Recebendo a ajuda de "estranhos"

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Jeon Jungkook

EUA, Boston

- Conseguiu encontrar novas informações? - Perguntei novamente, inquieto.

- Você já me perguntou isso mais de dez vezes só hoje, Jungkook. Essas coisas não são tão simples assim e levam tempo, então dá pra você se acalmar? - Franziu o cenho, rindo da minha expressão de aborrecimento. - Relaxa, cara.

Já fazia mais ou menos dois meses desde que eu fui liberado daquele manicômio. Pois é, pensei que isso levaria mais tempo, mas ele me liberaram muito mais rápido do que eu imaginava. E não reclamo disso, já que eu estava vivendo um verdadeiro inferno lá dentro! Eu já sabia que lá seria horrível, mas não imaginei que fosse em um nível tão extremo assim. Lá as pessoas eram frias e cruéis. A definição de humano não se aplicava lá dentro. Você é tratado bem pior do que lixo. Passei por coisas que tenho até medo de contar de tão traumatizantes que elas são. Agora eu entedia o porquê de várias pessoas terem cometido vários suicídios lá dentro. Se matar era muito melhor do que continuar naquele lugar podre. Consegui ser forte o suficiente nisso, mas isso não foi por mim. Havia algo que eu ainda queria ver antes de morrer, então mesmo sofrendo e sendo torturado como um condenado, eu me mantive sóbrio e firme. Quase enlouqueci. Quase morri várias vezes nas mãos daqueles "médicos".

Foi quase.

Por um triz.

Os pacientes são considerados indesejáveis, são os que cometeram crimes, os mais excluídos da sociedade e os que sofrem mais preconceitos. Eles são mais mal tratados do que na prisão, eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouquinho de palha. Isso mesmo, palha. Nada de roupas. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares sujos e infectados. Eu vi e fui um deles. Eu vi e sofri como eles, apenas com uma mera chama de esperança no meu coração.

As péssimas condições de higiene, os instrumentos cirúrgicos que não eram devidamente esterilizados e os maus tratos também levaram à morte de mais de centenas de pessoas. As cartas de S/N me ajudaram muito nesse terrível momento, já que eram literalmente a única coisa que eu tinha. E vivendo naquele lugar, eu percebi que não era e estava muito longe de ser a única pessoa abandonada nesse mundo. Havia casos bem piores do que o meu.

Muito piores!

Existem algumas histórias sobre manicômios que são um tanto macabras. Antigamente, os tratamentos usados com as pessoas que eram ditas loucas, eram muito cruéis e desumanos, e por isso ficaram marcados na história. Torturas dos médicos com os pacientes e lendas de assombrações sobre manicômios são muito comuns, e são até inspiração para filmes e seriados. Mas pelas coisas que eu passei, percebi que quase nada mudou comparado a antigamente, já que nós éramos: Presos nas camas como castigo, presos em jaulas, tratados com choques, agredidos fisicamente e psicologicamente. Isolados e deixados nus, esquecidos pelos amigos e familiares.

A única coisa que eu não sofri, foi a lobotomia, que é a retirada de uma parte do cérebro. Cada hemisfério do nosso cérebro é dividido em quatro partes ou lobos que são chamados frontal, occipital, parietal e temporal. A retirada do lobo pode ser total ou parcial. Em foi usada em pacientes com certos tipos de doenças mentais como forma de acalmá-los.

Em meio a tanta desgraça, vocês devem estar se perguntando como diabos eu consegui sair antes do tempo, certo? Bem, digamos que entre tanta escuridão, uma luz se acendeu no final do túnel, pois dentre tantos médicos ruins, um deles acabou se tornando o meu amigo. Ele nunca me disse o seu nome, mas demonstrou sentir bastante empatia comigo e com o meu caso. Ele até me deixou comer várias refeições dignas de vez em quando, o que ajudou a criar um pequeno laço entre nós. Ele que me consolava quando me pegava chorando abraçado as cartas da minha amada, lamentando em como eu queria ter ficado ao lado dela e do meu filho, ou filha. Ele compreendia a minha dor e um dia, depois de se tornar o meu médico particular e me livrar das torturas, ele prometeu que me ajudaria a recomeçar uma nova vida.

Cartas para um Estranho | Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora