10 | Cara ou coroa

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Brandt

Relaxado, como se todos os meus problemas tivessem virado nada mais que poeira, eu me aconcheguei no sofá da sala de Connor enrolado em um cobertor que amenizava a pancada da repentina queda de temperatura provocada pela chuva no início da noite.

Ele veio da cozinha, por trás do sofá, e acabou se sentando ao meu lado após ter estendido uma barra de chocolate em minha direção, a que eu aceitei sem sequer pensar. Eu não estava com fome, tampouco era adepto das comidas doces, mas não hesitei na primeira mordida. O doce derreteu na minha boca tão rápido quanto Connor se aproximou mais de mim, levando seu braço sobre o encosto do sofá atrás do meu pescoço.

"Isso é ainda mais estranho do que gostar de apanhar." Eu ri nervosamente antes de morder outro pedaço do chocolate.

"Por quê?" Connor, por sua vez, parecia estar se divertindo com a minha cara de constante questionamento para a TV ligada em um volume baixinho bem em nossa frente, embora eu não estivesse realmente prestando atenção no programa apresentado.

"Primeiro, você me bateu; segundo, eu estava gostando e até sujei sua almofada; terceiro, você passou pomada na minha bunda, me enrolou num cobertor e me deu uma barra de chocolate. Isso sim é uma sucessão de fatos estranhos que eu não deveria estar vivendo, mas que mesmo assim não consigo largar." Respondi, recuperando meu fôlego no final.

Tudo que Connor fez foi passar os olhos em mim de cima a baixo e expandir um sorriso totalmente desavergonhado para o qual eu acabei revirando os olhos. Ele parecia ter duas personalidades em um corpo só, como duas faces de uma mesma moeda. Cara e coroa. Dominante e plácido.

"Espero mesmo que goste de revirar esses olhinhos." Ele murmurou, quase inaudivelmente.

"O quê?" Sem entender, franzi uma sobrancelha ao olhá-lo.

Connor tombou a cabeça para trás, deitando-a no encosto do sofá, e riu mais uma vez ao olhar para o teto como se mil cenas estivessem passando por sua cabeça antes de me fitar de rabo de olho, ainda na mesma posição. Ele sutilmente balançou a cabeça em negação.

"Não é nada, esquece." Disse, suspirando como se estivesse extasiado. "E além do mais, o que você pensou que eu faria depois de deixar sua bunda vermelha?"

Imediatamente senti um formigamento subir pelas minhas bochechas com o acúmulo de sangue que com certeza também tingiu meu rosto de vermelho. Entreabri a boca à procura de uma resposta sensata, mas eu sequer havia pensado em algo que não definisse aquilo só como algo carnal, ainda que não envolvesse sexo.

"Eu não sei direito." Respondi, dando de ombros levemente, um pouco envergonhado quando voltei a olhar para a TV e a comer o chocolate. "Pensei que fosse só isso, igual à última vez."

"Não é assim que funciona." Ele começou, então voltei meu olhar ao dele. "Não fiz isso no outro dia porque achei que não precisava, já que foi só uma brincadeirinha. Mas hoje era necessário."

"O que quer dizer?"

"Quando você entra em uma cena, seu cérebro manda uma enxurrada de hormônios do prazer, e quando a cena acaba, é lógico que essas endorfinas têm que voltar ao nível normal. Isso pode causar um estado depressivo leve. O aftercare serve quase como uma prevenção ou freio para esse estado que se chama subdrop." Explicou, como se fosse algum tipo de profissional da neurociência.

Não era tão difícil de entender, porém mesmo assim entreabri a boca e olhei para o chão com os cantos dos olhos, ainda processando o que ele havia dito.

"Isso acontece com frequência?" Perguntei, com o mesmo olhar de sobrancelhas abaixadas.

"Depende da pessoa, mas não é tão comum. Acho que você não terá tantos problemas com isso, não precisa se preocupar."

BRANDT - Amor e SubmissãoOnde histórias criam vida. Descubra agora