Sozinho

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Berço da independência americana e das melhores e mais respeitadas universidades do mundo, a capital do estado de Massachusetts, é o destino dos sonhos de grande parte dos estudantes que desejam fazer uma universidade no exterior.

Mas as razões para isso, vão muito além da excelência acadêmica de suas renomadas instituições e incluem, também, a beleza da paisagem, a tranquilidade e a segurança das ruas e a alta qualidade de vida do local.

Já se passaram vários meses desde que eu decidi me formar em medicina. Pensei que as coisas seriam difíceis, mas Jin facilitou as coisas para mim. Mesmo que eu tenha insistido a ele que pagaria o curso com o meu próprio esforço, ele disse que tinha dinheiro o suficiente para me ajudar. Claro que achei estranho por ele ter tanto dinheiro assim, até que ele me explicou que a maior parte disso vinha do médico que me ajudou enquanto eu estava lá no manicômio, que por sinal, eu nunca mais vi.

Chegamos até a ter uma discussão sobre isso, já que ele se negava a me dar mais deyalhes. Então depois de muitas brigas e teimosias da minha parte, acabei aceitando o que ele me ofereceu. Eu só não imaginava que iria estudar em um lugar tão chique e renomado assim.

Inaugurada em 1636, a Universidade de Harvard, é a instituição de ensino superior mais antiga dos Estados Unidos. Ao longo da história, já passaram por lá mais de 320 mil estudantes, incluindo presidentes americanos como John F. Kennedy e Barack Obama, grandes nomes da tecnologia como Bill Gates e Mark Zuckerberg, e dezenas de ganhadores do Prêmio Nobel. Atualmente, a instituição conta com mais de 20 mil alunos.

Integralmente, o custo anual para estudar está em $46,340, mais $4,080 em taxas e de US$ 800 a US$ 1.200 em livros. Além disso, o seguro de saúde é exigido a um custo de US $ 3.364, incluindo ainda moradia e transporte. E muito dinheiro né? E Jin tinha muito mais do que isso. Depois que nós fizemos a minha matrícula, me mudei para lá no dia seguinte.

A Universidade têm diversos dormitórios, que você pode escolher ficar sozinho ou dividi-lo com alguém. Optei pela primeira opção. Tive um ótimo primeiro dia de aula, gostei muito do ambiente e os alunos também pareciam serem muito legais. Claro que havia os populares que se acham, mas não me importei muito com isso. Fiquei apenas no meu canto, fazendo o possível para não desistir de tudo e voltar para os braços de S/N.

Sei que eu devo melhorar. Sei que eu devo diminuir essa minha extrema dependência em relação a ela e como é algo extremamente difícil, terei que me esforçar muito.

— Alô? — Atendi o celular enquanto vestia o uniforme. — Desculpa não ter atendido o celular ontem. Acabei dormindo muito cedo.

Jin suspirou, aliviado por ouvir minha voz.

— Tudo bem, está com muitos trabalhos?

— Muito mais do que você pode imaginar.

Vivo ficando várias noites sem dormir, só para conseguir terminar as tarefas.

— Fico feliz em saber disso. Sinal que a sua mente está realmente se ocupando com outras coisas.

— É, mas os estudos são muito pesados! — Ajeitei a gola da camisa com uma mão e meus cabelos com a outra. A ligação está no viva voz. — Os professores também são bem exigentes e há cheio de populares por aqui. Devo ser considerado um nerd.

Não que eu me incomode com isso.

— Bobo é quem faz bullying com os nerds. Eles são mega inteligentes!

Isso é verdade.

— Mas eaí, me conte as novidades. — Pediu ele. Sua voz está calma. — Está gostando de ficar aí? Já fez algum amigo?

Amigos?

Bem que eu queria ter um. Me sinto muito sozinho aqui.

— Claro! — Decidi mentir. — Conheci vários caras legais, não se preocupe. Não me sinto sozinho e muito menos abandonado. Estou muito feliz por estar aqui.

E de fato, eu realmente estou.

Estou aqui para mudar de vida. Estou aqui para me tornar alguém melhor. E os estudos, é o caminho certo que eu devo seguir para conseguir atingir os meus grandes objetivos.

— Que bom, assim fico mais aliviado.

— E você? — Perguntei, sentando-me na cama. — Como vai o trabalho?

— Normal. Tive outro plantão ontem à noite e fiz uma cirurgia muito difícil no coração. Fiquei com medo de perder o paciente, mas no final tudo deu certo.

Ser médico deve ser um trabalho muito difícil.

— Que bom, parabéns por salvar mais um vida.

— Espero poder te dizer essas mesmas palavras algum dia.

Suas palavras me tocaram.

— Eu também Jin. — Por alguns segundos, me recordei do todo o meu monstruoso passado. — Eu também...

— Está indo para a aula agora?
— Sim, daqui a pouco.

— Ok, irei te mandar mais dinheiro no final do mês. Me avise se precisar de alguma coisa.

Tão cuidadoso.

Adoro isso nele.

— Pode deixar! — A linha ficou muda por três segundos. — Jin?

— Sim?

— Ainda não vai me dizer o por quê daquele cara ainda está me ajudando? — Pergunto isso toda vez que ele me liga. Preciso saber. — Cá entre nós, no mundo de hoje, ninguém ajuda ninguém de graça. Ainda mais desse jeito. Ele já fez tantas coisas por mim e até hoje eu ainda não sei nada dele. Nem mesmo o seu nome. Por que continua me escondendo isso? Por que você não pode me contar?

— Porque eu ainda não tenho permissão para isso, Jungkook. — Seu tom de voz mudou. Ele odeia quando eu pergunto sobre esse assunto. — Mas calma, tenha paciência, logo logo você irá saber os motivos dele.

Quanto suspense.

Por que ele não abre o jogo logo de uma vez? Odeio enrolação!

— Tá né, parece que eu não tenho escolhas mesmo. — Bufei. — Agora já irei desligar, tenha um bom dia. Até amanhã.

— Até e cuide-se. Ainda quero conhecer os seus amigos.

— Claro! — Soei animado. — Isso seria muito legal!

— Muito mesmo!

Sorri ao desligar.

Gosto muito de falar com ele, já que ele é literalmente a única pessoa que eu tenho na minha vida, mas às vezes, eu acho que ele se preocupa demais. Tudo bem que ele quer me proteger, mas ele deveria viver mais a vida dele, ao invés de ficar se preocupando tanto assim com a minha. Já sou um homem adulto e agora, finalmente estou indo para o caminho certo.

Ainda faltam trinta minutos até o início da aula, então aproveitei para fazer algo que eu já deveria ter feito há muito tempo. Eu apareci na vida da S/N do nada e depois do que aconteceu entre mim e o jimin, eu desapareci sem deixar satisfações.

Não vou negar. Claro que eu tive vontade de desistir de tudo e continuar focando só nela e na nossa filha, mas o meu desejo de mudar me tornou uma pessoa mais forte.

Sinceramente, espero que elas estejam bem depois de tudo o que aconteceu, principalmente a minha filha. Ela ainda é só uma criança.

Tomei atitudes muito erradas. Antes de vir encontra-las, eu deveria ter feito o que eu estou fazendo agora. Deveria ter me reerguido, ao invés de aparecer aleatoriamente na vida delas daquele jeito e o pior, eu ainda tentei me matar. E eu ainda tenho todos os motivos do mundo para querer fazer isso, porém, não vou me deixar abater.

Não vou desistir tão facilmente assim.

S/N deve ter achado muito estranho o meu sumiço, então, aqui agora, sentado na escrivaninha perto dos meus livros de estudo, escrevo uma carta. Sim, uma carta. Preciso me abrir com ela e dizer as coisas que eu tenho mente.

Preciso abrir o meu coração.

Preciso me desculpar. 

Cartas para um Estranho | Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora