reconheço meus defeitos. Mas, Celebrimbor... saiba que eu não vim aqui movida pelo orgulho. O sofrimento, as perdas, os anos, tudo isso fez com que eu me controlasse bastante nesse aspecto. E sei, também, que as palavras que você proferiu contra mim não vieram do seu coração, e sim foram plantadas aí por ele. Annatar fala pela sua boca! Ele enxergou o Vazio que você carregava em seu interior e o preencheu à sua maneira! Você já está demasiado rendido a ele, e eu temo ter chegado tarde demais. De qualquer forma, meu recado está dado.
- Pois então saia da minha casa. Saia! E não me volte mais aqui, se for para falar mal daqueles que me são caros!
- Eu vou. Não fico onde não sou bem vinda. Porém... saiba que quando você perceber quem é de verdade o senhor Annatar - e esse alguém nem eu sei quem é ainda - as minhas portas estarão abertas a você. Eu não as fecharei, como você agora fecha as suas a mim, pois sei que está tomado por uma cegueira. Apenas espero que ela não o deixe tarde demais!
- Saia! Fora! Fora, rua! Estou farto de seus conselhos! E diga o mesmo a Elrond, a Gil-galad, à sua filha, ao seu marido, a todos esses nobres senhores! Não quero nenhum de vocês me importunando mais!
Sem mais dizer palavra, a senhora Nerwen saiu do recinto sem se despedir. E foi sem se despedir que ela chamou às suas aias, ignorando a presença de Annatar como se ele ali não estivesse, e foi-se embora pelos portões de Eregion, sem voltar a cabeça para trás por um único segundo.
O Maia, embora aparentasse calma, estava bastante apreensivo. Durante toda a palestra de ambos, ficara olhando com ódio à porta fechada do recinto no qual se encontravam, quase a queimando de ódio só de olhar. Aquela mulherzinha! Ia tentar fazer sua caveira, pois sim? O pior seria se Celebrimbor contasse algo sobre os Anéis de Poder. Aí sim seria tudo muito pior. Confiava que ele guardaria o seu segredo.
Assim que viu a rainha partir junto de suas damas, Annatar foi indagar a respeito do que falaram.
- O que veio ela falar de mim?
- Você acertou em cheio. Essa senhora metida a besta! Tentou falar mal de você! Dizer que tentou ler a mente dela!
- Eu apenas ofereci meus préstimos, a ela e aos demais. Nada mais fiz! Viu que a tratei com a maior cortesia, e ela me ofendeu profundamente.
- Pois não vi? Não fizemos nada a ela!
- E que mais?
- Eu disse... ou melhor, ela viu em meus olhos.
- O que?
O Maia pensava que era sobre os Anéis de Poder, mas não. Felizmente não.
- Ela viu que o amo.
- E você confirmou a ela?
- Sim. Desculpe se fiz mal. Mas ela precisava ouvir!
- Ah, minha prenda... e os Anéis de Poder? Manteve o sigilo sobre eles?
- Completamente. Sequer comentei sobre eles.
- E ela, falou algo que deu a entender que sabe de algo?
- Não.
- Fico mais aliviado diante disso! Por favor, não traia o nosso segredo! Eu confio tanto em você, Celebrimbor... se soubesse a importância que tem no meu trabalho... eu temia que desse ouvidos a ela e não fosse mais me querer aqui!
- Não dei. Disse a ela ir embora, que não quero mais os conselhos dela! Nunca mais! Darei ordens aos guardas para não mais deixar ela ou alguém da parentela dela entrar aqui! E é isto! É necessário ser enérgico de vez em quando.
- Pois foi o que lhe falei. Sobre ser firme. Sobre a guerra nem sempre ser do nosso agrado, mas às vezes ser necessária. E nesse caso nem falo propriamente de guerra, mas sim... de evitar dar ouvidos a esse tipo de palavras! Ah, Celebrimbor... tive tanto medo que escutasse a ela em vez de a mim! Tive tanto medo de perdê-lo quando vi vocês dois a se trancar naquela sala...
O coração do Elda se enterneceu na hora. Abraçou ao Maia e falou a ele com carinho:
- Ela não vai mais interferir entre nós. Tem inveja de mim, agora o percebo plenamente! Vamos ficar juntos os dois. Eu também não quero perder você. Nunca!
E sendo assim se beijaram na boca. Aquela sombra, que Galadriel tão habilmente vira no semblante de Annatar, se demonstrou outra vez... pois embora a visita dela tenha sido a si um susto, acabou por demonstrar ser a sua vitória sobre a Senhora de Lórien - ao menos por enquanto.
To be continued
---------------------------------------------------
Nota da Autora: é muito comum pessoas abusadas terem suas necessidaes tão preenchidas pelos abusadores, que ignoram todo e qualquer aviso vindo de fora, mesmo vindo de pessoas que as amam. Muitos literalmente se isolam de todos e cortam contatos ou amizade, às vezes até ser tarde demais.
Nos próximos capítulos se inicia enfim a desvalorização - e o elfo vai começar a sofrer.
Abraços a quem está lendo!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor de Perdição
TerrorFanfic na qual Celebrimbor e Annatar são amantes, porém tal "amor" é extremamente destrutivo. Mais uma história de relação abusiva.