iii. the old cam

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(DEADLY FLASH!)





















1998

Sábado de tarde. Os raios de Sol iluminavam o céu azul claro e esquentava o asfalto.

Era o primeiro dia quente de primavera. Eu usava uma blusa neon com um short jeans enquanto Noah usava um conjunto de bermuda azul e blusa branca. Era ótimo fingir que já era verão.

Estávamos andando de bicicleta na rua. Passamos pela escola e a loja de conveniência, indo em direção ao parque público.

Tivemos que apertar os freios para diminuir a velocidade na descida da ladeira íngreme.

Atravessamos o parque, cortando as sombras que o emaranhado de árvores velhas projetavam na rua. Passamos pelas casas de alguns alunos de Slydoor High.

Uma garota na esquina lavava o carro com uma mangueira no jardim. O brilho do Sol iluminava seus cabelos cor de fogo. Usava um top listrado e colorido com short jeans.

Apertei os olhos para identificar a garota. Ah, óbvio. Era Sadie. Noah poderia estar certo, ela era bonitinha. Mas era insuportável.

— Veio aqui desistir? Puxa, Brown. Esperava que você fosse dar um passo para trás, porém não tão cedo.

Revirei os olhos e pedalei mais rápido.

— Tchau pra você também! — ela gritou.

Rápido, sua voz foi ficando para trás. Eu e Noah viramos mais uma esquina. E depois outra.

O Sol brilhava mais do que nunca. Não era possível abrir 100% dos olhos. Vi umas casinhas minúsculas, bem juntas uma da outra.

Uma em específico me chamou atenção. Tinha papelão cobrindo a janela e o quintal estava repleto de latas de lixo.

Paramos perto de uma placa jogada na grama. Deixamos as bicicletas juntas no chão e andamos em direção a casa.

Um cachorro alto e esquelético começou a latir para nós e depois avançou. Soltei um gritinho abafado e Noah me olhou com uma careta.

O cachorro estava preso em uma coleira de metal.

— Onde a gente tá? — perguntei, olhando para a pequena casa de madeira.

— Não conheço esse lugar. — respondeu Noah. — A gente nunca veio tão longe.

— É meio...

— Bizarro. — ele completou.

Ia dar meia volta e pegar minha bicicleta se Noah não tivesse arregalado os olhos e sorrido.

— Olha lá, é uma venda de garagem!

Ele não esperou por mim, saiu correndo em direção às mesas e balões vermelhos balançando ao vento.

A casa de madeira era pequena. E quadrada. A porta de tela estava rasgada e entreaberta. Algo me disse que isso tinha a ver com o cachorro preso na coleira.

A única janela que não estava tapada por papelão, tinha um macaquinho de pelúcia que parecia me observar. Desviei o olhar.

Uma mulher alta e magra estava deitada em uma cadeira de praia. Usava um vestido amarelo e um chapéu praiano.

Assim que nos avistou, ela sorriu e acenou. Mas não levantou.

Ela se abanava com um jornal dobrado, depois o usou para apontar para as mesas cheias de coisas à venda.

— Está tudo pela metade do preço. — anunciou, sorrindo. — Não tive tempo de colocar as etiquetas mas é só me perguntar quanto custa.

Não havia mais ninguém por perto. O único barulho ela do cachorro raivoso latindo para o nada.

Noah se aproximou da arara com casacos antigos. Todos pareciam estar muito ruins.

Percebi que em uma mesa, havia uma pilha de partituras musicais. Eu tinha aprendido a tocar piano um tempo atrás então peguei algumas para examinar.

Estavam todas extremamente fedidas e caindo aos pedaços. Que nojo.

Devolvi para a mesa e bati as minhas mãos no short. O que não adiantou, pois o cheiro ruim ainda estava nas minhas mãos.

Me virei para Noah e ele estava experientando chapéus de palha. Parecia um cowboy esquisito.

Havia várias prateleiras lotadas de velhos jogos de tabuleiro e bonecos. Bonecos de pano. Esquisitos.

Então eu a avistei. No fundo da prateleira de bonecos. Uma câmera.

Estiquei meu braço para pegá-la.

— Esquesitooo. — cantalorei baixo para mim mesma.

Com certeza era bem velha. Era quadrada e muito pesada. Feita de metal e coberta por couro preto. Me perguntei qual tipo de filme ela usaria.

Eu a virei e vi um flash embutido em cima. Nunca tinha visto uma câmera como aquela.

Só tinha 5 ou 10 dólares na mochila. "Droga!" pensei.

Eu a levei até a mulher da cadeira de praia.

— Qual é o preço desta câmera?

A mulher me olhou e eu vi seu rosto ficar vermelho. Ela arregalou os olhos e seu queixo começou a tremer.

— Querida, é melhor você largar isso. — falou forçando um sorriso, tentando esconder sua feição de pânico. — Não está a venda. E você não vai querer ela. É melhor largar. Agora! — gritou a última parte e eu me assustei.

— Tu-tudo bem. — gaguejei. — Me desculpe.

— Quer saber? É melhor vocês irem embora. — a mulher começou a enxotar eu e Noah com o jornal dobrado.

Bizarro.

Voltei para a garagem, ainda com a câmera na mão. Estiquei meu braço para devolver a câmera, mas senti alguém cutucar meu ombro.

Me virei. Era uma garota um pouco mais nova que eu, uns 12 anos. Ela tinha cabelos escuros caídos no ombro repletos de cachinhos. Usava uma calça jeans e um moletom rosa escrito "princesinha da mamãe" com glitter.

Sua pele era branca. Talvez branca demais. Eu conseguia ver suas veias. Me perguntei se ela tomava algum Sol.

— Você quer a câmera? — ela perguntou com uma voz leve e doce.

— Olha...Eu não sei. Se tiver algo errado...

Ela empurrou a máquina contra meu peito.

— É sua. Pode levar.

— Quanto é? — perguntei já abrindo minha mochila.

— De graça. — respondeu ainda com a voz doce porém seu rosto não tinha nenhuma expressão. Bizarro. — Leve logo, antes que a mamãe veja.

E ela começou a me empurrar para fora da garagem.

Murmurei um "obrigada" para a garota e enfiei a câmera antiga dentro da minha mochila. A mulher não viu. Estava tomando limonada na cadeira de praia.

Noah deu uma corridinha até mim.

— Vamos embora, não tem nada de bom aqui. — ele disse baixinho.

Concordei com a cabeça e nós dois fomos pegar as bicicletas.

Nos despedimos e saímos pedalando. Quando já estávamos na rua, olhei de novo para a garagem. A filha estava parada. Nos olhando.

Acenei para a ela mas a mesma não respondeu. Sem emoção.







n/a:
oi uhu
quero saber oq voces
estão achando kk

deadly flash | sillieOnde histórias criam vida. Descubra agora