11 | Toque-me

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[Sábado, 21 de Setembro de 2019]

Quando saí do quarto no sábado após o almoço, Anderson ainda dormia, então não pude avisá-lo que eu possivelmente não voltaria até domingo à noite.

Na verdade, eu me sentia prestes a explodir, assim como meu coração parecia fazer. Eu podia sentir minha mão gelada ao apertar a única alça da mochila sobre meu ombro e o olhar atento, quase hipervigilante, ao buscar Connor por entre o verde do extenso Quiet Green.

Quando senti algo tocar meu ombro, dei um pulinho, mas não pude deixar me virar rapidamente com um olhar assustado, com certeza me sentindo ansioso. Era apenas Connor, que acabou me encontrando antes que eu o encontrasse. Ele levou as duas mãos a me segurar pelos braços enquanto engoli em seco, quase perdendo o fôlego.

"Quanto nervosismo. Relaxa." Disse, sorrindo como se estivesse se divertindo com o meu estado de alerta sem fundamento. "Me acompanha?"

"Eu vim pra isso." Dei de ombros, expirando um riso puramente nervoso, principalmente pela antecipação do que ainda me aguardava por aqueles dois dias. E eu sequer sabia o que poderia acontecer.

"Mas se sente forçado?" Perguntou, sério, assim que começamos a andar sob a sombra das árvores no gramado dos dois lados da calçada pavimentada, provavelmente na direção de onde ele havia deixado estacionado o carro.

"Eu sei fazer minhas próprias decisões, apesar de não parecer."

"Boa resposta." Connor curvou os lábios na minha direção. Eu balancei a cabeça, olhei para baixo e sorri por algum motivo bobo.

"E o que você andou preparando pra hoje?"

"É surpresa." E eu não precisei olhá-lo para perceber o sorrisinho indecente aparecer em seu rosto. "Você é meio ansioso, sabia? Precisa pegar mais leve."

"Dizer isso não ajuda muito, e você sabe." Respondi, e aos poucos aquela maldita sensação de frio na barriga voltava conforme nos aproximávamos dos degraus para a calçada. "Mas eu 'to confiando em você."

"É o primeiro passo." Deu dois tapinhas em meu ombro.

"Você sempre foi assim?" Olhei-o diretamente, com alguma curiosidade. "Do tipo que parece ter duas personalidades?"

"Me chamando de duas caras? Quanta deselegância pra uma pessoa como você." Disse, fingindo um tom de indignação que me fez rir brevemente. "Mas você também é assim, não percebe? Ninguém é a mesma pessoa o tempo todo."

"Você pode até ter alguma razão." Admiti ao descermos os degraus, já diante do Civic cinza. Rapidamente, Connor passou à frente e abriu a porta do passageiro para que eu entrasse, assim como fez na terça-feira ao sairmos de sua casa.

Eu ainda estranhava um pouco esse tipo coisa, mas não me importava realmente. Se ele queria mesmo fazer isso, eu não via problema. Apenas quando começou a dirigir pelas ruas da cidade, Connor retomou o assunto.

"Acho que não há problema em ter duas personalidades, é até melhor assim. Você pode escolher a que se adapta melhor à situação."

"Quase como você mesmo fez na festa do início do ano e naquele primeiro encontro no Quiet Green?" Perguntei, de certa forma o colocando contra a parede.

Connor me olhou de relance com os olhos estreitados e sorriu de canto, balançando a cabeça sutilmente.

"Também tem uma língua bem afiada quando quer. Admito, você me impressiona mais a cada dia..." Disse. A voz baixa e marcante me causou um leve arrepio. "E, sim. Quase como fiz na festa e no encontro."

BRANDT - Amor e SubmissãoOnde histórias criam vida. Descubra agora