Capítulo 9

4.2K 111 11
                                    

Continuamos lá por mais algumas horas, o tempo passou sem que percebêssemos. Decidimos pedir algumas batidas durante o rodízio e ela me contava de como estava feliz por ter passado de ano, e que esperava a resposta da faculdade que ela cursaria medicina. Escutei tudo com muita atenção que nunca havia escutado alguém antes.

- Mas você acha que passou no vestibular? - perguntei e ela tombou a cabeça pro lado.

- Hmm, eu não sei. Eu acho que fui bem e é medicina, muito difícil passar de primeira assim né. Já estou vendo alguns cursos pré-vestibular para fazer ano que vem caso eu não passe - respondeu.

- Acho que você passa sim, o colégio que você estudava prepara muito bem, né?

- É, sim, realmente se eu não passar é por causa que não me esforcei tanto. Aquele colégio dá todas as ferramentas que qualquer um precisa pra qualquer curso - respondeu rindo e continuou - é o que meu pai sempre fala.

- Seu pai ficaria bravo se você não passar de primeira?

- Não, ele gostaria muito que eu passasse. Mas ele é muito legal, não é rígido assim não. - sorriu - ele mora no Nordeste a trabalho, qualquer dia você pode viajar comigo pra lá. Sempre levo algumas amigas.

Sorri e acenei que sim com a cabeça. A tela do meu celular que estava em cima da mesa acendeu e vi que já se passava da 1hr da manhã. O restaurante também era um barzinho e não fechava tão cedo.

- Já tá tarde, a sua mãe não tá preocupada? - perguntei.

- Não, eu avisei que ficaria até tarde - riu - qualquer coisa ela me liga. E a sua?

- Bom, como eu não to mais morando lá, ela acha que eu estou em casa agora - ri.

Eu contei brevemente que não estava mais com os meus pais mas não contei o porquê e nem como andavam as coisas. Algo que achei que se ela quisesse saber, perguntaria.

- Ahh - riu - mas por que não tá mais morando com eles? Ainda falta o terceiro ano pra você.

- Porque - mordi minha boca por dentro antes de continuar - meu pai não gosta que eu goste mais de meninas do que de meninos. - dei risada e abaixei a cabeça antes de ver a reação dela.

- Nossa - ela riu comigo - seu pai teve coragem de te tirar de casa por isso? - deu ênfase no isso.

- Não exatamente. Ele disse que pra eu continuar lá eu tinha que mudar - levantei minhas mãos atadas - e bom, isso não é algo que eu posso mudar.

- Entendi. Foda né. Mas agora você mora com quem? Eu não entendi muito bem quando contou por mensagem.

- To morando com uma amiga minha que faz faculdade e mora sozinha num apartamento. Meus pais me dão dinheiro e eu pago uma parte do aluguel e pá e nós nos damos bem morando juntas.

- Ah sim - sorriu.

Pedimos mais uma batida e comemos mais um temaki antes de sairmos.

- To muito cheia, quero ir rolando - ela disse enquanto andávamos até a calçada.

- Eu iria também, mas seríamos assaltadas - falei rindo.

O táxi que já havíamos chamado chegou.

- O hotel que você me disse é caminho de casa então te deixo lá.

O taxista era bem simpático e tentou puxar conversa com nós no caminho. Quando chegamos na frente do hotel dela, ela foi pegar o preço da corrida na carteira.

- Não precisa, eu iria fazer esse caminho de qualquer jeito.

- Ai claro que precisa - foi dar o dinheiro pra ele.

- Não, não precisa. - empurrei a mão dela de volta. Ela bufou e virou os olhos enquanto eu ria.

- Então tá né. Amanhã eu te chamo pra ver se você pode sair comigo. - por conta da pouca luz que tinha na entrada do hotel, conseguia ver seus olhos brilhando.

- Mas é claro que eu posso. Vou ver o que tem pra fazer amanhã depois que formos à praia e se não tiver nada, vou chamar uma galera lá em casa. Te deixo avisada - sorri e ela sorriu mais uma vez antes de me envolver em um abraço.

Fechei meus olhos na tentativa de eternizar até que o taxista ligou o carro de novo. Ela deu um sorriso meio bêbado de novo antes de beijar meu rosto e sair. Fiquei observando-a pela janela do carro e ela ficou parada na frente da porta giratória assistindo o carro ir embora.

O taxista foi conversando comigo no caminho mas eu não conseguia prestar atenção e não respondia nada com precisão.

Quando ele estacionou na frente da portaria do prédio, eu o paguei e subi. Foi um longo caminho do elevador até o andar do meu apartamento e quando cheguei me apressei para destrancar a porta. A televisão tava ligada e só consegui identificar o cabelo da Camila, que estava em cima de alguém.

- Vocês duas de novo? - falei um pouco alto caso elas estivessem dormindo e ri - tá ficando previsível.

Camila saiu de cima de Graziela e deitou do lado dela no sofá.

- Como você é estraga prazeres - Camila reclamou.

Grazi era a vizinha que chamamos pela primeira vez aqui para Camila não ficar de vela. Acontece que elas gostaram mesmo de se divertirem juntas e virou um hábito se verem sempre que podiam.

- Seu namorado não liga de ficar sozinho de sexta, Grazi? - perguntei tirando minhas sapatilhas e sentando no outro sofá.

- Ele saiu também - riu.

Graziela tinha um relacionamento aberto de anos. E mesmo que fosse um relacionamento aberto, eu não via Camila se beneficiando disso se ela se apegasse à Grazi.

- Onde você tava e por que voltou tão cedo? - Camila perguntou escolhendo outro filme.

- Tava jantando - elas me olharam com as sobrancelhas arqueadas - rodízio japonês. Depois vim direto pra cá.

- Você comeu rodízio japonês sozinha? - Camila começou a rir - que solitária!

- Não af.

- Você resolveu ir com a Marina?

Eu tinha contado que Maju havia insistido para ela nessa tarde enquanto limpávamos a casa.

- Não. Eu fui com a Rafaela, de São Paulo, que eu te contei.

Rafaela era mencionada em algumas conversas com alguns amigos mas nunca os sentimentos que eu tinha por ela.

- Aquela mina gata pra caralho? - ela perguntou entusiasmada - nossa, você tem que apresentar.

- Tem alguma coisa amanhã? - perguntei depois de rir levemente para esconder o ciúmes que o comentário dela causou em mim.

- Tem um luau vagabundo da minha faculdade que eu to vendendo convite. É de um grupo que nunca fez então não espero muito mas é open bar de bebida boa.

- Então eu quero dois convites, te pago amanhã - eu disse levantando depois de ver que ela escolheu para assistir As branquelas. Eu adoro o filme mas se escolheu esse filme, não vai ser pra assisti-lo.

- Hmmm a Gabi vai amar saber que você vai - ela disse dando ênfase no amar - ainda mais sem a Isa.

- Eu não pretendo pegar ela - eu respondi antes de caminhar até o corredor - tchau Grazi.

_________________

Tá meio curto mas porque eu queria postar logo. Não demoro para postar o próximo mas não deixe de comentar, por favor!
Obrigada por ler

SinfulOnde histórias criam vida. Descubra agora