Capítulo 8

34 2 0
                                    

Eu consegui duas músicas antes de sexta-feira. Soft Hands e I'm not perfect, but i love you.
Os meninos vão ficar tão felizes!

— Aonde vai com tanta pressa? — Samuel perguntou, vendo que eu estava saindo de casa mais cedo que o normal.

— Bem, eu sempre chego atrasado — admiti. — Mas não hoje.

— Então tchau, senhor guitarrista.

Ele riu, enquanto eu acariciava o pelo de Sushi. Não tinha um dia que eu não me despedia daquele cachorro.

— Tchau, até a hora do jantar.

— Não, hoje é feriado, não vou trabalhar — ele mordeu o lábio inferior, uma mania que eu descobri que ele tinha e que eu achava sexy. — Vou estar aqui quando você voltar e tudo pode acontecer.

— Tudo pode acontecer?

Ele sorriu para mim e depois piscou, fazendo meu sangue ferver.
Então, eu sai de casa e entrei dentro da minha querida lata velha amarela.

🎸

— Ótimo, John! — Caio exclamou. — Essas músicas são ótimas! E juntando com as outras duas que já tocamos em shows pode ter certeza que vamos arrasar!

— Arrasou, John Lennon!

Peter ergueu sua mão para mim e fizemos um "toca aqui".

— Bem, olhem aqui — peguei minha guitarra. — Para I'm not perfect, but i love you eu pensei que o solo de guitarra devesse ter mais destaque, tipo assim — toquei alguns acordes do refrão da música, aonde eu dizia como eu não era um homem para casar, mas mesmo assim, eu amava Samuel. — E para a música Soft Hands, eu quero que você toque piano, Peter.

— Pode deixar!

Ele correu até o piano.

— Algo suave, como na música Let It Be dos Beatles.

Ele assentiu e então os outros também pegaram seus instrumentos e tentamos criar um o som para as músicas. Fizemos isso até o fim do ensaio.

🎸

— Seja bem-vindo de volta, guitarrista — é realmente legal ter Samuel em casa assim que eu volto do ensaio. — Como foi?

— Legal — deixei minha guitarra em um canto e dei atenção para Sushi que estava fazendo festa com a minha chegada. — O almoço está quase pronto, depois daqui eu vou para o mercado — Ele colocou alguma panela na mesa. — O que acha de ir comigo?

— Pode ser.

Ele sorriu e então voltou para o fim do almoço. Então, almoçamos e fomos para o mercado no meu fusca. Apesar de ter a carteira de motorista, Samuel disse que ainda não tinha dinheiro o suficiente para comprar um carro e que, quando tivesse um, iria ao trabalho somente de carro, porque era cansativo pegar ônibus lotado. Então foi aí que me ofereci para levá-lo ao trabalho todo dia, eu só precisava sair alguns minutos mais cedo do ensaio. Ele concordou, e eu ganhei mais tempo com ele durante os dias.

— Você vai querer alguma coisa? — Samuel perguntou, colocando uma caixa de morango no carrinho, enquanto eu o empurrava pelo super mercado. — A lista de compras já acabou.

— Não vou querer nada.

— Então vamos para a fila.

A fila do mercado estava enorme, e eu comecei a me perguntar porque tinha tantas pessoas ali em plena quarta-feira. Então lembrei que era feriado.

— Sabe, quando você se tornar rico, famoso e astro do rock, vai me esquecer?

— Nunca.

E era verdade. Afinal, é ele que me faz escrever músicas, de alguma forma, se eu o esquecesse então também esqueceria como se escreve uma boa canção.

— Duvido — brincou. — Mas eu vou acreditar que você jamais vai abandonar seu preciso colega de quarto.

— Você é precioso, não vou te abandonar.

As bochechas dele ficaram coradas e então eu percebi o que tinha dito. E, ok, eu posso ser bem direto às vezes sem querer, engraçado, né?

— Obrigado, John.

Minha vez de ficar corado.

— N-nada.

Finalmente chegou a nossa vez.
Saímos do mercado com as mãos cheias de sacolas e guardamos tudo no porta-malas do amarelinho. Esse é o apelido que Samuel deu recentemente para meu fusca: amarelinho. E eu aqui, o chamando sempre de lata velha.

— Obrigado por ter ido ao mercado comigo. — Samuel disse, assim que chegamos em casa e colocamos todas as compras na mesa da cozinha.

— Não foi nada.

— Então, amanhã você vai me levar para o trabalho, certo?

— Certo.

Ficamos um tempo nos encarando, como se o mundo tivesse parado. Até que ele solta:

— Afim de assistir um filme?

— Pode ser.

Ele sorriu e então saiu para a sala, perguntando se tinha problema o filme ser brasileiro. Eu disse que não e resolvi ir fazer pipoca enquanto ele escolhia.

— Minha mãe é uma peça? — perguntei, assim que ele apareceu com o DVD em mãos.

— É o filme de comédia favorito da minha mãe, mas eu prefiro de pernas pro ar.

— De pernas pro ar também é filme brasileiro?

— Bingo! Comédia brasileira!

— O Brasil faz bastante comédia, não?

— Você já viu a tradução das músicas dos Mamonas Assassinas? — balancei a cabeça e ele riu. — Depois eu te mostro e talvez você nunca mais queria cantar cover dos Mamonas.

— Uau, que medo!

Ele riu de novo e então disse que me esperava na sala.
Eu terminei a pipoca e fui de encontro com ele. Samuel colocou o filme e eu gostei das comédias brasileiras. Também assistimos outros filmes, alguns brasileiros e outros não.
Mais tarde, eu finalmente descobri a tradução das músicas dos Mamonas. Confesso que gargalhei muito com Samuel. Esses caras sabiam fazer um belo show de comédia usando a música. Aposto que os meninos vão adorar saber a tradução das músicas.
Então, eu amo o Brasil, como amo Nova York. E eu amo, principalmente, o Samuel, que tem um pouco dos dois.

O seu amor é Rock And RollOnde histórias criam vida. Descubra agora