Capítulo 7

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Capítulo 7

Quando Celebrimbor percebeu que havia sido deixado sozinho e Annatar não voltaria - ao menos não tão cedo - simplesmente se levantou e foi para dentro de suas propriedades. Não rumou para as forjas, pois não conseguiria trabalhar lá. Foi para seus aposentos e lá chorou, tentando acalmar os pensamentos. O que havia sido aquilo? Será que ele próprio estava errado? O erro fora dele?

- Espere, o erro então foi meu?! Ele diz pra mim que não me ama, que teve vários amantes... e o errado sou eu? Não! Eu não devia ter me abaixado em meu orgulho! Eu estou certo!

E por algum tempo se sentiu tranquilo. Mas depois vinham outras dúvidas, as quais haviam sido propositadamente colocadas em seu âmago por Annatar. Ora, se nunca o amara, apenas se aproveitara de si na feitura dos tais Anéis de Poder? Será que o Maia simplesmente o fizera se apaixonar para se aproveitar dos joalheiros élficos de Eregion?

Afinal de contas, a maioria dos Eldar que ele conhecia pensava e agia de acordo com aquele costume - o de ter relação sexual apenas por amor e numa relação duradoura. Até onde sabia, em Valinor aquele pensamento também era compartilhado inclusive pelos Ainur. Se Annatar era diferente, era porque aprendera códigos de conduta diferentes na Terra-média.

- Será que...

Lembrou imediatamente das palavras de Galadriel, que Morgoth induzira muitos Ainur a seu serviço no começo dos tempos.

- Não! Não é possível. Ele pode ser diferente, mas não é maligno. Afinal de contas, as obras dele são lindas! Todas elas embelezaram e melhoraram muito a região de Eregion, ele não pode ser mau! Não, alguém mau jamais faria isso!

E começou a pensar nas promessas lindas que ele fazia, de um mundo mais ordenado e belo. Lembrava que ele próprio imaginava a Angband, bem como aos inimigos como Morgoth, Sauron os balrogs, os orcs, como seres horrendos e sem atrativo algum, apenas com atributos abjetos.

Mas a senhora Nerwen lhe falara que às vezes o mal se disfarça de uma maneira bela e agradável.

- Não!

Repudiava ele aquela ideia que cismava em martelar em sua mente, a de que Annatar o estava enganando ou mesmo se aproveitando de si e dos seus artífices. A memória emocional - muito forte para os Eldar, fossem eles nobres ou não - era muito nítida. Lembrava ele dos encontros sob o luar, e de todas as maravihas que ele vira Annatar fazer. Não podia ser mau, ele!

Então por que não o amava? Por que simplesmente se fora? Outra questão que o incomodava grandemente era a de que ele se fora sem dizer mais nada. Se voltava, se não voltava, se a relação deles estava terminada. Ou se era aquela mais uma das ausências dele e logo voltaria para Eregion.

Não quis agir de cabeça quente. Parou, respirou fundo e pensou no que fazer. No começo, com muita mágoa, pensou em esconder ou mesmo destruir os Anéis de Poder. Mas não achou aquilo justo. Afinal de contas, não os confeccionara sozinho. Não eram seus portanto.

Então teve uma ideia. Algumas semanas depois da partida do Ainu, quando já estava um pouco melhor, tomou de seus instrumentos de forja e fez três anéis élficos de grande poder. Neles colocou todo o seu propósito de criar um mundo melhor, que lembrasse os dias antigos da Terra-média e mesmo de Valinor. Demorou bastante para fazer aqueles, pois os fez com todo o amor, com todo o capricho que possuía. E neles Annatar não teve participação na feitura, nem os tocou. Ou seja, pertenciam apenas a ele mesmo - e aos a quem ele pudesse vir a ofertá-los no futuro.

Nos demais anéis, de fato, o poder dele e do Ainu estavam misturados. Confiara demasiado nele na época, pensava que ele era o grande amor de sua vida, ainda o crendo como Aulendil, o maior artífice Maia de Aule. Àquele momento, quando tudo era incerto, ele fez os Três Anéis sem a participação dele, justamente para que o Ainu não pudesse reivindicar aquela premissa que usara pouco antes de ir embora - a premissa de que ele próprio ajudara a criá-los e que o poder dele estava também neles. Aqueles Três não seriam de Annatar.

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