Stroud
Condado de Gloucestershire
Terça-feira, 16 de setembro de 2014
Manhã, 06h02
O som dos monitores ressoava pelas paredes apáticas no quarto escuro, as janelas do hospital ainda fechadas, a mãe de Lenny Lover sendo consolada porta a fora por duas enfermeiras altas, que a acolhiam com dedos magros.
— Você não podia tê-la deixado quieta, não?
A Voz dentro do quarto sabia que não teria resposta, porém não se importou com isso. Os tubos desciam pela boca de Lover, o rosto inchado por debaixo das faixas, o peito movendo-se com dificuldade, de maneira tão lenta que ninguém notaria caso não centrasse seus olhos naquele amontoado de carne prestes a morrer.
Sim.
Lenny Lover estava prestes a morrer.
E a Voz teria certeza disso.
— Você tinha de querer superar Cleanwater. Tinha de querer humilhá-la e fazê-la voltar do buraco de onde saiu. — Um esgar. Os lábios se retorcem conforme as mãos apanham uma seringa por debaixo da roupa. — Agora, veja onde isso nos levou...
Uma pausa. Os receptores soam frios, artificiais, não parecem que realmente marcam as frequências cardíacas de alguém ainda vivo.
— Não queria que chegássemos a esse ponto, ainda há tanto a ser feito... — A Voz ergueu a seringa, assistindo uma pequena gota formando-se na ponta de sua agulha conforme impulsionava o êmbolo para frente, apenas o bastante para se certificar de que tudo funcionasse. — Porém, parece que Deus me quer trabalhando solo.
A risada travou em sua garganta.
— Não deveria ter pego o computador, eu tinha planos para ele, tinha planos para nós, mas seu orgulho se sobrepôs.
A Voz aproximou-se do leito. Um acesso cravava a carne da mão dele, a pele tão fina que se podia quase ver a agulha por baixo; seu rosto vazio - inconsciente.
— Então me diz: há orgulho em estar desse jeito?
Uma fungada. O monitor apita. O relógio tiquetaqueando na parede oposta. A Voz sabe que o tempo é precioso. Há outra pessoa em sua visita, usando o banheiro, movendo o papel-higiênico.
— Eldric Heartland era a sua maior ameaça, por estar ao seu lado. Agora, você tornou Cleanwater a minha.
Delicadamente, a agulha adentrou a veia de Lenny Lover, tão vagarosa e sutil que era curioso de se pensar que também era mortal.
— Eu poderia colocar apenas algumas gotas de ar em suas veias, mas eu encontrei algo melhor, que vai te guiar por um sono profundo, mas não garanto que não vá doer.
A Voz umedece os lábios e sente um nó em sua garganta.
— Na verdade, vai doer sim, não tem por que mentir.
Lenny não reage. Os olhos são apenas duas faixas finas em meio ao inchaço, como se fossem pequenos cortes de papel sobre a pele. Como se ele nunca tivesse tido olhos, apenas aquele amontoado vermelho e roxo.
— Nós dois sabíamos que nossa hora chegaria, cedo ou tarde. — A Voz sentiu o êmbolo alcançar seu máximo a tempo de guardá-lo novamente nas obras de sua roupa. — Mas eu vou continuar o que começamos, não se preocupe.
A porta do banheiro se abriu e uma nova voz invadiu o quarto, assistindo à figura ao lado do leito ao dizer:
— Acha melhor chamarmos a mãe do Sr. Lover para fazer a prece?
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Passado Perverso (DEGUSTAÇÃO)
Mystery / Thriller*COMPLETO NA AMAZON Lucas Yard tinha apenas dez anos quando foi encontrado morto em uma caixa de areia, mas como se não fosse o suficiente, uma segunda criança desaparece. Insatisfeita com o trabalho da polícia local, Harley Cleanwater é contratada...