Capítulo XIX

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*Atenção: este capítulo contém severos gatilhos. Leia com moderação e cuidado, distraia-se caso ache necessário. Espero que gostem.


Domingo, 14 de setembro de 2014

Manhã, 06h11

Assim que Eldric chegou, ele soube que havia algo de errado, desfazendo seu sorriso e substituindo-o por uma compleição séria conforme Harley Cleanwater demonstrava-se impassível, de braços cruzados, aguardando-o na entrada de Painswick, assim como ela pediu em uma mensagem digitada às pressas por entre a madrugada.

— Você é péssima de se conversar pelo celular, sabe disso, não é?

Harley não o respondeu.

— Te liguei duas vezes depois daquela mensagem, por que não retornou?

A cabeça da mulher batia na altura do peito dele conforme Eldric se aproximava, a placa da cidade um tanto enferrujada, a tinta verde e branca já com algumas linhas descascadas, como se algum animal as tivesse arranhado.

— Harley, o que houve?

O rosto dela se ergueu, sem óculos escuros, naquele dia, apesar da vista ainda estar dolorida. Cleanwater queria que Eldric visse o quanto era duro e verdadeiro o que viera dizer.

— Eu acho que estraguei tudo.

Ele franziu o cenho.

— Como assim? Você me disse ontem que tudo estava bem. — O rosto do homem pareceu impacientemente confuso, os olhos fuzilando-a com apreensão.

— Porque, se eu tivesse dito o contrário, nada iria mudar. Você estava longe e não tinha o que fazer...

Então, da forma mais inesperada possível, Eldric apenas a abraçou, o rosto dela colocado contra seu peito firme, os olhos marejados na direção da cidade que, agora, lhe responsabilizava por tudo.

— O que aconteceu? — sussurrou ele já sentindo a desgraça que estava por vir.

...

Ela preferiu entrar no carro para mostrar a gravação da entrevista de Nathan Dills no programa de rádio do Sr. Kelloway e, assim que os homens terminaram de falar, Harley deu pausa no áudio e sorriu de forma triste.

— Todos já estão me culpando... — falou com a voz baixa, o ar quente do carro acolhendo o rosto frio. — Eu queria essa divulgação, Eldric, mas não deste jeito, não...

— ... sobre você — completou o homem e os olhos dela o encararam de esguelha antes de ela pentear seus cabelos para trás. — Harley, o que achou que ia acontecer?

— Não sei.

— Mentira — disparou o homem virando-se no banco do motorista, a cabeça sacudindo na direção do vidro, negando-se a acreditar no que ela disse.

— Eldric...

— Harley, vou te falar algo e quero que escute com atenção. — Seus olhos não piscavam e pareciam não se incomodar em encará-la. — Desde que chegou aqui, eu a vi planejar, eu a vi elaborar os suspeitos e a vi investigando, então não me venha com essa merda de "eu não sabia", porque não tenho como acreditar nisso.

Ela respirou profundamente e sentiu as palmas das mãos transpirarem conforme tomava forças para perguntar:

— E o que você quer que eu diga?

Ele bufou, irritadiço.

— Porra, você é brilhante, é óbvio que havia pensado em algo!

— Sim, eu pensei que Elena e Mary iriam querer essa divulgação para acelerar todo o caso dos filhos delas — admitiu em uma frase rápida que, instantaneamente, puxou outra. — Também achei que aquele merda de jornalista iria responsabilizar a polícia, por tudo, não eu!

Passado Perverso (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora