03 | Seguidor

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Assim que tocou o sinal da minha última aula, eu me levantei para sair dali antes que o sono se tornasse mais forte que eu. O professor Jenkins nos dava a aula mais chata de todas e de uma maneira nem um pouco didática, o que só dificultava a vida de todo mundo, inclusive a minha.

Meu telefone tocou no bolso logo quando entrei em meu quarto. Era minha namorada, Ivy, quem ligava. Eu estava tão embriagado pelo sono vespertino que tudo que fiz foi jogar a mochila perto do armário antes de me jogar sobre a cama com o telefone já à orelha.

Ivy perguntou coisas tão básicas que eu cheguei a pensar que ela estava fazendo aquela ligação apenas por um sentimento de dever. Eu não protestei, no entanto. Respondi às perguntas do mesmo modo mecânico que sua voz baixa e suave falava, ligeiramente sonolenta. Eu até queria ter mais coisas para dizer, porém estava tão cansado que as lembranças mal vinham à minha cabeça.

Eu não sabia se era culpa do início brusco das aulas, da onda de calor que castigou a costa leste americana nos dias anteriores ou somente por causa do combo de aulas insuportáveis que eu inevitavelmente teria às sextas-feiras, mas eu estava mesmo a um passo da cova. Eu precisava urgentemente de um descanso e, por mais que amasse Ivy, queria logo desligar o maldito telefone.

Não demorou muito tempo até que finalmente desligássemos a chamada e eu caísse no sono ali mesmo, no quarto estranhamente vazio. Pensei que Anderson tivesse saído da aula direto para algum barzinho ou coisa parecida, então sozinho eu estava e sozinho adormeci, sem nem mesmo ter fechado as cortinas para evitar a luz solar das duas e vinte da tarde.

Eu acordei já no início da noite, todavia não me preocupei muito com socialização. Apenas comi qualquer coisa, tomei um banho e conversei um pouco com Harvey antes de voltar para a cama. Só abri os olhos na manhã seguinte por causa do despertador do celular, e foi por pouco que não o arremessei na parede. Eu sentia um desconforto no pescoço, talvez por ter dado um mau jeito enquanto dormia, e pensei que tomar uma nova ducha quente faria bem.

Deixei o quarto vazio ao sair. Aparentemente, Anderson não havia chegado e muitos ainda estavam dormindo. Poucas vozes rondavam a casa, principalmente vindas da sala de convivência no andar inferior.

Sem muitas cerimônias, tomei minha ducha, escovei os dentes sob o chuveiro, dei um jeito de lavar o rosto para tirar a expressão causada pelas horas excessivas de sono e saí do banheiro descalço, vestindo uma regata branca e uma bermuda jeans rasgada, para levar minhas roupas sujas à lavanderia no porão.

Quando estava na metade das escadas, encontrei Harvey as subindo. Ele abriu um largo sorriso ao me ver, fizemos um cumprimento de mão e ele, aparentemente bastante animado naquela manhã de sábado, decidiu me acompanhar até a lavanderia enquanto íamos conversando.

"Semana difícil, cara?" Perguntou ele, assim que notou que eu não estava assim tão animado para o fim de semana. Apesar da boa noite de sono, eu ainda estava um pouco tenso.

"Foi um inferno." Então ri em certo nervosismo ao levar a mão a coçar a nuca. "E a sua?"

"Não foi tão ruim assim, eu 'to legal." Harvey amigavelmente me deu um tapinha nas costas assim que pisamos nas escadas do térreo que desciam até o porão.

"E você sabe por onde anda meu colega de quarto? Eu não o vi chegar ontem à noite e nem hoje quando acordei."

Harvey imediatamente sumiu com o sorriso de seus lábios carnudos e desviou o olhar para os degraus que descíamos, como se estivesse pensando em uma resposta boa o suficiente para ocultar o que ele possivelmente sabia.

"Deve estar por aí. Anderson também parecia meio estressado ontem, não acha?" Foi o que ele disse, por fim. Consegui detectar algum nervosismo em seu sorriso quando ele também levou a mão à nuca.

BRANDT - Amor e SubmissãoOnde histórias criam vida. Descubra agora