04 | O cerco de Connor

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[Sábado, 07 de Setembro de 2019]

Na reunião da fraternidade, todos os rapazes se juntaram na sala de convivência.

Nós nos distribuímos irregularmente pela sala. Alguns ficaram sentados no chão, outros amontoados nos vários sofás e uns poucos corajosos de pé, inclusive Anderson, que era o braço direito do presidente da DKE, o chamado Harry Carson.

O projeto que Carlo havia mencionado mais cedo foi discutido. Por unanimidade veio a aprovação, com algumas alterações. A arrecadação de alimentos para o orfanato seria feita através de uma espécie de corrida solidária. O preço para cada inscrição seria qualquer alimento de longa validade. A data já havia sido definida para dali vinte e dois dias, em um domingo. O trajeto para a corrida seria planejado no dia seguinte e o evento começaria a ser divulgado já a partir de segunda-feira. Carlo pareceu ainda mais empolgado com a ideia, e sua animação acabou passando para os outros rapazes.

Após encerrada a reunião, Patrick, Carlo e eu fomos a pé ao Grad Center Bar, um barzinho que ficava dentro do terreno da própria Universidade onde todos os estudantes da Brown já possuíam filiação. Aqueles que não eram estudantes, porém, poderiam entrar se pagassem uma modesta taxa anual de trinta e cinco dólares.

Graças à flexibilização nas leis federais quanto ao uso de álcool no início do ano, aqueles que fossem maiores de 18 anos poderiam comprá-lo legalmente em Rhode Island, assim como em alguns outros estados do país que aderiram à redução da idade mínima para consumo.

Estava até um pouco movimentado, no entanto não tão cheio. Não sem antes pegarmos algo para beber, conseguimos nos sentar a uma das mesas de quatro lugares sob o teto preto cujas luzes quadradas em vermelho e verde iluminavam apenas o suficiente para que ninguém esbarrasse na mesa de ninguém e derrubasse as bebidas. Uma música ambiente baixa também tocava pelo salão.

Eu escolhi um drink que curiosamente se chamava Brown University enquanto Carlo escolheu uma cerveja e Patrick, um Bloody Mary.

Carlo, o espanhol de Sevilha, ainda estava empolgado no momento em que nos sentamos juntos e além disso, pela primeira vez, eu ouvi mais que três frases inteiras saírem da boca de Patrick.

"Eu mal posso esperar pra esse semestre acabar." Comentou Carlo quando o assunto chegou às aulas, logo bebendo de sua garrafinha de cerveja. "Sei que é só o começo, mas Dios mio, não pensei que seria tão difícil. Pelo menos, acho que 'to melhor aqui do que estaria se tivesse ficado na Espanha."

"Você não veio por causa dos seus pais?" Perguntou Patrick, aparentemente tão curioso quanto eu, ao virar seu par bicolor de olhos na direção de Carlo, ainda com o copo de bebida próximo à boca.

"É complicado, caras." Ele suspirou profundamente, murchando os ombros ao apoiar o cotovelo sobre a mesa e tomar mais um gole da cerveja. "Não sei se vocês sabem, mas minha família adotiva é famosa em Sevilha. Já até tentaram sequestrar minha mãe em troca de dinheiro e por pouco não conseguiram. Eles acharam que eu poderia ser um próximo alvo, e fácil, já que começaria a ir às aulas todos os dias, então me recomendaram fazer o teste de admissão e aqui estou eu, mandado para o outro lado do oceano pra não correr perigo."

"E por que se sente melhor aqui do que se sentiria na Espanha?" Perguntei após o drink com gosto de laranja e álcool descer pela minha garganta.

"Ah, é bem simples. Aqui eu tenho amigos que vou levar pra vida toda. Um irmão nunca deixa de ser um irmão." Respondeu, trocando olhares entre Patrick e eu. "Além disso, não tenho que me preocupar com cobranças. Eu amo minha família, mas também preciso de um tempo só meu, e eu não tinha isso morando com eles."

BRANDT - Amor e SubmissãoOnde histórias criam vida. Descubra agora