13 | Sim, senhor

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[Segunda, 23 de Setembro de 2019]

Eu olhava para o celular onde o número de Ivy já estava discado, mas simplesmente não conseguia apertar o maldito botão de ligar. Não bastasse eu estar andando de um lado para o outro sobre o gramado do Quiet Green naquela manhã de segunda-feira cujas aulas foram canceladas por algum motivo, ainda tinha alguns lapsos de memória do fim de semana.

Eu não fazia a mínima ideia de como começar aquela conversa com Ivy. Achava que não poderia simplesmente dizer que queria terminar, e também não queria dar a entender que estaríamos só dando um tempo.

"E eu pensando em deixar minha namorada por um homem. Um Dominador."

Arfei assim que mais uma vez revisitei as cenas com Connor, e um arrepio intenso percorreu minha espinha até os pelos da nuca. Eu olhei para os lados, encontrando apenas algumas pessoas bem longe, no banco próximo a um dos prédios sob uma árvore alta. Ninguém percebeu a reação que tive com minhas próprias memórias.

Eu balancei a cabeça e respirei fundo, erguendo o olhar para o céu limpo ao tomar alguma coragem para ligar. Então voltei os olhos para o celular e, assim, apertei o botão de chamada. Cada toque era uma batida do meu coração. Senti minhas mãos esfriando, e cerrei o punho quando ela atendeu.

"Brandt, oi! Eu estava quase te ligando." Ela riu sem humor do outro lado enquanto eu já parecia não mais reconhecer sua voz.

"Oi, Ivy. Eu..." Apertei os olhos e levei a mão a massagear as têmporas antes de continuar. "Preciso conversar. Eu sei que deveria ir até Vegas e tratar disso tudo pessoalmente, mas..."

"Eu entendo, não se preocupa." Confortou-me, com a voz mais suave. "Acho que eu também tenho algo pra conversar com você, já que tocou no assunto. Pode falar primeiro."

"Eu... droga." Olhei para cima, respirei fundo e apoiei a mão desocupada na cintura. "Eu quero terminar o namoro, Ivy. E também quero te pedir desculpas. Acho que não fui um parceiro muito bom."

"Sempre tão dramático, Brandt..." Ela sorriu do outro lado, mais humorada, o que me fez até torcer a cara por um momento. "Eu também queria conversar com você sobre isso, não só pela nossa distância agora, mas porque eu também... não sei. Acho que eu não 'to mais no clima pra namorar. Você sabe, eu sempre dei muita importância à minha vida acadêmica e profissional e essa é a minha hora de trabalhar duro na faculdade. E, aliás, você foi um ótimo namorado."

Expirei um riso apático, mal acreditando no que ela havia acabado de dizer.

"Eu também acho que ficamos melhores sendo amigos do que namorados." Confessou ela, a voz pouco falha, embora sincera, acabava por também me afetar. Entretanto, não o suficiente para que eu sentisse mais do que somente um leve aperto no coração. "Eu te amo, Brandt, mas te amo como um irmão que eu nunca tive. Fico feliz por estarmos lidando com isso tranquilamente, como sempre."

"Eu também." Suspirei, olhando ao redor mais uma vez apenas para conferir se a pessoa mais próxima ainda estava a vários metros de distância.

"Na próxima vez que vir a Vegas, poderíamos sair juntos, como amigos."

"Por que não?" Também sorri minimamente ao sentir um alívio enorme tomar conta de mim aos poucos. "Obrigado por sempre estar comigo, mesmo. Você merece tudo de melhor."

"Eu que devo agradecer por confiar em mim o bastante para termos essa conversa sem choro ou discussões, e por sempre ter sido meu melhor amigo." Respondeu. Então, após uma longa pausa, despediu-se. "Até à vista, Brandt."

"Até, Ivy." Assim que desligamos, eu me senti totalmente de bem comigo mesmo novamente.

Sem um coração partido ou ressentimentos. Sem uma briga. Sem um motivo para pensar que eu era a pior pessoa do mundo. Tudo havia corrido bem melhor do que eu esperava, mas eu ainda precisava esperar um tempo antes de dar minha resposta a Connor, por isso desliguei o celular para evitar possíveis incômodos e voltei à fraternidade.

BRANDT - Amor e SubmissãoOnde histórias criam vida. Descubra agora