16 | Amar não é fácil

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[Sexta, 04 de Outubro de 2019]

Brandt

"Que semana de... merda." Resmungou Luca ao tropeçar na calçada pela qual Anderson e eu também andávamos após termos feito os nossos resumos da semana.

A sombra laranja que se esparramava pelo céu no fim daquela tarde ligeiramente fria de sexta-feira nos arredores da Brown, por onde dávamos um passeio de descontração, era como o nosso tão aguardado anúncio dos dias de fim de semana, pois eu mesmo não pensava que o primeiro mês na Universidade fosse nos cobrar tanto.

"Nem me fala. A temporada de basquete começa logo, e mais uma vez devemos ver aqueles engomadinhos de Yale com as mãos no troféu do primeiro lugar da Ivy League." Com visível escárnio, Anderson chutou uma pedra do caminho.

Luca Mattarella, o loiro cacheado nascido nos Estados Unidos, filho de pais italianos, ergueu a cabeça para o céu e respirou fundo, aparentemente à beira de um surto psicótico quando subitamente começou a rir. Anderson estreitou os olhos na direção dele, no entanto não disse nada. Eles conversavam desde sempre na DKE, pois entraram na fraternidade juntos, no mesmo semestre.

"Desculpem, é só o nervosismo. Eu juro que não sou louco." Justificou Luca logo depois, virando-se para Anderson. "Você e Harvey não são os maiores cestinhas da Brown? Cadê a confiança?"

"A confiança já foi pro ralo." Confessou Anderson, passando uma mão pelo rosto em desânimo. "Harvey e eu só somos bons se jogarmos juntos, mas eu não sei o que anda acontecendo. Ele não 'tá agindo como antes, tem alguma coisa errada."

"Eu mal tenho visto Harvey na casa e queria perguntar o porquê do sumiço." Comentei, também me virando na direção de Anderson, que andava entre Luca e eu.

O loiro mais alto não respondeu até encontrarmos um lugar para nos sentarmos no meio-fio da rua sem movimento algum, pouco distantes da luz amarelada do poste de iluminação. Anderson parecia um tanto perturbado ao apoiar os braços nos joelhos e mirar o asfalto com os olhos azuis em uma careta pensativa.

"Eu não faço ideia. Tudo 'tava indo bem até uns dias atrás, mas ele foi parando de falar comigo com o tempo, e eu não fiz nada pra merecer isso. Harvey é meu apoio e eu sou o dele, não podemos jogar separados no torneio."

Luca bufou, enfiou a mão no bolso da bermuda de praia e de lá puxou um isqueiro de metal e um saquinho de plástico preto de onde tirou um rolinho de papel pardo.

"Se importam?" Perguntou enquanto tirava o boné para deixá-lo de lado na calçada.

Anderson deu de ombros, e eu também. Luca se distanciou de Anderson, acendeu o baseado e fechou o isqueiro elegantemente, voltando-o ao bolso. Ele assoprou a fumaça que se dissipou pelo vento na direção oposta à nossa, então fez uma expressão aliviada, contrária à que Anderson mantinha.

Não era necessário mais que dois neurônios para saber que a falta da presença de Harvey estava desestabilizando meu big bro, pois suas olheiras aparentes eram um forte indicativo disso. Pelo que eu percebi, ambos começaram a se distanciar justamente a partir do dia que Harvey ousou beijar Anderson, o que pode ter piorado depois do dia em que eu acabei flagrando os dois no quarto.

"Sabe o que eu acho?" Comecei em dado momento, o que atraiu a atenção dos dois. Eu, entretanto, não tirei o olhar do asfalto sob meus pés. "Harvey gosta de você, só não admite."

"E parece que você também 'tá na dele." Completou Luca depois de outra tragada, já com um humor estranhamente mais leve. Anderson imediatamente trocou olhares entre nós dois antes de abaixar a cabeça de volta e respirar fundo.

BRANDT - Amor e SubmissãoOnde histórias criam vida. Descubra agora